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    Por que vendas de desodorante s�o t�o baixas na China e em pa�ses da �sia

    DA BBC BRASIL

    07/09/2016 14h31

    BBC
    Varia��o gen�tica em asi�ticos impede odor nas axilas
    Varia��o gen�tica em asi�ticos impede odor nas axilas

    Turistas ocidentais que visitam a China podem se surpreender ao tentar comprar um simples desodorante nos supermercados ou farm�cias locais: � raro encontrar o produto nas prateleiras.

    Mesmo em Pequim, uma cidade com mais de 20 milh�es de habitantes, a oferta � praticamente inexistente mesmo em estabelecimentos maiores ou mais sofisticados. Quando os h�, as marcas s�o poucas, geralmente voltadas para o p�blico masculino e, em sua maioria, importadas.

    Uma pesquisa de mercado feito pela empresa Euromonitor comprovou que a venda de desodorantes � baixa entre os chineses e que h� poucos consumidores regulares. Um outro levantamento, feito pela consultoria Labbrand, tamb�m chegou a conclus�o semelhante e foi al�m: fora das metr�poles, h� o risco de simplesmente n�o se encontrar o produto. Segundo a pesquisa, ele "nunca foi uma necessidade no pa�s".

    Honghong Lu, editora de moda de 27 anos, que mora em Pequim, concorda. "Eu nunca usei desodorante e nunca pensei em usar. Por que me preocupar em colocar alguma subst�ncia qu�mica em meu corpo se ela � desnecess�ria?"

    Mas desnecess�ria como? Os chineses n�o transpiram?

    Transpiram, mas dependendo da etnia a que pertencem, muito provavelmente n�o exalam o odor que os brasileiros apelidaram de "c�-c�" –a partir, segundo o Houaiss, da propaganda de um sabonete desodorante da d�cada de 1940, que prometia acabar com o "cheiro do corpo", grafado, ent�o, s� com a letra "c" duplicada.

    A caracter�stica –de n�o exalar esse cheiro– n�o � exclusividade dos chineses. Segundo um estudo publicado na revista "Nature Genetics", realizado por cientistas de universidades japonesas, esse fen�meno chega a 100% entre coreanos e chineses da etnia Han, do norte do pa�s, afetando tamb�m a maioria de mong�is e descendo gradualmente em dire��o ao sul e ao oeste do continente.

    Segundo a Euromonitor, "a maioria dos sul-coreanos ainda n�o est� acostumada a usar desodorante, (...) e no Jap�o muitos s� o usam em dias quentes, por consider�-lo desnecess�rio quando as temperaturas est�o baixas".

    'NUNCA PRECISEI'

    A brasileira S�nia Tanaka, de 22 anos, os �ltimos quatro vividos na China, diz comprovar essa tese. "Quando morava no Brasil, comprava porque todo mundo comprava. Mas nunca precisei", diz a filha de japoneses que estuda Rela��es Internacionais em Pequim.

    Um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, descobriu que uma parcela da popula��o mundial de fato nasce com uma varia��o gen�tica e n�o tem a secre��o espec�fica nas axilas que atrai a bact�ria que produz o cheiro forte.

    Al�m dos asi�ticos dessa �rea do planeta, 2% dos ingleses, por exemplo, t�m essa modifica��o na prote�na ABCC11. De acordo com outra pesquisa, d� para afirmar que essa diferen�a gen�tica � encontrada em 10% dos ib�ricos e em 4% dos africanos subsaarianos. N�o h� dados sobre a popula��o brasileira, mas o estudo afirma que, entre colombianos e venezuelanos, n�o aparece a ex�tica combina��o de genes.

    "Quando as pessoas s�o AA homozigotas, elas produzem muito menos suor ap�crino (precursores do odor do corpo) e s�o, assim, muito menos propensas a desenvolver odor no corpo. N�o importa se o microbioma est� presente, porque os precursores do mau odor n�o est�o presentes", explicou � BBC Brasil Chris Callewaert, pesquisador da Universidade de Ghent, na B�lgica, que desenvolve estudos sobre a possibilidade de se fazer transplantes de bact�rias das axilas.

    Para o pesquisador, Gavin H. Thomas, especializado em microbiologia molecular da Universidade de York, no Reino Unido, n�o � poss�vel assegurar como essa muta��o gen�tica come�ou, nem mesmo como ela se perpetuou. Mas ele ressalta que o odor foi provavelmente muito importante no acasalamento no in�cio da hist�ria dos homin�deos. "S� recentemente o mundo desenvolvido decidiu que o odor era 'mau cheiro' e deu-lhe essa conota��o negativa", defende.

    "Claramente, eles cheiravam de maneira diferente. Ser� que isso ajudava a selecionar seu pr�prio 'tipo' de parceiro (isto �, pessoas com o mesmo cheiro)? Dif�cil dizer..."

    A BBC Brasil entrou em contato com as empresas que atuam no setor de desodorantes na China –Unilever, L'Oreal, Coty, Nivea, Schwarzkopf, Bourjois –al�m dos supermercados Metro e da farm�cia Watson, mas nenhuma respondeu ao contato.

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