Cultura

Por Carol Castro

Tadeu Schmidt, de 49 anos, com pinta de bom moço e estilo para lá de básico no guarda-roupa, deixou a zona de conforto de lado para o ensaio de capa da GQ Brasil. Nas fotos iniciais, vestiu sobretudo, camisa polo de tricô, bermuda e botas pretas robustas. Seguiu para a alfaiataria moderna e passou por peças de cortes diversos, estampas e suéter de gola alta.

Com seu bom humor habitual, fez do estúdio, na Zona Oeste do Rio, uma passarela. Caminhou posturado, de cabeça erguida, com passos firmes. Fingiu naturalidade e arrancou risadas da equipe. Ao ser apresentado à repórter, avisou, quase tímido: “Não costumo me vestir assim não, tá?”.

O apresentador, nascido no Rio Grande do Norte e radicado no Rio de Janeiro, aparece há três anos à frente de um dos programas mais rentáveis e assistidos da Globo, o reality show Big Brother Brasil — uma responsabilidade e tanto, mesmo para quem já se consagrara no jornalístico Fantástico, joia da Globo desde os anos 70.

Tadeu Schmidt em ensaio para a GQ Brasil — Foto: Bruna Sussekind
Tadeu Schmidt em ensaio para a GQ Brasil — Foto: Bruna Sussekind

Quando topou o desafio de mudar de rumo na carreira, em 2022, ao mergulhar no entretenimento, mostrou-se empolgado, sem negar o frio na barriga, para comandar uma atração que dialoga com milhões e milhões de brasileiros. “Há dias em que o relógio avisa sobre meus batimentos cardíacos acima da média”, conta.

A 24ª edição da atração chegou ao fim no último dia 16 com dezesseis marcas patrocinadoras principais. Agora, Schmidt consegue respirar. Afinal, são 100 dias seguidos no ar, com boa parte de suas entradas ao vivo, além de madrugadas em claro e alta dedicação para acompanhar o que se passa no intenso programa. Seu dia preferido durante a jornada televisiva: terça-feira, com o paredão.

“Trata-se de um momento de gala. Envolve muita emoção e quadros divertidos”, afirma. Também é quando ele almoça com a chefia, os diretores Boninho e Rodrigo Dourado, para bater o discurso de eliminação. Na quinta, por causa da prova do líder, eles repetem o encontro para avaliar as dinâmicas e votações seguintes.

“Meu sonho era virar atleta, como meu irmão", conta o apresentador — Foto: Bruna Sussekind
“Meu sonho era virar atleta, como meu irmão", conta o apresentador — Foto: Bruna Sussekind

Mesmo com o atropelo da agenda, Schmidt faz questão de manter as idas diárias à academia, sempre o primeiro compromisso da rotina. O cuidado com o corpo virou até meme, após Paulo Vieira, humorista à frente do quadro do reality Big Terapia, brincar que o bumbum avantajado de Tadeu havia crescido após largar o jornalismo.

“Eu sempre mantive minha rotina de exercícios, uma questão de saúde”, atesta. No ano passado, ele compartilhou com a GQ Brasil um caso curioso. “Rasguei uma calça bem justinha, porque estava muito forte de pernas. Foi ao vivo, no Fantástico. Precisei apresentar o resto do programa me segurando, porque não podia trocar de roupa”, diverte-se.

Outra paixão na seara esportiva, que já dura uma década, é o golfe. Ele não passa um domingo sem se arriscar em algumas tacadas, nem que seja só por um tempinho. “O Tadeu tem fases. Antes era o tênis, e tudo era o tênis. Agora é o golfe. Eu viajei e até trouxe bolinhas de presente para ele”, conta Poliana Abritta, ex-companheira de Fantástico e amiga desde os tempos da faculdade, no fim dos anos 90 — ambos cursaram o Centro Universitário de Brasília (CEUB).

Do vôlei ao jornalismo

A família Schmidt sempre pertenceu ao mundo do esporte. O irmão, Oscar Schmidt, de 66 anos, hoje aposentado, alcançou o posto de maior jogador de basquete da história do país. O sobrinho Bruno sagrou-se campeão de vôlei de areia em 2016, na Olimpíada do Rio. Aos 17 anos, o caçula Tadeu desistiu da carreira no vôlei após ser cortado da seleção brasileira infanto-juvenil. “Meu sonho era virar atleta, como meu irmão. Quando fui cortado do time, falei: ‘Ah, não levo jeito para a coisa’. Queria ser o maior do Brasil. Na minha cabeça, era obrigatório me tornar o melhor da seleção”, lembra. “Veja que bobagem. Aos 17 anos, ninguém precisa terminar de fazer nada, mas começar. Desisti e passei anos me arrependendo disso.”

