Agricultura

Por Cleyton Vilarino — São Paulo

Maior produtor de mandioca do país, o Estado do Pará está dando os primeiros passos para incluir os resíduos do processamento da raíz eleita como alimento do século pela ONU na dieta de bovinos e ovinos. A pesquisa, conduzida por estudantes de mestrado da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) tem apresentado resultados promissores e já inspirou o empreendedorismo na região de Paragominas, município com título de cidade mais rica do agronegócio no Brasil.

“Normalmente esses subprodutos são descartados ou fornecidos a suínos como resto. Foi daí que passamos a estudar o potencial da casca e das folhas em relação a quantidade de amido, matéria seca, proteína e percebemos que existe potencial”, explica a estudante de mestrado a UFRA, Francy Freitas. Com teores de proteína que podem passar de 27%, o alimento começou a ser fornecido de forma experimental, exibindo excelentes resultados segundo os pesquisadores.

Além da parte nutricional, o professor Thiago Carvalho da Silva, que coordena os estudo, destaca que os testes têm demonstrado que a silagem de mandioca tem inclusive o potencial de reduzir as emissões entérica dos animais, um dos principais passivos ambientais da atividade no país.

Em 2021, o Brasil se comprometeu durante a conferência do Clima em Glasgow em reduzir em 30% suas emissões de metano até 2030 – gás produzido durante o processo de digestão dos ruminantes. “Em algumas propriedades esses resíduos são considerados passivos ambientais, contaminantes e são descartados. Mas isso é biomassa de carbono e, ao reutilizá-lo, o animal converte isso, reduzindo também as emissões” pontua o pesquisador.

Vantagens de utilizar mandioca

Na comparação com a soja e o milho, principais grãos usados para adicionar proteína a dieta dos animais no mundo todo, o custo da casca e das folhas da mandioca é outro atrativo, chegando a ser 40% menor.

A principal resistência dos criadores, contudo, está na alta concentração do ácido cianídrico presente na planta, o que a fez ser taxada de tóxica por muitos anos. Mas o processo de secagem das folhas e de beneficiamento da casca garantiram uma redução de até 90% no teor da substância, segundo a pesquisadora Isadora Matos, também estudante de mestrado da UFRA.

“A gente fez a proteína desidratada apenas expondo as folhas ao sol, então o produtor não teria tanto custo para reutilizar esse material”, pontua Isadora. Abundante na região, a mandioca destinada à nutrição animal já fomenta o empreendedorismo local. Ex aluna de Thiago, a produtora Brena Nunes investiu na criação da própria marca de rações à base de mandioca. A menos de um ano no mercado, ela conta que a aceitação tem sido um sucesso.

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“Tem gente que até me pergunta o que eu coloco na composição, porque os animais viciam. É um alimento com uma digestibilidade muito boa e quem compra sempre me dá feedbacks muito bons”, garante a produtora. Tendo como principal apelo o baixo custo quando comparado a outras opções disponíveis na região, ela já tem recebido pedidos de fora do Estado, mas ainda sem capacidade de atender por conta da logística.

Por isso, o próximo passo da pesquisa, segundo Thiago, é inserir a casca e a folha da mandioca na cadeia produtiva de grandes empresas interessadas em usar ingredientes regionais em sua composição. Durante participação na sétima edição da Show Agro, principal feira agropecuária de Paragominas, ele contou que já há companhias interessadas em desenvolver produtos em maior escala.

“O que uma empresa grande de ração precisa é de ingrediente padronizado em quantidade, qualidade. E isso é o que estamos tentando fazer, para que as empresas vejam a mandioca como uma substituição ao milho porque já temos dados e pesquisas apontando que ela dá resultado”, completa o professor da UFRA.

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