Copa do Mundo 2022: contexto e tendências do cenário brasileiro
Perspectivas de um evento que ultrapassa a barreira do esporte
31 maio 2022 | Por SporTV
Esporte Para Sentir
Futebol no Brasil é coisa séria. Bem além daquilo que é jogado de fato nas quatro linhas do campo, o esporte é elemento de identidade e cultura do país e, por isso, símbolo disputado em diversos contextos.
Em um ano repleto de acontecimentos como os desdobramentos da pandemia, a crise, eleições, entre outros, a Copa de 2022 traz consigo uma série de significados.
O estudo aborda o contexto histórico, tendências e comportamentos emergentes relacionados ao evento tão importante para os brasileiros.
1 A escolha do Catar
Para começar a conversa, o Catar é uma sociedade muçulmana tradicional com roupas modestas como norma. Embora haja flexibilidade em hotéis cinco estrelas, outros espaços públicos, incluindo shoppings, especificam que mulheres e homens devem cobrir seus corpos dos ombros aos joelhos. Demonstrações públicas de afeto não são bem-vindas; mesmo segurar a mão é raro.
Atualmente, o álcool é limitado a restaurantes ligados aos hotéis mais chiques, embora os organizadores da Copa do Mundo tenham dito que os turistas poderão beber em “fan zones” designadas e como parte de pacotes de hospitalidade de alto nível nos estádios.
Um relatório da Human Rights Watch pediu, em março de 2021, que o Catar aprovasse mudanças que alterariam o sistema de tutela masculina, um grupo de práticas e regras que tornam as decisões pessoais de muitas mulheres dependentes da aprovação de um membro da família do sexo masculino.
Além disso, a homossexualidade é oficialmente ilegal no país, mas as penalidades são aplicadas com pouca frequência. No entanto, os organizadores locais da Copa do Mundo disseram que não permitirão exibições que promovam os direitos LGBTQ+ nos estádios - segundo eles, com o intuito de proteger os torcedores.
Fonte: Mídia Ninja, 2022
Foto: Latha Bollapally, com seu filho Rajesh Goud, segura uma foto de seu marido, Madhu Bollapally, 43, um trabalhador migrante que morreu no Catar. Foto: Kailash Nirmal
O abuso e a precariedade das condições de trabalho de imigrantes envolvidos nas obras da Copa também vêm contribuindo para que a escolha de Catar tenha sido muito questionada globalmente.
Mais de 6.500 trabalhadores migrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram no Catar desde que conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo há 10 anos.
Houve 37 mortes entre trabalhadores diretamente ligados à construção dos estádios da Copa do Mundo, dos quais 34 são classificados como “não relacionados ao trabalho” pela comissão organizadora do evento. Especialistas questionaram o uso do termo porque, em alguns casos, ele foi usado para descrever mortes ocorridas no trabalho, incluindo vários trabalhadores que desmaiaram e morreram em canteiros de obras de estádios.
As descobertas expõem o fracasso do Catar em proteger sua força de trabalho migrante de 2 milhões de pessoas, ou até mesmo investigar as causas da aparentemente alta taxa de mortalidade entre os trabalhadores em grande parte jovens.
Fonte: The Guardian, 2021
A Anistia Internacional, embora reconheça “uma série de reformas positivas” no Catar nos últimos anos, também pediu à FIFA que “use sua influência junto às autoridades do Catar para ajudar a acabar com o abuso de trabalhadores migrantes”. A FIFA disse que está comprometida em proteger os direitos dos trabalhadores.
A repercussão de temas como estes causou estranhamento global, trazendo a possibilidade de um boicote à tona:
60%
dos torcedores estadunidenses disseram que “sim”, quando questionados se a Copa do Mundo deveria ser retirada do Catar e realizada em outro país.
A pesquisa também perguntou a 3.186 torcedores de outras partes do mundo se sua seleção nacional deveria boicotar o evento. Sete em cada 10 foram a favor de um boicote.
Fonte: RunRepeat, 2021
A Copa do Mundo é mais do que um evento esportivo: é também um encontro cultural.
Em um cenário envolto em polêmicas e questões sociais e políticas controversas, é preciso pensar com cautela no tom da cobertura. Com muito acesso à informação e muitos espaços para se expressar, o público, hoje, cobra da mídia um olhar crítico e uma posição clara sobre a realidade.
Cada escolha do que cobrir e de como cobrir é a expressão de um ponto de vista, e é preciso estarmos prontos para explicar ou justificar nossas escolhas narrativas - sobre o que acontece dentro e fora de campo.
E isso se mistura a um outro contexto desafiador…
2 Cenário sócio-político brasileiro
A Copa de 2022 será um espetáculo diferente de todos anteriores.
Isso porque seu aspecto celebratório será diretamente impactado pelo cenário político brasileiro.
Ao longo da história, muitos políticos procuraram se aproximar do futebol, apesar das incertezas sobre os resultados da iniciativa.
