RIO DE JANEIRO - Acompanhei a carreira de Carlos Alberto Torres desde que ele foi, se n�o me engano, pentacampe�o dos juvenis do Fluminense. Sempre achei estranho que todos os atletas, principalmente os jogadores de futebol, tivessem um nome reduzido a um s�: Garrincha, Pel�, Didi, Rom�rio, Neymar, etc.

Curiosamente, desde garoto, Carlos Alberto Torres n�o era Carlos, nem Alberto, nem Torres. Era e sempre foi, at� o fim, Carlos Alberto Torres. Passou por v�rios clubes, at� no exterior, e nunca foi identificado como um jogador desse ou de outro clube. Era sempre Carlos Alberto Torres.

Com ele, todos n�s vivemos um dos instantes mais emocionantes da Copa do Mundo de 1970, quando o Brasil se tornou tricampe�o no M�xico. � um dos momentos mais sagrados de um jogo que, em plena ditadura militar, fez o Brasil viver um instante de gl�ria, unindo desde o presidente da Rep�blica, o general M�dici, um dos expoentes do regime militar, at� os presidi�rios recolhidos em quart�is de alta seguran�a.

O Brasil venceu a It�lia por 4x1, o quarto gol foi a maravilha que todos n�s lembramos quando vemos o lance que consagrou o Brasil como a p�tria das chuteiras. A cena � um dos logotipos do nosso orgulho nacional.

Pel�, na meia-lua da It�lia, nem olhou para tr�s. Se olhasse, veria Carlos Alberto Torres vindo l� da defesa do Brasil encher o p� com uma precis�o antol�gica. Foi o quarto gol do Brasil em um dos momentos que proporcionou a todos n�s uma pausa na fossa nacional provocada pelo regime militar.

Foi mais do que um grito de vit�ria. O brasileiro deixou de ser um vira-lata na hist�ria e foi dado a cada um de n�s um orgulho que, infelizmente, pouco durou. E Carlos Alberto Torres penetrou no sagrado �trio de nossos her�is.

carlos heitor cony

Escreveu até dezembro de 2017

� membro da ABL. Come�ou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. � autor de 17 romances e diversas adapta��es de cl�ssicos.