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    'Martelo de carne' levou ancestral humano a obter c�rebro grande

    RICARDO BONALUME NETO
    DE S�O PAULO

    10/03/2016 01h58

    H� milh�es de anos, quando um ancestral humano resolveu bater e cortar carne com as ferramentas que tinha � m�o antes de ingeri-la, mal sabia ele que esse seria um passo importante para que seus descendentes obtivessem um c�rebro maior e tra�os mais modernos, como boca e dentes menores.

    Uma s�rie de experimentos que procuraram imitar a dieta do Homo erectus acaba de refor�ar a hip�tese de que o processamento de alimentos, combinado a uma alimenta��o carn�vora, foi essencial para o desenvolvimento dessas caracter�sticas, antes mesmo do surgimento do cozimento da comida.

    O estudo foi conduzido por Daniel Lieberman e Katherine Zink, da Universidade Harvard (EUA), e est� publicado na �ltima edi��o da revista cient�fica brit�nica "Nature".

    GRA�AS AO MARTELO DE CARNE

    O objetivo era resolver um paradoxo. O Homo erectus, que surgiu na �frica e viveu h� dois milh�es de anos, tinha o corpo e o c�rebro maiores que ancestrais humanos anteriores, mas sua denti��o era mais delicada, incluindo m�sculos menores para a mastiga��o, e seu aparelho digestivo era menor.

    Um corpo maior demanda mais energia, que tem que vir obrigatoriamente de alimentos. Para compara��o, primatas como gorilas e chimpanz�s passam boa parte do dia procurando comida e mastigando. E quando se trata de carne, a alimenta��o � demorada, j� que a denti��o � mais apropriada para vegetais.

    Ent�o, j� que os dentes pequenos e os m�sculos mastigat�rios mais fracos do Homo erectus n�o ajudam, fatiar, amaciar e triturar comida com instrumentos poderiam dar conta do problema.

    COMIDA COZIDA?

    Existe uma hip�tese alternativa: o cozimento dos alimentos, tanto carne como vegetais, � que produziu o excedente de energia que permitiu corpos e c�rebros maiores. Ela foi promovida pelo pesquisador brit�nico, Richard Wrangham, tamb�m de Harvard, que argumenta que o Homo erectus j� era um "masterchef".

    "Wrangham, que � um primatologista de Harvard –seu escrit�rio est� a poucos metros do meu–, argumenta que o Homo erectus deve ter cozido carne, mas na verdade n�o h� dados arqueol�gicos para apoiar isto. A mais antiga evid�ncia de fogo � de um milh�o de anos atr�s, e a mais antiga evid�ncia de cozimento regular � inferior h� 500 mil anos", afirma Lieberman.

    "Em termos de consumo de carne, n�s temos dados arqueol�gicos abundantes sobre o seu uso regular come�ando h� 2,5 milh�es de anos. Podemos ver isso nos dentes, nos ossos de animais com marcas de corte, e em ferramentas de pedra que t�m tra�os de terem sio usadas para cortar carne", diz. "� claro que n�o sabemos o quanto de carne o Homo erectus mais antigo comia, mas ca�adores-coletores hoje t�m cerca de 30% de sua dieta em carne", acrescenta Lieberman.

    Os experimentos para tentar fazer uma "reconstitui��o pr�-hist�rica" envolveram volunt�rios usando eletrodos na mand�bula e tendo que comer carne de bode, cenoura, beterraba e batata doce. Cru ou cozido. Fatiados, amaciados, assados.

    Os resultados apontam que o Homo erectus mais antigo teria mastigado 17% menos e usado 26% menos for�a nos m�sculos da face ao processar os alimentos.

    Comer carne e vegetais crus n�o � algo que muitos fariam. Mas, segundo a outra autora do estudo, Zink, "os volunt�rios do experimento parece que gostaram de 'mastigar pela ci�ncia'. N�o eram muitos os que j� tinham comido carne crua antes, e, da minha experi�ncia pessoal, posso dizer que bode cru tem um sabor muito distinto, mas � perfeitamente comest�vel".

    "Curiosamente, de todos os alimentos que n�s demos a eles, a beterraba parecia o menos apreciado. Eu nunca tinha percebido como as beterrabas s�o polarizadoras. Algumas pessoas amam, outras acham que ela tem um gosto muito ruim!", diz Zink.

    "Nossos dados sugerem que o simples processamento de alimentos desempenhou um papel importante na evolu��o humana muito antes de que o cozimento fosse inventado e tornou-se comum", conclui Liberman.

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