Esporte Clube

Por Manuela Rached Pereira e Augusto Siqueira


Gustavo Gómez, capitão do Palmeiras, compartilha detalhes de sua rotina em encontro com o GQ Esporte Clube: “Normalmente, sou o primeiro a chegar [para os treinos]”, contou.  — Foto: Enzo Amendola
Gustavo Gómez, capitão do Palmeiras, compartilha detalhes de sua rotina em encontro com o GQ Esporte Clube: “Normalmente, sou o primeiro a chegar [para os treinos]”, contou. — Foto: Enzo Amendola

Em 2023, quando completa seu quinto ano no Palmeiras, o zagueiro paraguaio Gustavo Gómez teve seu contrato renovado com o Alviverde até o fim de 2026. No início de janeiro, quando a renovação foi anunciada pela diretoria do clube paulista, o capitão celebrou a decisão como um reconhecimento ao seu desempenho em campo e afirmou: “Meu futuro está aqui”.

Agora, passados os primeiros jogos da atual temporada e oficializada a prorrogação de sua estadia no Brasil, o jogador detalhou como vive o seu presente na capital paulista, dentro e fora do centro de treinamento palmeirense, onde conversou com a reportagem do GQ Esporte Clube.

É dentro da Academia de Futebol, na Barra Funda, que o paraguaio passa boa parte de seus dias (e algumas noites) em São Paulo. Geralmente, mais que a maioria de seus companheiros. “Sou sempre o primeiro a chegar [para os treinos]”, contou.

“Chego cedo e já tem um cantinho aqui que é meu, que nós [jogadores estrangeiros] falamos que é nosso escritório, dos gringos”, seguiu com um riso tímido. “Também tem dias que eu venho de noite para o CT porque eu moro aqui perto e venho fazer água fria [nadar] aqui. Gosto muito de fazer isso antes de dormir”, completou.

Gustavo Gómez, capitão do Palmeiras, orquestra o time paulista em partida conta o Cerro Porteño, válida pela Libertadores da América — Foto: Getty Images
Gustavo Gómez, capitão do Palmeiras, orquestra o time paulista em partida conta o Cerro Porteño, válida pela Libertadores da América — Foto: Getty Images

Do Paraguai ao Brasil, além da família e do sotaque espanhol, o jogador carrega consigo costumes e interesses particulares. O “tereré”, como é conhecido um chá típico paraguaio, feito à base de erva mate, o acompanha diariamente. “É como um chimarrão, mas frio. Eu trago [a bebida] na minha garrafa, ando com ela todo dia, e é do Paraguai, paraguaio raíz”, contou.

Também da sua terra natal, vem um interesse e um “segundo trabalho” de Gómez que até palmeirenses que projetam o camisa 15 como um ídolo desconhecem.

“Eu gosto também de fazenda, dos animais, dos gados. Tenho uma empresa com o meu amigo e cunhado, que é veterinário e tem uma empresa de consultoria veterinária para fazendas”, revelou. Para o jogador, “é legal também ter outras coisas fora do futebol”.

Já no Brasil e nem tão desconexo dos gramados, outro interesse que Gómez nutre fora da zaga é o boxe. Segundo ele, o esporte, também praticado por outros jogadores do elenco alviverde, o ajuda a “relaxar” e até melhora seu rendimento e sua concentração em campo. “Você tem que estar concentrado para quando o professor fala “jab-direto”, brincou.

Aos 29 anos, Gómez completou 50 jogos como capitão do Palmeiras no ano passado. É o estrangeiro com mais vitórias e títulos (8) do Palestra e o terceiro maior zagueiro artilheiro da história do clube, com 28 gols até aqui. Chegou no time paulista em 2018, emprestado pelo Milan e, desde então, vive em São Paulo, com a esposa Jazmín Torres e seus dois filhos, Pía Constanza, de 7 anos, e Lucca Emmanuel, de 2.

