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Por Emilio Botta — São José do Rio Preto, SP

Emilio Botta

Um dos principais estádios de São Paulo está praticamente abandonado. Construído em um terreno de 43 mil m² em São José do Rio Preto, cidade a quase 500 quilômetros da capital paulista, o estádio Benedito Teixeira não lembra nem de longe seus dias de glória, como quando foi palco do título brasileiro do Santos em 2004, por exemplo.

Com capacidade para pouco mais de 36 mil pessoas, o estádio recebeu 47 jogos de Corinthians, Santos, São Paulo e Palmeiras desde a inauguração, em dia 10 de fevereiro de 1996. No mesmo ano, o gramado até então sempre verde e bem cuidado recebeu até a Seleção Brasileira, na goleada sobre Gana por 8 a 2.

GE fez visita aerea pelo estádio Benedito Teixeira em São José do Rio Preto

GE fez visita aerea pelo estádio Benedito Teixeira em São José do Rio Preto

O GloboEsporte.com esteve no local e constatou a situação de completo abandono. É possível entrar no estádio sem qualquer identificação. O gramado, onde já pisaram Rivaldo, Edmundo e Robinho, já não existe e o que se vê é mato. Os banheiros, pichados e com mau cheiro. As bilheterias se tornaram abrigo de pombos. As entradas para as arquibancadas agora são moradias para usuários de drogas.

A situação de abandono do Benedito Teixeira é espelhada pelo clube ao qual pertence, o América-SP. Atualmente na quarta e última divisão do Campeonato Paulista e afundado em dívidas, o clube sequer consegue contratar um jardineiro para cuidar do gramado.

– Se fizesse da maneira que precisa seria um gasto grande. A gente procura economizar e gastar o mínimo possível, dentro das nossas possibilidades. Se fosse para ter manutenção, teria um jardineiro que ganharia um salário mínimo, e não temos condição para isso. O ônibus está parado porque está com o motor fundido. Sou o presidente do América, não sou homem de renunciar, porque tenho caráter. Um dia me perguntaram: "E o América?". Falei que o América devia estar na última divisão. Merece estar no lugar que está – explica o atual presidente do América-SP, José Carlos Pereira Neto, o Zé Branco.

Estádio Benedito Teixeira em São José do Rio Preto — Foto: Eduardo Durú/TV TEM

O público de quase 40 mil pessoas nos grandes jogos agora é apenas uma lembrança do que um dia foi "a segunda casa" dos grandes clubes de São Paulo.

Apesar do estado crítico, o estádio foi aprovado em todos os laudos exigidos pela Federação Paulista de Futebol (FPF). Nos últimos anos, recebeu menos de um jogo oficial por mês do time profissional do América-SP. Veja abaixo:

Série A3 (2014): 9 jogos
4ª Divisão (2015): 9 jogos
4ª Divisão (2016): 7 jogos
4ª Divisão (2017): 9 jogos
4ª Divisão (2018): 2 jogos (até o momento)

Banheiros do Teixeirão sofrem com infiltrações e falta de limpeza e manutenção — Foto: Emilio Botta

Estádio tem locais com restos de obras anteriores — Foto: Emilio Botta

Nos últimos cinco anos, o estádio Benedito Teixeira recebeu apenas 36 jogos com média de público de 211 pagantes.

Lixo acumulado dentro do estádio; mesmo com baixo público — Foto: Emilio Botta

O América-SP disputou por 44 anos a primeira divisão do Campeonato Paulista. A última participação foi em 2007.

Arquibancadas têm rachaduras em todo o estádio com capacidade para 36 mil pessoas — Foto: Emilio Botta

Alguns dos acessos as arquibancadas se tornaram moradia para usuários de drogas — Foto: Emilio Botta

O América-SP disputou a Série A do Brasileiro duas vezes: em 1978 e 1980.

Grama ou mato? Teixeirão sofre com falta de jardineiro para cuidar do gramado — Foto: Emilio Botta

Mato alto ocupa outro acesso as arquibancadas do Teixeirão — Foto: Emilio Botta

Maior público do estádio*: 36.426 pagantes assistiram a vitória do Santos sobre o Vasco por 2 a 1, no dia 19/12/2004. A partida sagrou o Santos campeão brasileiro daquele ano.

*De acordo com o "Almanaque da Federação Paulista de Futebol", aproximadamente 40 mil pessoas assistiram a vitória do Palmeiras sobre o São Paulo Paulo por 3 a 0, no dia 11/03/2001, pelo Paulistão.

Uniformes do América-SP secam nas arquibancadas do Teixeirão — Foto: Emilio Botta

Ônibus do América-SP parado no estádio Benedito Teixeira; motor está fundido — Foto: Emilio Botta

Dívidas e estádio a leilão

Com mais de 130 ações trabalhistas, o América-SP deve atualmente cerca de R$ 8 milhões. Sem garantias de pagar os processos, a Justiça do Trabalho penhorou o estádio em 2013 e determinou um leilão para saldar as dívidas trabalhistas com ex-funcionários e jogadores.

Em duas tentativas, em 2015 e 2016, o estádio entrou no lote de itens a serem leiloados pela Justiça do Trabalho, mas em nenhuma delas houve interessados. O lance inicial para arrematar o estádio, avaliado em R$ 35 milhões, era de R$ 21 milhões, valor que corresponde a 60% do valor do terreno de 43 mil m².

Atualmente, o estádio está à venda comum, mas sem nenhum interessado até o momento.

– O Teixeirão perto da dívida é uma monstruosidade. Não podemos avaliar o Teixeirão por apenas R$ 23 milhões pela estrutura que tem. Temos que preservar o Teixeirão, eu contratei umas pessoas para limpar, mas agora a nossa preocupação é manter o time, a alimentação, energia ligada, água não cortada, poço funcionando, jogadores felizes... – disse o presidente do América-SP.

Briga política e América-SP na 4ª divisão

Zé Branco, presidente do América-SP — Foto: Oscar Oliveira/Site Amadorzao

Há quatro anos na última divisão do Campeonato Paulista, o América-SP passa por um momento conturbado administrativamente, com troca de acusações entre o atual presidente José Carlos Pereira Neto, o Zé Branco e o ex-vice, Luiz Donizete Prieto, o Italiano. Ambos travam uma batalha judicial pelo comando do clube.

– O América está passando fome, o América está sem energia. Pode até cortar hoje ou amanhã porque eles deixaram acumular R$ 8 mil de dívidas. Água com gato, luz com gato, tudo. Tem hora que a gente tem que falar as verdades – disse o atual presidente, ao GloboEsporte.com.

Além disso, o clube sofre com problemas estruturais nas categorias de base. Por conta das condições precárias nos alojamentos, que ficam no estádio Benedito Teixeira, o Ministério Público pediu a liberação de todos os jogadores menores de idade que, segundo denúncias, sofriam maus tratos.

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