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    Navio e submarino da Guerra Civil Americana s�o resgatados e estudados

    RICARDO BONALUME NETO
    DE S�O PAULO

    10/03/2014 02h00

    Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865), os estados do norte, que defendiam a uni�o do pa�s, bloquearam as costas do sul confederado, que lutava pela secess�o dos estados escravocratas. Para fazer frente ao poderio da marinha da Uni�o, os confederados produziram o primeiro submarino pr�tico, o Hunley, pequeno e movido a manivelas acionadas por sete marinheiros. O Hunley foi o primeiro submarino da hist�ria a afundar um navio de guerra.

    Outra inova��o dos confederados foi produzir um navio encoura�ado, o CSS Virg�nia, que destruiu dois navios da Uni�o, antes de ser contido no dia seguinte pelo revolucion�rio USS Monitor, tamb�m encoura�ado e dotado de uma torre de canh�es girat�ria. Os dois navios fizeram o primeiro combate naval da hist�ria entre navios coura�ados.

    Tanto o Hunley como o Monitor afundaram durante a guerra. Foram redescobertos e resgatados depois de mais de um s�culo no fundo do mar. O trabalho de conserva��o e pesquisa arqueol�gica das duas embarca��es hist�ricas j� leva mais de uma d�cada, e ajudou a criar t�cnicas que est�o sendo usadas em v�rios outros artefatos hist�ricos em todo o mundo.

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    SUBMARINO HUNLEY

    Os homens estavam aparentemente serenos. Nada nas suas posi��es indicava que estavam querendo fugir do pequeno submarino �s pressas. Morreram nos seus postos de combate na noite de 17 de fevereiro de 1864. Mas tinham acabado de realizar um feito extraordin�rio: o Hunley, submarino dos Estados Confederados da Am�rica, foi o primeiro na hist�ria a afundar um navio de guerra inimigo, o USS Housatonic, dos Estados Unidos da Am�rica, inaugurando uma forma de combate que causaria muito dano e mortandade no s�culo seguinte em duas guerras mundiais.

    Por que o Hunley n�o voltou da miss�o? E como era essa ex�tica embarca��o movida a m�sculo humano?

    Existem imagens da �poca, mas n�o h� planos de engenharia. H� relatos imprecisos de sobreviventes do Housatonic. A arqueologia tem conseguido mais respostas que a hist�ria.
    Resgatado em 2000, foi iniciado um laborioso processo de conserva��o no Centro Lasch, da Universidade Clemson, Carolina do Sul.

    O Hunley veio � superf�cie amparado por uma estrutura que o manteve na posi��o que estava no fundo do mar, a 45 graus. Ficou assim at� 2011, quando foi endireitado. Estava entupido de sedimentos e o casco tomado por "concre��es", dep�sitos calc�rios fortemente grudados.

    Aos poucos foram achados objetos _e esqueletos. Logo se descobriu que em vez de nove tripulantes, como mostravam desenhos, havia apenas oito a bordo.

    N�o houve d�vida quanto � identifica��o do comandante, o tenente George E. Dixon. Al�m de estar na posi��o esperada perto da escotilha na proa, foi achada uma rel�quia especial�ssima.

    Dixon tinha um talism�, uma moeda de ouro de vinte d�lares que salvou sua vida durante a batalha de Shiloh ao ser atingida por uma bala inimiga. A moeda, deformada, foi achada pela arque�loga chefe do projeto, a dinamarquesa Maria Jacobsen.

    No ano passado, an�lise de restos da haste que continha a mina explosiva do Hunley indicou que ele estava pr�ximo ao Housatonic durante a explos�o.

    "Este ano o submarino vai ser colocado em uma solu��o c�ustica de hidr�xido de s�dio para ajudar a retirar a concre��o, por cerca de tr�s meses. N�s esperamos que a retirada dessa camada possa dar evid�ncias do que aconteceu naquela noite", disse � Folha Kellen Correia, presidente da organiza��o Amigos do Hunley, pioneira na conserva��o do submarino.