Escolheu a carreira que seguiu por décadas quase como um tiro no escuro. No mesmo ano, prestou vestibular para direito, comunicação social, informática e educação física. Decidiu por comunicação. Ainda assim, não era o jornalismo a primeira escolha; desejava seguir na publicidade. Um estágio na área o fez desistir. “Meu sonho não tinha dado certo, então pensei: vou batalhar por um emprego tradicional. Aí, me apaixonei pelo jornalismo”, recorda.

Nessa área, conseguiu deixar um legado. Quando trabalhava no Esporte Espetacular, no início dos anos 2000, reinventou o modo de narrar os gols, sem o tradicional “fulano tocou a bola para ciclano e abriu o placar para o time da casa”. Segundo o apresentador, ninguém pediu algo diferente; ele mesmo tomou a iniciativa de inovar. Buscou levar o bom humor, tão característico de sua personalidade, para as narrações.

“A gente sempre se vê passível de críticas, mas prefiro arriscar. Todo mundo gostou”, conta. Dali em diante, passou a descrever os gols no Bom Dia Brasil de forma mais coloquial, destacando acontecimentos inusitados durante as partidas, como se conversasse com amigos. Em 2006, entrou para a equipe do Fantástico. Lá, colecionou feitos: os bordões (“como um gato”, “que é isso, rapaz?”, entre outros), os cavalinhos do Campeonato Brasileiro e a deixa para os jogadores escolherem uma canção quando marcam três gols em uma partida.

“Morro de orgulho do ‘quem faz três gols pede música’. Foi a melhor ideia que tive na vida, porque ultrapassou o futebol”, comemora. “Virou piada para tudo e se tornou parte do folclore da cultura brasileira. Fulano tropeça três vezes, ah, pede música. Arranhou o carro três vezes, pede música...”

Para manter o fluxo inventivo, Schmidt aposta na disciplina para sua cabeça fraca de memória, como descreve. Mesmo de férias ou em horários de descanso, corre para anotar as ideias que pipocam. No trabalho, estimula o compartilhamento das visões as mais banais possíveis. “Em um ambiente criativo, é importante que todos estejam à vontade para falar as maiores bobagens e absurdos. De uma bobagem, pode sair uma ideia genial”, defende.

Ele migrou para o entretenimento logo após uma cobertura intensa sobre o coronavírus no Fantástico. “Não saí pelo cansaço. A pandemia foi barra-pesada, mas para todos; o assunto mais grave da nossa geração. Em momentos assim, eu me orgulho ainda mais do jornalismo profissional, essencial para uma sociedade saudável”, observa. “Quando comecei na profissão, só queria um emprego, um salário, mas só o jornalismo é capaz de combater as fake news”, analisa

Um cara da leveza

A mudança para o BBB exigiu uma transformação na rotina e também no estilo de Schmidt. O clássico social cedeu a vez para camisetas e moletons descontraídos. Daí, talvez, teve início um caminho versátil que o deixaria um pouco mais confortável para se encaixar nos trajes da nossa sessão de fotos.

"Não espero ser unanimidade. Já cultivei essa pretensão 200 anos atrás, quando comecei no jornalismo", diz Tadeu Schmidt — Foto: Bruna Sussekind
"Não espero ser unanimidade. Já cultivei essa pretensão 200 anos atrás, quando comecei no jornalismo", diz Tadeu Schmidt — Foto: Bruna Sussekind

“Usei roupas que jamais tinha visto na vida. Eu estava bonitíssimo, lindíssimo”, diverte-se. Seus colegas de trabalho não cansam de dizer: Tadeu topa encarar o novo e entrar nas brincadeiras. Tirou onda de ator no reality deste ano com participações no quadro Big Treta, apresentado pelo ator e comediante Luís Miranda. Mais do que isso, criou seu próprio quadro nas redes sociais — no Instagram, acumula quase 7 milhões de seguidores.