Durante o encontro com o GQEC, além de contar sobre seus interesses dentro e fora de campo, o jogador falou ainda sobre a rotina na capital, a relação com o técnico Abel Ferreira, e suas expectativas e ansiedades antes de grandes competições.

Gustavo Gómez e elenco do Palmeiras levantam a taça do Campeonato Brasileiro 2022, no Allianz Parque, São Paulo — Foto: Getty Images
Gustavo Gómez e elenco do Palmeiras levantam a taça do Campeonato Brasileiro 2022, no Allianz Parque, São Paulo — Foto: Getty Images

Leia abaixo a entrevista completa:

GQEC: Como é sua rotina em São Paulo?

Gómez: Eu acordo muito cedo. Às 7 horas da manhã, o chimarrão já está pronto, o mate, né?! Geralmente, o café da manhã eu não faço muito, mas o chimarrão, sim, que me ativa um pouco. Quando tem escola, eu levo meus filhos, fico um pouco em casa e já venho para cá [centro de treinamento do Palmeiras].

Normalmente, sou sempre o primeiro a chegar. Chego cedo e aí já tem um cantinho aqui que é meu. Nós [jogadores estrangeiros] falamos que é nosso escritório, dos gringos [risos].

Então, venho treinar, depois vou para casa. Chego aqui às 8h30, mais ou menos, e saio às 12h30, 13h. Vou à tarde para casa e, se tô um pouco cansado, durmo entre 40 minutos e uma hora, se muito. Depois, tem dia que eu faço aula de boxe no condomínio e, depois, um pouquinho de sauna, de piscina quente. E tem dia que eu venho de novo aqui para o CT porque eu moro aqui perto e venho fazer água fria [nadar] aqui.

Gosto muito de fazer isso antes de dormir. Depois da janta, como tem a estrutura aqui, eu venho fazer um pouco de água fria ou água quente, e depois volto para dormir. Eu moro aqui pertinho, né?! 2 minutos daqui.

Também à noite, antes de dormir, gosto muito de me informar um pouquinho sobre o meu país, [acompanhar] o noticiário, o que está acontecendo no Paraguai e no mundo. As atualidades, né?! Política e de tudo um pouco.

O que você acha de viver em São Paulo?

Eu estou feliz, minha esposa está feliz, minha filha…Achamos mais coisas boas do que ruins aqui no Brasil e em São Paulo. Adoramos e não tem muita coisa para invejar em relação ao pessoal [jogadores] de outros países.

O que seriam essas coisas boas e ruins?

Ruim eu acho o trânsito. Agora, nessa época, o clima [chuvoso] também atrapalha, mas depois melhora. Obviamente que também tem lugares um pouco perigosos, mas a gente já conhece um pouco sobre onde pode estar.

De bom é que tem muito restaurante top, boas escolas. Mas o que eu mais adoro são as pessoas daqui. Acho que, em São Paulo, tem muita gente boa. Quando você vai pedir algum conselho para alguém, falam bem. (...) Não só aqui [no Palmeiras], mas quando você vai a um restaurante, o garçom também é amável. Acho que a gente daqui é muito parecida com o pessoal do Paraguai. E também quando você busca outras coisas…Se quer praia [próxima], lugares históricos, tem tudo. Acho muito legal.

Quem foram as pessoas com quem você trocou ideia sobre o que poderia fazer em São Paulo quando chegou aqui, em 2018?

Ah, muita gente. Eu cheguei já com uns gringos, como o [Miguel] Borja, que já estava aqui e me ajudou muito. Ele me dava dicas de restaurantes italianos, churrascaria, tudo isso era ele quem falava para mim.

Quais são seus lugares e restaurantes favoritos em São Paulo?

Eu, com a quantidade de jogos que tenho, não saio muito. Mas eu gosto mais de ir em restaurante italiano. Minha filha também gosta muito. O estilo que nós gostamos é de restaurante pequenininho, onde sempre a comida é boa.

