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Por Carin Petti — Para o Valor, de São Paulo

As chuvas afetaram algo entre 300 e 400 hectares dos vinhedos gaúchos, o correspondente a até 2% da área dedicada à viticultura, segundo dados preliminares da Emater-RS. A dimensão reduzida impediu impacto no abastecimento das vinícolas do Estado, responsável por cerca de 85% da produção brasileira de vinhos e sucos de uva.

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“Não houve perdas grandes para agroindústrias e também não vai haver prejuízos para a safra que vem”, diz Luiz Bohn, gerente-adjunto da área técnica da Emater-RS. “A cadeia em si está organizada, mas estamos preocupados com as famílias das propriedades atingidas”, complementa. A viticultura do Estado está predominantemente nas mãos de pequenos produtores e, segundo Bohn, algo entre 120 e 150 deles tiveram parreirais afetados.

O enoturismo e as vendas de vinhos também não escaparam das enxurradas. Oitenta por cento das vinícolas da serra Gaúcha dependem de visitas e vendas a turistas, afirma Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra). “O pulmão do nosso Estado é a região metropolitana de Porto Alegre, que consome o enoturismo e nosso produto. E agora esse pulmão está gravemente ferido”, diz. Além disso, com o aeroporto da capital fechado, também despencou o fluxo de turistas originários de locais mais distantes.

Sem clientes, a pousada e o restaurante da vinícola Don Giovanni, comandada por Panizzi, fecharam de 13 a 27 de maio por conta da falta de clientes. Agora o movimento volta aos poucos. “Dia após dia, a gente vê uma curva leve crescendo. Mas, se pegar um sábado, quando recebíamos 400 pessoas, agora vêm 100”, conta.

“No feriado de Corpus Christi, geralmente os hotéis da serra Gaúcha tinham fila de espera. Foi muito triste ver a ocupação de 30%, quanto tinha”, acrescenta Marcia Ferronato, diretora-executiva do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria da Região Uva e Vinho do Rio Grande do Grande do Sul. Para atrair visitantes, a maior parte dos hotéis e restaurantes recorrem a promoções. “Toda cadeia do enoturismo se adaptou. Nas diárias, há descontos de 50%, 70%”, conta ela.

Em outra frente, ações miram o escoamento do vinho para fora do Estado. A plataforma Brasil de Vinhos lançou a campanha #comprevinhogaucho para conectar consumidores a vinícolas das regiões afetadas. Além disso, vinícolas como a Aurora, que registrou queda de cerca de 20% nas vendas de maio em relação ao mesmo mês de 2023, vêm estampando seus produtos com o selo “Compre Produto Gaúcho”, promovido pelo Instituto de Desenvolvimento da Uva, do Vinho e do Suco de Uva do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS).

Das 1.100 propriedades da Cooperativa Vinícola Aurora, cerca de 90 foram atingidas, todas na serra Gaúcha, com perda de 12,8% dos vinhedos, segundo o gerente agrícola Maurício Bonafé. No esforço para reconstrução, a Aurora doará aos associados prejudicados postes para cercas e mudas de videira, fornecidas gratuitamente pela Vitácea Brasil. A cooperativa também oferece assistência técnica para reconstrução e para a elaboração de projetos para requisição de financiamento pelo Pronaf.

Entre os cooperados que solicitaram o empréstimo está Valdecir Bellé, da região da Linha Burati, em Bento Gonçalves. Um deslizamento destruiu cerca de 40% dos vinhedos dos nove ha que cultiva com o irmão nas terras da família desde o tempo dos bisavós italianos. Depois de 20 dias longe da propriedade - parte deles abrigado por vizinhos pelo medo de novas enxurradas -, ele volta agora para a reconstrução e, com o irmão, pedem financiamento equivalente à metade dos R$ 520 mil estimados de prejuízos. “Não quisemos pedir mais porque temos medo de não conseguir pagar lá na frente”, diz.

Antes disso, porém, Bellé cogitou deixar a propriedade. “No primeiro momento, pensamos em cair fora. Mas como é que vamos abandonar aqui?”, indaga. “É isso que a gente sabe fazer. Tem uma história aqui de vida desde os antepassados.”

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