Após cada saída, o apresentador dubla momentos icônicos do eliminado, com direito a encenação dos trejeitos e figurino semelhante ao do participante. “O pessoal que cuida das redes sociais comigo é bem jovem; chega com ideias muito diferentes. De algumas eu gosto; outras, olho e falo: ‘Não, gente, isso aqui eu não vou fazer não’. Mas a maioria eu topo”, explica. “Adoro curtir experiências novas. Acho superinteressante.”

A graça, usada tanto no BBB quanto na apresentação dos gols da rodada, permeia a vida do apresentador. Poliana Abritta conta com carinho da parceria profissional. “Ele é muito disciplinado, passa horas focado. E tem uma leveza que traz para toda a equipe. Essa coisa da piada, muito rápida, em cima do lance”, afirma.

“Na vida pessoal também. Tadeu é um cara acolhedor, generoso, engraçado. Quando você me pergunta dele, eu automaticamente penso em Tadeu e Ana Cristina. Eles são uma dupla tão consistente, um casal tão simbiótico. Ele é o que é também dentro desse contexto da relação com a esposa e as filhas. São um time forte, muito engajado.”

Essa família é muito unida

Ana Cristina acompanhou atenta a tarde de modelo do marido. Entre uma pausa e outra, aparece um beijinho aqui, um afago ali, mesmo depois de 25 anos de casamento. Durante a entrevista, ela ficou acanhada logo na primeira pergunta: “Que história é essa de fetiche com videogame?”.

Schmidt revelou em um podcast que a esposa sentia tesão ao vê-lo jogar Mario Bros. com as filhas, quando ainda eram crianças — eles são pais de Valentina, 22, e Laura, 19. “Quando eu fazia jogadas, uns movimentos com o controle, ela falava: ‘Ai, meu Deus, está lindo demais’”, conta ele. Os dois gargalham e Ana avisa: “Eu estou ficando com vergonha”. Ele rebate: “Ué, você não dizia? A gente tem umas bobeiras dessas, são boas”.

Tadeu Schmidt comandou mais uma temporada do BBB neste ano — Foto: Bruna Sussekind
Tadeu Schmidt comandou mais uma temporada do BBB neste ano — Foto: Bruna Sussekind

As brincadeiras do global se tornaram uma ferramenta para driblar a timidez. “As pessoas não acreditam, mas o Tadeu é tímido”, define a esposa. “Quem é de falar mais é a Ana mesmo”, complementa o companheiro.

Ana Cristina se jogou como parceira de vida do marido. No primeiro ano de Big Brother, em 2022, quando o Brasil celebrava um ano do início da vacinação contra o coronavírus, os dois se isolaram. “Ainda havia covid, e eu morria de medo de ficar doente e não poder trabalhar. Então, nos isolamos até mesmo das meninas. A Ana Cristina não viu ninguém por meses para não correr o risco de me contaminar. Mesmo assim, era cada um em um quarto, de máscara. No finalzinho, perdemos um pouco do medo e nos encontramos em família. Foi uma choradeira”, lembra Schmidt.

A esposa também revisa os esperados discursos escritos pelo jornalista para o reality show. “Ela é crítica e supersincera, então muitas vezes fala que não gostou disso ou daquilo, isso durante minha carreira inteira. Confio muito em sua opinião. Dificilmente ela acha que estou feio, mas às vezes diz: ‘seu cabelo está uma marmota’”, diverte-se o marido.

Isso ocorre em um cenário no qual cada palavra de Schmidt acaba analisada com lupa por parte do público, com grande repercussão em plataformas como o X, antigo Twitter. Trata-se da casa mais vigiada do Brasil e possivelmente também do apresentador mais vigiado. Ele garante que não dá atenção às críticas da internet.

Já foi considerado, por exemplo, “bonzinho demais”, em comparação a seu antecessor, Tiago Leifert. “Preciso levar em consideração o que a minha equipe e os diretores acham. Nem sei quem é essa pessoa da internet. Ao mesmo tempo em que alguém acha ruim, uma infinidade acha bom”, analisa. “É normal. Não espero ser unanimidade. Já cultivei essa pretensão 200 anos atrás, quando comecei no jornalismo. Não há como não receber críticas. O torcedor do BBB é apaixonado.”