    USS MONITOR

    Os estados americanos da "Uni�o", ao norte do pa�s, tinham maior potencial industrial que os da "Confedera��o" ao sul; logo puderam rapidamente criar uma brilhante resposta tecnol�gica a um desafio dos sulistas. O inovador coura�ado USS Monitor acabou tendo uma carreira curta como a do pequeno submarino confederado Hunley, e um destino parecido. Afundou, demorou a ser achado, e parte dele foi resgatado e passa por um lento e longo processo de conserva��o e pesquisa.

    Ele foi constru�do em Brooklyn, Nova York, em 1862. O USS Monitor foi o primeiro navio coura�ado com ferro da marinha americana. Fran�a e Reino Unido constru�ram coura�ados antes. Mas o Monitor, ao atacar o confederado CSS Virg�nia na manh� de 9 de mar�o de 1862 em Hampton Roads, iniciou o primeiro combate naval da hist�ria entre dois navios encoura�ados. Curiosamente, mesmo depois de quatro horas de combate, nenhum navio sofreu danos s�rios, mostrando que na �poca a coura�a conseguia derrotar bem os canh�es inimigos.

    O CSS Virg�nia era um navio de guerra improvisado, mas letal. Os confederados usaram o casco e o motor de um navio americano abandonado, o USS Merrimack. Fizeram uma casamata de madeira refor�ada por ferro, com canh�es nos bordos. J� o USS Monitor tinha uma bem mais eficaz torre girat�ria com dois canh�es.

    No dia anterior ao famoso combate, o CSS Virg�nia tinha atacado a esquadra americana bloqueando o rio James, Virg�nia, e afundou dois navios de madeira, o USS Cumberland e USS Congress. � noite, o USS Monitor chegou ao local dos combates.

    Em maio seguinte os confederados destru�ram o Virg�nia em fun��o do avan�o das tropas da Uni�o. O Monitor continua apoiando tropas em a��o na regi�o do rio James. Mas, enviado em dezembro para auxiliar no bloqueio naval da Carolina do Norte, o Monitor afundou ao largo do cabo Hatteras. Da tripula��o, 47 foram resgatados e 16 morreram.

    Encontrado em 1973, s� em 1983 que a �ncora do Monitor foi resgatada. A principal pe�a, a torre de canh�es, s� em 2002 foi i�ada.

    Estudos recentes com a torre foram relatados na �ltima edi��o da revista especializada na guerra civil americana, "Civil War Times".

    'MONITORES' BRASILEIROS

    O USS Monitor deu origem a uma s�rie de navios semelhantes, tanto que eles passaram a ser conhecidos como "monitores". A marinha americana usou bom n�mero desse tipo de navio durante o resto da Guerra Civil (1861-1865). A segunda for�a naval a usar monitores em combate foi a Marinha do Brasil, durante a Guerra do Paraguai (1865-1870).

    Os brasileiros tinham o desafio de penetrar o rio Paraguai enfrentando baterias de canh�es paraguaios nas margens. Isso s� seria poss�vel com navios coura�ados. A Marinha colocou em a��o tanto coura�ados com casamatas para canh�es como outros com torres girat�rias. Estes �ltimos foram considerados mais eficazes em combate.

    Alguns desses pequenos coura�ados para uso fluvial foram encomendados no exterior, na Fran�a e no Reino Unido. Foi o caso do monitor Bahia, constru�do no Reino Unido. Alguns foram produzidos no Arsenal de Marinha no Rio de Janeiro, como seis pequenos monitores que tamb�m receberam nomes de estados, como Alagoas e Par�.

    Algumas das placas de ferro dos coura�ados brasileiros est�o preservadas no Museu Hist�rico Nacional, no Rio de Janeiro. � poss�vel ver nelas as marcas das balas dos canh�es paraguaios.

    editoria de arte/folhapress

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