Então, cardápios com massa são os seus favoritos?

Sim, sim. Eu gosto da pasta carbonara, assim, só que tem muita caloria [risos]. De vez em quando, eu vou, mas minha filha, quando chega domingo, a atividade dela é ir na igreja e, da igreja, almoçar num restaurante italiano, ou numa churrascaria. Se chega domingo e não tem isso, é raro para ela.

Você comentou que também pratica boxe. Quando começou e como é a sua relação com esse outro esporte?

Minha esposa tava fazendo, disse que era muito legal, e depois conheci um professor que está treinando todo mundo. Não lembro se foi o Mayke que começou a fazer [primeiro], depois o Zé Rafael, mas depois eu também comecei a fazer um pouquinho, para relaxar um pouco. Aí comecei a pesquisar um pouco mais e vi que ajuda muito para a concentração porque você tem que estar concentrado quando o professor fala “jab-direto” [risos]. É legal fazer algo que é totalmente diferente do futebol, mas que também ajuda você a ter um melhor rendimento, ajuda muito na coordenação também. Eu gostei e comecei a fazer aula uma, duas vezes por semana. Faço no meu condomínio, mas acho que o Palmeiras quer contratar [o professor] porque muitos jogadores já estão fazendo [boxe] e falando por aí [risos].

Como é a sua relação com o Abel e como o definiria como treinador?

Abel é um professor. E não só de futebol. Em cada palestra você aprende algo sempre. Por isso, para mim, é um grande professor. A relação é normal, acho que com todo mundo, porque é um relacionamento muito mais profissional. Tem quatro ou cinco líderes que ele chama de vez em quando para falar algo importante, o que é normal em todo time. Ele cobra quando tem que cobrar e, quando tem que parabenizar, parabeniza também. Fala sempre o que tem que falar, na hora certa, e é bom também que, se você erra, ele nunca vai reclamar. Isso eu acho que poucos treinadores têm, que você pode errar e ele fala para você: “Você tentou, na próxima vai sair”. É um cara muito positivo e a relação é muito boa com todo mundo.

Como você se definiria como capitão?

A minha característica é mais de um líder dentro do campo. Gosto de ajudar sempre nossos companheiros, orientando, falando mais individualmente, aconselhando sempre. Também cobrar quando tem que cobrar. (...) E acho que isso sai natural e cada um tem seu trabalho [na equipe]. O Weverton, por exemplo, gosta mais de falar com o grupo, Zé Rafael e Luan também falam dentro e fora do campo, eles têm essa capacidade, e todo mundo é diferente. Acho muito legal que tenham vários líderes. Só um leva a faixa, mas tem vários capitães.

Além do boxe, você tem outros hobbies?

Eu gosto também de fazenda, dos animais, dos gados. Tenho uma empresa com o meu amigo e cunhado, que é veterinário e tem uma empresa de consultoria veterinária para fazendas. Começamos com cinco fazendas e hoje já trabalhamos para 35, mais ou menos, no Paraguai. É legal também ter outras coisas fora do futebol. Nas férias, vou um pouquinho [ao Paraguai] olhar esses trabalhos.

Tem alguma coisa que você carrega com você e te remete ao Paraguai, algo que te faça lembrar de casa?

Ah, o Tereré, né?! É do meu país e é como um chimarrão, mas frio. Eu trago [a bebida] na minha garrafa, ando com ela todo dia, e é do Paraguai, paraguaio raíz.

Também vimos que você tem várias tatuagens…O que elas dizem sobre você?

Quando eu tinha 14 anos, fiz essa tatuagem aqui [desenhos de cedros no braço esquerdo]. Fiz em Assunção porque eu, quando tinha 14 anos, já ia para a seleção [paraguaia]. Ia direto da minha cidade para a seleção sub-17 e, depois, quando voltei para casa, minha mãe começou a me xingar [(por causa da tatuagem) risos].

