Café

Por Paulo Santos — São Paulo

As exportações de café do Brasil no ano safra 2023/24 (julho de 2023 a junho de 2024) atingiram um recorde de 47,3 milhões de sacas de 60 kg. Segundo dados divulgados hoje pelo Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o volume negociado aumentou 32,7% se comparado com a temporada anterior.

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As vendas externas também superaram o recorde anterior, de 45,6 milhões de sacas no ciclo 2020/21.

Nos últimos 12 meses terminados em junho passado, os EUA foram o principal destino do café brasileiro, com a aquisição de 7,1 milhões de sacas, ou 2,8% a mais que na safra 2022/23. Na sequência aparecem Alemanha, com 6,5 milhões de sacas, e incremento de 26,07%, e Bélgica, que comprou do Brasil 3,8 milhões de sacas, elevação de 111,5%.

Destaque também para o aumento das vendas de café à China, que cresceram 186,1%, com o despacho de 1,64 milhão de sacas.

Ainda de acordo com o Cecafé, a receita com as vendas de café também foi recorde, com US$ 9,8 bilhões, incremento de 20,7%.

Em junho, o volume embarcado também foi inédito, com 3,5 milhões de sacas, maior quantidade registrada para este mês em cada ano, e os US$ 851,4 milhões em receita, também recorde para os meses de junho.

Assim, os embarques dos cafés do Brasil no acumulado do primeiro semestre de 2024 somaram 24,286 milhões de sacas, gerando US$ 5,331 bilhões, níveis que implicam incrementos, respectivamente, de 49,6% e 50%, aferindo, da mesma forma, performances históricas para esse intervalo de seis meses.

Causas do recorde

De acordo com o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, o resultado alcançado pelas exportações brasileiras reflete contextos díspares do mercado cafeeiro, envolvendo menor disponibilidade de outras origens produtoras, mas, também, a continuidade de intensos problemas na logística.

“Do lado bom, o Brasil, com uma safra melhor, após dois ciclos de colheita menor, ampliou seu market share no comércio global, ocupando espaços deixados por oferta reduzida de outros produtores, como Indonésia e Vietnã, principalmente com o conilon e o robusta nacionais”, disse, Ferreira, em nota.

Segundo o dirigente, outro ponto positivo foi a receita cambial recorde, que refletiu bons momentos de alta no mercado internacional ao longo da safra 2023/24.

“Os cafés arábica e canéforas (robusta + conilon), assim como o produto solúvel, tiveram suas maiores receitas cambiais da história, o que possibilitou o recorde na entrada de divisas ao país, uma leve amenizada dos altos custos no fluxo de caixa dos exportadores e, principalmente, repasses significativos do valor (Free on Board) FOB aos produtores, a uma média de 85%”, comentou Ferreira.

O presidente do Cecafé disse, ainda, que os resultados acontecerem mesmo em meio a gargalos, “com problemas no exterior devido à permanência de conflitos geopolíticos, e, internamente, com o esgotamento do principal porto brasileiro, em Santos (SP), o que tem gerado altos custos adicionais e imprevistos aos exportadores”.

Segundo dados do Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela ElloX Digital em parceria com o Cecafé, 254 navios destinados à exportação de café sofreram atrasos ou alterações de escala nos portos brasileiros em junho, número que representou 62% dos 413 porta-contêineres movimentados no mês passado. Somente em Santos, foram 118 embarcações que tiveram delay no processo de embarque, ou 82% do total.

Portos

O Porto de Santos foi o principal exportador dos cafés do Brasil no ano safra 2023/24, com o embarque de 32,6 milhões de sacas, correspondendo a 68,9% de todo volume comercializado. Apesar da liderança no ranking, esse é o menor percentual de representatividade do porto na história – que já chegou a 85% –, “o que evidencia o seu esgotamento e sinaliza mais dificuldades para o segundo semestre, quando aumentam as exportações de cargas conteinerizadas”, diz o Cecafé

Na sequência, aparecem o complexo marítimo do Rio de Janeiro, que ampliou sua participação para 28,1% das exportações, absorvendo "fugas de carga" de Santos, ao remeter 13,269 milhões de sacas ao exterior na temporada 2023/24; e o Porto de Paranaguá (PR), com o embarque de 465.770 sacas e representatividade de 1%.

Tipos de café

De julho de 2023 a junho de 2024, o café arábica, com 35,4 milhões de sacas, seguiu como o mais exportado pelo Brasil. O volume representa 74,9% do total e implica alta de 16,7% na comparação com o ano safra 2022/23.

A espécie canéfora é o principal destaque do período, elevando sua participação para 17,4% do geral. Na temporada cafeeira 2023/24, foram embarcadas 8,238 milhões de sacas dos cafés conilon e robusta brasileiros, o que representa uma substancial alta de 461,1% ante idêntico intervalo anterior.

O segmento do café solúvel, com 3,5 milhões de sacas – queda de 4,7% e 7,6% do total –, e a seção do produto torrado e torrado e moído, com 45.4 sacas (-5,2% e 0,1% de representatividade), completam a lista.

“A performance recorde dos cafés canéforas resulta de investimentos de décadas em pesquisa e tecnologia, que elevaram a qualidade e a produtividade, através de cultivo sustentável, possibilitando que essa espécie e suas variedades possuam volumes e atributos sensoriais para o Brasil ampliar seu share no mercado global, atendendo à crescente demanda mundial”, avalia o presidente do Cecafé.

Cafés diferenciados

Os cafés diferenciados, que são aqueles que possuem qualidade superior ou certificados de práticas sustentáveis, responderam por 18,6% das exportações totais brasileiras do produto no ano safra 2023/24, com o volume de 8,7 milhões de sacas enviadas ao exterior. Esse desempenho representa crescimento de 45,4% frente ao registrado no ciclo cafeeiro 2022/23.

O preço médio do produto foi de US$ 229,15 por saca, gerando uma receita cambial de US$ 2,016 bilhões, o que corresponde a 20,5% do obtido com os embarques totais de café de julho do ano passado ao fim de junho deste ano. Em relação à temporada 2022/23, o valor é 28,4% superior ao registrado nos mesmos 12 meses antecedentes.

No ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados brasileiros na safra 2023/24, os EUA ocupam a liderança, com a importação de 1,8 milhão de sacas, o equivalente a 21,1% do total desse tipo de produto exportado.

Completando o top 5, aparecem Alemanha, com a aquisição de 1,5 milhão de sacas e representatividade de 17,5%; Bélgica, com 957,9 mil sacas (10,9%); Holanda (Países Baixos), com 649,9 mil sacas (7,4%); e Reino Unido, com 376,8 mil sacas (4,3%).

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