Se questionada sobre as memórias que marcaram a história do futebol nacional até aqui, boa parte da torcida brasileira, provavelmente, não recordaria o episódio do roubo da taça enviada ao Brasil na conquista do tri mundial, em 1970. Isso porque muitos dos torcedores da atual Copa do Mundo sequer eram nascidos quando repercutiam as notícias do saque do troféu, há 35 anos.
Já entre os mais velhos que acompanharam o caso, o motivo da não-lembrança pode envolver o paradeiro até hoje desconhecido da antiga taça, que levava o nome de Jules Rimet, famoso presidente da Federação Francesa de Futebol e ex-dirigente da FIFA.
Seja como for lembrado, o episódio não desvendado culminou na decisão que hoje torna o Brasil o único país a ter mantido em definitivo o troféu original do torneio, sob posse da Confederação Brasileira de Futebol até o seu desaparecimento, em 1983, 13 anos após a vitória da Seleção no mundial do México.
Por alcançar o feito até então inédito de três vitórias em Copas do Mundo, em 1970, a equipe brasileira conquistou ainda o direito de levar para casa a taça Jules Rimet, pois assim garantia um protocolo da FIFA ao primeiro país que chegasse ao Tri.
Segundo o site esportivo Goal, os temores envolvendo a segurança da taça oficial da Copa fizeram com que a FIFA mudasse as regras da premiação.
Até 2006, o país campeão costumava ficar em posse do troféu oficial por quatro anos, até a edição seguinte, quando retornava à Federação. Só que, a partir daquele ano, o protocolo mudou e a seleção vitoriosa passou a levantar a taça original na premiação, mas levar para casa uma réplica de bronze banhada a ouro, enquanto a versão oficial voltava a ser guardada na sede da FIFA, em Zurique, na Suíça.
O caso do roubo no Brasil
Em 1970, o Brasil conquistou a Copa do Mundo no México depois de vencer a bicampeã Itália por 4 a 1. Por ser a única equipe tricampeã da história dos mundiais foi também a primeira a levar para casa em definitivo a taça Jules Rimet, graças ao protocolo da FIFA que garantia o troféu oficial do torneio à seleção que conquistasse primeiro três mundiais.
Já no Brasil, a taça de ouro ficou sob posse da CBF, que resolveu deixá-la exposta, sob a proteção de um vidro à prova de balas, em sua sede no Rio de Janeiro.
Em 1983, o exemplar original foi roubado e seu paradeiro nunca descoberto. Apesar da versão oficial do caso constatar que a Jules Rimet teria sido derretida, nunca se soube ao certo o destino da peça roubada. Ainda assim, quatro pessoas foram apontadas como responsáveis pelo roubo: Sérgio Peralta, Chico Barbudo, Luiz Bigode e Juan Hernández.
Segundo o inquérito policial do crime, Peralta, que voltou a trabalhar na CBF anos após sua prisão, foi quem passou as informações de que a taça original era mantida dia e noite sob um vidro blindado. Já Barbudo teria sido o invasor da sede carioca, enquanto Bigode, que nunca confessou a participação no roubo, foi apontado como executor do saque. O argentino e ourives Hernández foi apontado como o receptador do troféu e responsável por derretê-lo, mas não chegou a receber nenhuma condenação.
Seis anos depois do roubo, em 1989, o crime foi julgado, com Peralta, Bigode e Barbudo condenados a nove anos de prisão. Naquele mesmo ano, Chico Barbudo foi assassinado. Em 1994, Peralta foi preso e se manteve detido por três anos. Já Luiz Bigode ficou foragido até 1995.
A nova taça
A atual taça da Copa do Mundo foi criada pelo escultor italiano Silvio Gazzaniga (1921 – 2016). O artista ganhou um concurso promovido pela FIFA em 1971 para a escolha do troféu que substituiria a Jules Rimet roubada no Brasil.
No corpo dourado do atual troféu, está a representação de dois jogadores, que seguram a circunferência que representa o planeta Terra, erguido na parte mais alta.
“O mundo é uma esfera, então [a circunferência da taça] mostra ser muito similar a uma bola de futebol", chegou a afirmar o criador da obra.
A taça é feita de ouro maciço 18 quilates e pesa pouco mais de 6 kg. Mede 36,8 centímetros de altura e 13 de diâmetro na base, que leva duas faixas verdes de malaquita.
O nome do país campeão de cada edição do mundial passou a ser gravado na parte inferior da base do troféu a partir de 1974, após a primeira edição em que a nova taça foi levantada por uma seleção vitoriosa. Por isso, o nome que mais aparece no troféu não é o do Brasil, maior campeão da história das Copas até aqui, mas o da Alemanha, que conquistou três vitórias desde então (1974, 1990 e 2014) – uma a mais que a seleção brasileira no período (1994 e 2002).
Já em 2022, após a conquista do Tri na acirrada final deste domingo (18) contra a França, é a Argentina que terá seu nome inscrito mais vezes que o do Brasil na atual taça. Sem levá-la para casa.