Futuro do Agro

Por Cibelle Bouças — Belo Horizonte

Em maio, o volume das chuvas no Rio Grande do Sul foi recorde para um só mês, mas as perdas com as enchentes poderiam ter sido menores se o governo do Estado tivesse um plano de contingência, disse hoje (5/6) Eduardo Assad, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-pesquisador da Embrapa. Ele também criticou a falta de políticas públicas para mitigar os impactos dos fenômenos climáticos extremos no Brasil como um todo.

Mais sobre o Fórum Futuro do Agro:

Em 2014, um grupo de cientistas brasileiros soltou um relatório mostrando que o volume de chuvas ia aumentar de 10% a 15% no Rio Grande do Sul a cada ano, mas nada foi feito para se montar um plano de contingência. Como uma cidade como Porto Alegre não faz manutenção de comportas? Isso não é possível”, afirmou.

“E não é problema da gestão atual. Isso vem acontecendo há 30 anos, passa por todos os matizes partidários”.

O pesquisador criticou a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul). Logo depois de o economista-chefe da entidade, Antônio da Luz, ter dito que o Rio Grande do Sul estaria “pagando uma conta que talvez apenas uma parte da fatura seja nossa”, Assad afirmou nunca ter visto a associação demonstrar preocupação com mudanças climáticas. Ele disse ainda que, dos últimos dez titulares do Ministério da Agricultura, apenas Tereza Cristina (Progressistas-MS), hoje senadora, teria falado sobre o risco de as mudanças climáticas causarem prejuízos à agropecuária.

Luz e Assad participaram da terceira edição do Fórum Futuro do Agro, realizado pela Globo Rural em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). Em sua manifestação inicial, Luz defendeu que o Brasil adote uma postura mais rígida com seus parceiros comerciais, cobrando também deles o cumprimento de medidas de conservação ambiental.

Público acompanha os debates do Fórum Futuro do Agro 2024 — Foto: Rogério Albuquerque
Público acompanha os debates do Fórum Futuro do Agro 2024 — Foto: Rogério Albuquerque

“Reconhecemos que deve ter faltado muita coisa ao longo dos anos, mas acredito que houve muito acerto na agropecuária gaúcha”, acrescentou Luz. Ele citou como exemplos de cuidados ambientais a adoção do plantio direto pelos produtores do Estado há décadas e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

Assad contestou a decisão do Congresso de manter no Código Florestal regra que permite a prática de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e turismo rural em áreas consolidadas. Ele criticou ainda a decisão do governo do Rio Grande do Sul de extinguir a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). A medida ocorreu em 2017.

“A Fepagro tinha um núcleo de cientistas que estudavam clima e fizeram zoneamento agrícola de risco climático”, disse o pesquisador. Ele defendeu a adoção de desmatamento zero e redução do uso de fertilizantes nitrogenados no solo como forma de se reduzir as emissões de carbono.

Transferência de servidores

Márcio Madalena, secretário-adjunto de Agricultura do Rio Grande do Sul, disse que, com a extinção da Fepagro, cerca de 50 servidores da fundação foram transferidos para o Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria e continuam exercendo as mesmas atividades.

“Quando assumimos essa gestão, pudemos observar que pesquisadores da extinta Fepagro passaram a ter um protagonismo na discussão das políticas internas da Secretaria. O Rio Grande do Sul tem dado atenção às questões de sustentabilidade”, disse.

Em relação às perdas dos produtores por causa das enchentes, Márcio Madalena disse que o governo gaúcho tem atuado em múltiplas frentes para estimular a reorganização das propriedades agrícolas. “Está muito claro que a capacidade produtiva está muito ligada à capacidade de tomada de crédito e endividamento desses produtores. Por isso [há] uma insistência muito grande na relação com o governo federal para se obter a prorrogação de prazos e linhas específicas de financiamento para o produtor do Rio Grande do Sul", afirmou.

Ana Doralina, presidente da Mesa Brasileira Pecuária Sustentável, considera que, como o Estado vive um momento de reconstrução, o apoio do governo federal é fundamental para que os produtores possam permanecer no campo e reconstruir suas vidas.

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