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Poderia ser apenas mais uma comédia romântica brasileira buscando seu lugar ao sol. Mas “Talvez uma História de Amor” estreia nos cinemas com certa vantagem ao inverter a ordem dos fatores e lançar um ponto de interrogação logo na abertura.
Baseado no livro homônimo do francês Martin Page, o filme do diretor Rodrigo Bernardo propõe uma narrativa formada por um quebra-cabeças bem-humorado, que reconstrói um romance a partir do desfecho.
Virgílio (Mateus Solano) tem tanto pavor de mudanças que rejeita uma promoção no trabalho para não precisar alterar o imposto de renda. Ainda usa celular-tijolo, videocassete, rádio-relógio e secretária eletrônica.
E é o equipamento jurássico de gravação de recados o culpado por virar a vida do rapaz de cabeça para baixo.
Numa noite qualquer, Clara deixa uma mensagem melancólica terminando o relacionamento com o publicitário. A questão é que ele não faz a menor ideia de quem seja essa tal de Clara. O público, tampouco.
Sempre na cola de Mateus Solano —que compõe um personagem cheio de nuances e transita do riso à aflição com grande naturalidade—, o espectador é instigado a refazer os passos do protagonista, em uma jornada que respira os ares de “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança” (2004).
Metódico e solitário, Virgílio também carrega ingredientes de Melvin, papel de Jack Nicholson em “Melhor É Impossível” (1998).
Durante sua saga, ambientada na paisagem paulistana, o desmemoriado conta com uma coleção de coadjuvantes para ajudá-lo a encaixar as peças soltas.
Tirando os excessos, esses encontros incrementam a trama e rendem momentos divertidos. É o caso de Gero Camilo, Bianca Comparato e Cynthia Nixon (a Miranda do seriado “Sex and the City”).
Com uma produção cuidadosa —da trilha sonora à fotografia—, “Talvez uma História de Amor” se rende aos clichês do gênero na parte final, mas isso não tira seu charme. Até chegar na água com açúcar, a plateia é mantida em um estado de suspense e surpreendida por um toque de ousadia e originalidade.
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