Irineu Marinho

Em 24 de dezembro de 1903, Irineu Marinho casou-se com Francisca Pisani, a D. Chica, filha de imigrantes pobres do sul da Itália. Descrita pelos parentes como uma verdadeira “mamma” italiana, D. Chica tinha temperamento forte. Acompanhou de perto e contribuiu ativamente para a ascensão profissional do marido e para o sucesso de todos os seus empreendimentos.

Em dezembro de 1904, um ano após o casamento de Irineu Marinho e D. Chica, nasceu Roberto Marinho, que mais tarde viria a assumir os negócios do pai. Depois vieram Heloísa (1907), Ricardo (1909), Hilda (1914), Helena (1916) – que morreu de pneumonia com 1 ano e três meses – e Rogério (1919).

Retrato de Francisca e Irineu Marinho, década de 1910 — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Domingueiras

Após o casamento, Irineu Marinho e D. Chica moraram em diversas residências, em Niterói e no Rio de Janeiro, em bairros como Santa Teresa, Rio Comprido e Estácio. Em 1916, já com a vida mais próspera, o casal se mudou com os filhos para uma grande casa na rua Haddock Lobo, na Tijuca. Nela, os dois organizaram as famosas 'domingueiras', almoços festivos em que recebiam os amigos mais próximos e companheiros do jornal A Noite.

Corrêas

Em 1921, Irineu Marinho comprou uma casa em Corrêas, distrito do município de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. No ano seguinte, construiu uma casa de hóspedes, a Vivenda Heloísa, para receber os amigos Antônio Leal da Costa, Mario Magalhães, Castellar de Carvalho e Vasco Lima.

A propriedade foi palco de festas memoráveis, entre elas o aniversário de vinte anos de casamento de Irineu Marinho e D. Chica, em 1923, e o carnaval de 1924. O baile, realizado pouco antes de a família viajar para a Europa, foi animado pela orquestra dos Oito Batutas, comandada por Pixinguinha.

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A viagem

Irineu Marinho enfrentou, ao longo da vida, inúmeros problemas de saúde. Crises estomacais, hepáticas, renais e pulmonares o obrigaram fazer, por diversas vezes, temporadas de cura fora da cidade. Em 1924, teve de se submeter a uma delicada cirurgia na pleura. Temendo não sobreviver, negociou suas ações da Noite com o empresário Geraldo Rocha, até então um dos acionistas minoritários do jornal. Um acordo verbal previa a devolução, caso o jornalista conseguisse se restabelecer.

Após a cirurgia, Irineu Marinho partiu em busca de repouso e tratamento nas estações de águas da Europa. Viajou com toda a família. Além de D. Chica e dos filhos Heloísa, Roberto, Ricardo, Hilda e Rogério Marinho, faziam parte do grupo o médico José Julio Velho da Silva, noivo de Heloísa Marinho; Castellar de Carvalho, amigo e redator da Noite, e seu filho Joel de Carvalho; e a governanta Irma Geiser. Após o período de tratamento em Montecatini, na Toscana, o grupo visitou as principais cidades italianas. Depois, conheceram Genebra, Paris, Madri e, finalmente, Lisboa.

Uma reportagem

Irineu Marinho entrevista o aviador italiano Antônio Locatelli (à direita), em Pisa, Itália (06/1924) — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Irineu Marinho não viveu a temporada na Europa apenas como uma pausa para recuperação de sua saúde debilitada. Também não percorreu o Velho Mundo como um mero turista deslumbrado com paisagens e monumentos. Uma correspondência, trocada com o amigo Antônio Leal da Costa, mostra antes de tudo o jornalista, um repórter sempre em busca da notícia, atento aos problemas brasileiros e internacionais.

Em um dos intervalos de seu tratamento de saúde, por exemplo, Irineu Marinho foi à cidade de Pisa especialmente para entrevistar o aviador italiano Antonio Locatelli, que se preparava para participar de uma expedição ao Polo Norte. A reportagem, enviada em seguida para o Brasil, foi publicada com destaque pela Noite.

Autoexílio

A viagem à Europa ganhou novo significado em meados de 1924. No dia 05 de julho daquele ano, eclodiu a revolução tenentista de São Paulo, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes. A reação do governo federal foi das mais violentas. Houve perseguições, prisões, deportação de jornalistas e censura à imprensa. A estada de Irineu Marinho na Europa tornou-se, a partir de então, uma espécie de autoexílio. Com a certeza de que seria preso assim que desembarcasse no país, devido à postura oposicionista da Noite, Irineu Marinho adiou por diversas vezes a data do retorno. Não queria mais correr o risco de se ver encarcerado, como em 1922.

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A perda de A Noite

Em janeiro de 1925, quando ainda estava em Portugal, Irineu Marinho começou a receber notícias preocupantes. Geraldo Rocha havia convocado, sem consultá-lo, uma assembleia extraordinária de acionistas. Reunidos no início de fevereiro, liderados por Rocha, os acionistas de A Noite alteraram os estatutos da sociedade anônima, criaram cargos e elegeram novos diretores. Apesar da confirmação de Irineu Marinho no cargo de presidente da empresa, muitos de seus poderes e atribuições foram retirados.

Irineu Marinho considerou-se traído não apenas por Geraldo Rocha, mas também por dois de seus amigos mais próximos: o ilustrador Vasco Lima e o repórter Castellar de Carvalho, que passaram a integrar a nova diretoria do jornal. Assim que ficou sabendo dos acontecimentos, Marinho voltou imediatamente ao Brasil. Dias após seu desembarque, renunciou à presidência da Noite, desligando-se definitivamente do jornal que havia criado. O golpe, porém, não o abateu. Pouco meses depois, lançaria O Globo.

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