Esporte Clube

Por Guilherme Henrique (@guicostah)

Assim que assinou seu primeiro contrato profissional com o Flamengo, aos 16 anos, Vini Jr. e sua família começaram a receber pedidos de ajuda de amigos e parentes em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, onde o jovem nasceu e cresceu. Em 2018, quando foi vendido ao Real Madrid, as solicitações aumentaram. “Descobriram que ele estava ganhando em euro”, diverte-se Victor Ladeira, diretor executivo do instituto criado pelo atleta em meados de 2021.

Foi a deixa para que o jogador de futebol, sua família e assessores pusessem de pé um projeto que havia tempos desejavam. Uma organização sem fins lucrativos capaz de mudar a vida de jovens em vulnerabilidade social. Uma iniciativa que unisse esporte, a paixão de Vini Jr., e a educação pública — no Brasil, 80% dos alunos no ensino fundamental e médio estudam em escolas do governo.

“Não queríamos montar um local somente em São Gonçalo e deixar nossa atuação restrita àquela área. Buscávamos usar uma estrutura que já existisse para ajudar a melhorar o sistema, com tecnologia e inovação”, explica Ladeira.

Daí, surgiram os Centros Tecnológicos de Base, bancados pelo instituto e seus patrocinadores, em escolas ao redor do Brasil para ensinar utilizando o futebol como fio condutor. São nove CT's em funcionamento: dois no município do Rio de Janeiro, dois em São Gonçalo, dois em Mesquita, um em Rio Preto (MG), um em Novo Hamburgo (RS) e um em Cabrobó (PE), com cerca de cinco mil estudantes do ensino fundamental (1º ao 5º ano) atendidos e 500 profissionais de educação envolvidos.

Em cada uma das escolas, a organização cria uma ambiência diferente da que existe em sala de aula. Há grama sintética no piso, luz de vestiário, ausência de carteiras e pufes espalhados. A estrutura é acompanhada de um “enxoval tecnológico”: dez smartphones, tablet para o professor e uma televisão de 50 polegadas.

O aplicativo desenvolvido pelo Instituto Vini Jr. gera trilhas de aprendizado gamificadas baseadas em competições de futebol, e cada ano escolar corresponde a uma disputa. O professor acompanha as atividades dos jovens pelo tablet. “O docente consegue identificar as dificuldades do aluno pelo app e atacar no cerne”, afirma a coordenadora pedagógica Andréa Xavier, da Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha, na Penha, Zona Norte do Rio.

Como mora na Europa, Vini Jr. visita as escolas uma vez ao ano, durante as férias. Mas, sempre que uma nova unidade é lançada, ele envia um vídeo personalizado às turmas. “Elas ficam eufóricas”, celebra Andréa. O pai do jogador, Vinícius José Paixão, que preside a entidade, participa das inaugurações e é os olhos do atleta na rotina do projeto.

Vini Jr. ao ser nomeado embaixador da Boa Vontade da Unesco — Foto: Unesco/Mohammed Bakir
Vini Jr. ao ser nomeado embaixador da Boa Vontade da Unesco — Foto: Unesco/Mohammed Bakir

Embaixador da Unesco

O Instituto Vini Jr. se soma a outra frente de atuação do jogador como um vetor de mudanças sociais: seu combate ao racismo. Vítima de seguidas ofensas de torcedores rivais desde que chegou à Espanha, o atleta encampou a luta — as escolas que recebem a ajuda do instituto, aliás, ganham capacitação antirracista para o corpo docente e pedagógico. “O atleta é um influenciador de gerações, e Vini sabe disso”, atesta Ladeira.

A junção do trabalho na entidade à luta antirracista chamou a atenção de organizações internacionais. No fim do ano passado, Vini Jr. recebeu o prêmio Dr. Sócrates, criado pela revista France Football em homenagem ao ex-jogador brasileiro, a fim de laurear ações de impacto social entre futebolistas. “Digo que foi minha primeira Bola de Ouro. Aos 23 anos, ter esse reconhecimento só traz mais estímulo para continuar fazendo as coisas certas. Sei quanto minha família ficou orgulhosa”, celebrou Vini.

Em fevereiro deste ano, o atleta do Real Madrid foi nomeado embaixador da boa vontade pela Unesco. Trata-se do segundo brasileiro depois de Pelé a ocupar o cargo.

“A Unesco será mais uma grande aliada nessa missão. E agora posso expandir fronteiras mundo afora. Meu trabalho começou no Brasil e sempre terá meu país como objetivo principal. Mas a Unesco, por exemplo, já me proporcionou viajar ao Marrocos [em fevereiro] para espalhar a mensagem da educação. É um objetivo de cidadão, não de jogador de futebol. Quando minha carreira acabar, felizmente falta muito, continuarei com a missão de impactar a vida daqueles que precisam”, diz Vini.

Ladeira conta que o contato com a Unesco começou ainda em 2022, quando um diretor da entidade no continente africano sugeriu o nome de Vini Jr. para embaixador. A partir daí, membros da organização viajaram ao Brasil a fim de conhecer o trabalho do instituto. “Em um futuro não muito distante, quero chegar à África”, planeja o jogador.

Projetos no Brasil

Em solo nacional, os projetos futuros incluem a instalação de sessenta Centros de Treinamento de Base até 2025, com impacto sobre 15 mil crianças e 900 professores. Vini Jr. também ambiciona construir uma escola, um de seus desejos mais antigos. A estrutura já está sendo desenvolvida num terreno abandonado há duas décadas em São Gonçalo, próximo de onde mora sua avó. A inspiração surgiu da visita que Vini realizou à escola pública mantida pelo astro norte-americano LeBron James em Ohio, onde nasceu. A estrela da NBA é uma das principais influências do futebolista brasileiro.

Diante de desafios e objetivos, Vini Jr. acredita que o empenho de federações e de atletas para combater o racismo e a desigualdade precisa aumentar. “É difícil sempre se posicionar e sentir que está falando com as paredes. Há muitos textos, discursos, mas pouca ou zero punição. Os casos se repetem a cada fim de semana, com os mesmos ou novos personagens, e a rotina de jogos e campeonatos faz com que acabem rapidamente esquecidos. Os jogadores precisam comandar o processo. Estou pronto para ajudar e enviar soluções para melhorar.”

Vini Jr. estampa a GQ Hype deste mês — Foto: Douglas Lonez
Vini Jr. estampa a GQ Hype deste mês — Foto: Douglas Lonez

Onde adquirir a GQ de março

A matéria com Vini Jr. está na edição de março da GQ Brasil. Adquira a sua nas bancas ou no aplicativo Globo+ e na loja virtual, com entrega para a Grande São Paulo e para Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Campinas. Para fazer sua assinatura, clique aqui.

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