Depois, eu fechei [o braço esquerdo com outras tatuagens] porque [as primeiras] não eram tão…Parecia que eu tinha feito na cadeia [risos]. Aí eu comecei a fechar tudo, fazer um lobo, que representa um líder solitário, [o desenho de um relógio com] o horário em que nasceu a minha filha. Eu também fiz [no mesmo braço] esse desenho [de um olho], e eu tenho muitos tios que são advogados e falavam para mim: “Isso aí é da maçonaria”. Aí eu comecei a fechar [o braço de tatuagens] um pouquinho mais [risos].

Eu também gosto muito desse leão [na mão esquerda], que é um chefe, né?! Essa aqui [o escrito “fé” tatuado na mão direita] eu fiz com a minha esposa. Também tem o nome da minha filha e do meu filho.

Essa é legal também, o número 15, que é a minha camisa e era [o número da camisa] do meu parceiro, minha dupla de Lanús, Diego Barisone, que faleceu num acidente [de carro, em 2015]. Eu já tinha uma identificação com o 15, já usava no Libertad e, quando fui pro Lanús, tinha o meu companheiro [que usava], aí quando ele faleceu, o número 15 ficou para mim, significando algo para mim.

Você ainda se sente nervoso ou ansioso antes dessas grandes competições?

Os jogadores sempre sentem ansiedade, todo jogo [risos]. É legal você ter a pressão, você pode ganhar tudo, mas ainda tem essa pressão com você porque, a cada três dias, você está sendo olhado por todo mundo, pela comissão...Não adianta você ganhar duas Libertadores porque, se eu não estou jogando bem, eu vou fora, entendeu?!

Tem a pressão de [zagueiros como] Kuscevic, Luan, Murilo, que jogam na mesma posição que eu, então você tem que ter sempre um rendimento bom. E essa pressão sua, acho que é o mais forte, essa pressão que vem de você, de manter a regularidade porque tem muitos para sair e muitos querendo entrar. Isso que é legal do futebol.

Dependendo do jogo é um pouco mais ou um pouco menos, mas ansiedade sempre tem.

Mais recente Próxima Atual camisa 10 do Santos, Soteldo homenageia Pelé em chuteira
Mais de GQ

Cantor divulga nova música nesta quinta-feira (15); à GQ Brasil, ele fala sobre o projeto, a família e a relação com a moda

Dilsinho lança single 'Duas' em homenagem à esposa e à filha: "Estou mais maduro para falar de mim"

"Um presente"; personagens dos atores vivem triângulo amoroso na nova novela das 18h da Rede Globo

Sérgio Guizé exalta parceria com Renato Góes e Isadora Cruz em 'Mar do Sertão'

O aquecimento global oferece riscos também para a base da cadeia alimentar oceânica, sugere estudo

Uma viagem submarina pelo tempo pode trazer más notícias para a vida nos mares

Uma das lideranças criativas da AlmappBBDO, ela já ganhou um Caboré e conta aqui como as mulheres vem mudando a publicidade

5 perguntas para Keka Morelle

Filme da HBO retrata a história de Elizabeth Holmes e sua startup, a Theranos

Documentário “A Inventora” discute os limites do storytelling em inovação

Unindo razão e sensibilidade, Viviane Pepe conquistou a direção brasileira de uma das marcas de beleza mais reconhecidas no mundo

No topo da Avon

Com campanhas disruptivas, divertidas e emblemáticas, os publicitários brasileiros não conquistaram apenas Cannes – transformaram anúncios em cultura pop

Propaganda a gente vê por aqui

Executivo que já enfrentou crises aéreas e ama revistas acredita que criatividade é inerente ao ser humano

German Carmona, um dos nossos jurados, voa alto

Uma startup na crescente indústria de serviços climáticos permite que você crie um mapa e projete seu próprio desastre - e ajuda a colocar um preço no impacto da mudança climática

Empresas podem prever as catástrofes climáticas por encomenda