Em casa, na intimidade, a família de Tadeu assume a torcida para seu participante favorito do “BBB” a cada edição. Porém, quando rola uma reclamação sobre algum deles, o apresentador logo pede: “Não falem assim dos meus filhos!”. Ele repete um discurso parecido em relação à sua torcida por times de futebol: acaba apegado às histórias e, no fim, nutre carinho por todos, sem preferência específica — pelo menos é o que ele diz.

A parceria nas consultorias do que rola no trabalho se estende também às filhas. “Pergunto o que acham, se isso ou aquilo pode ser racismo, homofobia, machismo. Essa geração nova é muito mais evoluída, e as minhas filhas se mostram bem antenadas nessas questões”, observa. “Pergunto até para debater e crescer pessoalmente. Às vezes penso uma coisa e elas outra. Acho fundamental que a sociedade consiga conversar; ouvirmos uns aos outros; crescer nesse diálogo. Vejo como muito ruim esse momento de extrema polarização no mundo”, pondera.

Em 2021, a primogênita Valentina postou uma foto em suas redes sociais com uma placa, escrita à mão: “I'm queer and I'm proud” (“Sou ‘queer' e tenho orgulho”, em tradução). “Queer” define pessoas que transitam entre os gêneros, sem concordar com rótulos, ou que não sabem definir essa questão. Schmidt contou ter recebido a notícia sem nenhum espanto.

“Por que alguém precisa se preocupar com a orientação sexual do outro? Quanto menos evoluído o ser humano, mais ele age com preconceito. Ainda tem gente que acha um problema alguém ser homossexual. Entretanto, acredito que estamos evoluindo, ainda que devagar. Décadas atrás, tudo era muito pior, virava piadinha”, argumenta.

“Algumas pessoas me perguntam: ‘Como você aceitou, como acolheu?'. Não ocorreu nada disso, é a vida dela. Tem gente que diz ‘ah, filho a gente ama de qualquer jeito' ou ‘apesar disso', como se fosse um problema. Não é! Isso não muda absolutamente nada. É ela e pronto”, desabafa.

Do esporte para o entretenimento: em 2022, Tadeu Schmidt topou apresentar o BBB — Foto: Bruna Sussekind
Do esporte para o entretenimento: em 2022, Tadeu Schmidt topou apresentar o BBB — Foto: Bruna Sussekind

Olimpíada à vista

Até pelo menos 2027, Schmidt deve seguir dedicado ao Big Brother. Entretanto, ainda neste ano, volta ao esporte, em uma aventura que tem tudo para tirá-lo da tranquilidade novamente. Ele fechou contrato para a apresentação da Central Olímpica, ao lado de Fernanda Garay, ex-jogadora da seleção brasileira de vôlei, durante os Jogos Olímpicos de Paris, entre julho e agosto.

O programa irá ao ar diariamente, logo após a novela das 9. “Levaremos as notícias do dia ao público, mas com um olhar diferente, muito parecido com o que fiz minha vida inteira. Não é só dar a notícia, mas trazer algo que as pessoas não perceberam, uma curiosidade, ou mostrar, sob um prisma mais divertido, algo que a audiência já viu”, explica Schmidt, que também voltará a interagir com “animais” na atração, mas não os famosos cavalinhos do Fantástico.

E a dedicação não deve ser diferente, pelo menos segundo a colega Poliana. “O Tadeu mergulha mesmo, sabe? O lugar onde ele está sempre é o melhor lugar. Tenho certeza de que a equipe do Big Brother hoje tem um cara que acha que aquela equipe é a melhor que existe. Ele é assim, inteiro no que está fazendo”, elogia ela.

Diretor de conteúdo: Fred Di Giacomo
Styling: Guilherme Alef
Gerente de fotografia e produção: Enzo Amendola
Editor de arte: Victor Amirabile
Beleza: Ronald Perega
Set design: Hugo S Tex
Assistente de moda: Isa Oliveira
Produção de moda: Fedra Fonseca
Produção executiva: Daniel Cruz
Assistentes de fotografia: Felipe Viveiros e Patrick Eloy
Camareira: Salvadora Nascimento
Tratamento de imagem: Victor Wagner

Onde adquirir a GQ de maio

Tadeu Schimdt é uma das capas da edição de maio da GQ Brasil, já disponível nas bancas ou no aplicativo Globo+ e na loja virtual, com entrega para a Grande São Paulo e para Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Campinas. Para fazer sua assinatura e receber em casa, clique aqui.

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