“
A seleção acabou se tornando um símbolo oficioso do Brasil. É normal que tenha tido uma disputa para se aproximar dela.
Flávio de Campos, Professor da USP, sobre a importância da seleção brasileira para os líderes políticos
No Brasil, Copa do Mundo e eleições presidenciais acontecem juntas ― mas, depois de 92 anos, o principal torneio de futebol do planeta vem depois das urnas.
“
A nossa preocupação era estar bem fisicamente, porque tecnicamente nós sabíamos que, se bem preparados para jogar na altitude mexicana, nós ganharíamos a Copa do Mundo. Sem pensar em ditadura. O que interessava para nós era a nossa carreira, o orgulho profissional em ganhar uma Copa do Mundo.
Ex-jogador Carlos Alberto Torres, presente na seleção
brasileira na Copa de 1970, durante a ditadura militar
Na Seleção, há os que defendem a não exploração política do futebol. O técnico Tite pensa assim, como já deixou claro inúmeras vezes. No meio de seus auxiliares existe uma convergência na interpretação da questão.
“
À medida que o futebol foi ganhando força de manifestação popular, e isso aconteceu logo na primeira década do século 20 […], pois, onde está o povo, tem o eleitor, e, onde está o eleitor, está a política. [O futebol] É um esporte que conseguiu se transformar essencialmente na cara do Brasil. Nenhum governo, nenhum político, mesmo que não gostasse de futebol, poderia deixar de participar.
Marcos Guterman, Jornalista, historiador e autor do livro O Futebol Explica o Brasil
Então, será que a Copa conseguirá nos distrair conforme o resultado das eleições?
Como parte do Programa de Pesquisa da FIFA, a Nielsen pesquisou entrevistados em 28 mercados globais e 79% observaram que estão “animados” com o próximo torneio. Esse percentual é mais alto do que os relacionados ao Euro 2020 e as Olimpíadas de Tóquio, classificando-o em primeiro lugar dentre todos os principais eventos esportivos.
O maior nível de entusiasmo vem dos mercados sul-americano (83%) e africano (75%).
No que diz respeito à seleção brasileira, as expectativas são sempre altas.
Nem que seja no mundo das apostas.
O time é o favorito para conquistar o hexa no Catar, segundo levantamento dos sites bet365 e Oddschecker, que agrupa a média dos 23 principais sites de apostas do mundo.
O futebol sempre foi referência ao patriotismo brasileiro, símbolo de união nacional.
Mas, com o Brasil dividido pelos problemas da conjuntura política, uma possível falta de interesse pela seleção poderia ser um reflexo do quadro de instabilidade do país.
Em 2018, a Copa parece ter sido vivida de uma forma menos culpada (como uma “pausa permitida”), um ponto entre “alívio e necessidade” frente aos graves efeitos da crise institucional do país.
Temos relatos de pessoas que, em 2014, sentiram-se muito mais impulsionadas a boicotarem a Copa do que em 2018. Parece que o torcedor brasileiro caminhou na direção de um maior discernimento entre “o que não concorda e precisa mudar” x “o que dá prazer e só acontece de tempos em tempos”.
Fonte: Globo, Pesquisa Quali Copa do Mundo 2018
Como o brasileiro encarará o campeonato de 2022?
Em um ambiente de polaridade política, o futebol oferece uma leveza que traz a potencialidade de uma reconexão.
Sabemos que o brasileiro está disposto a deixar as diferenças de lado por um objetivo em comum.
E não existe época melhor para incentivar o clima de união do que a Copa do Mundo.
Pensando na comunicação, é preciso considerar o momento sócio-político-econômico como pano de fundo para a estratégia de cobertura esportiva.
Porém é crucial que seja criado um fio condutor dessa comunicação que traga leveza ao momento que vivemos, abrindo espaço para sentimento mais puro de patriotismo que cultivamos em torno do futebol.
3 Frentes de atenção
A Copa, por sua natureza, agrega maior humanidade à sua torcida.
O mundo da Copa
4 em 4 anos = temporário e intenso
Contagiante
União das nações
União das torcidas
Objetivo comum
Sintonia
Botar as diferenças de lado
Respeito e tolerância
Evento glamoroso
Mesmo quem é distante do mundo do futebol torna-se torcedor
É o mundo em harmonia
Emoção compartilhada
O mundo do futebol
Está no dia a dia
Paixão | “Time do coração”
Nervosismo
Rivalidade
Violencia
Fanatismo
É o mundo que a gente vive, mais egoísta
Emoção segregada
Fonte: Box1824, Olimpíadas 2021
E a cada ciclo, embarcamos em uma montanha russa de emoções.
2006
Alemanha
Sentimento Prévio
Antecipação do Hexa
Seleção brasileira
Seleção e heróis
Resultado
Eliminação inesperada gera grande frustração
Emoção compartilhada
Seleção brasileira
2010
África do Sul
Sentimento Prévio
Expectativa do Hexa
Seleção brasileira
Seleção “Sem Brasileiros”
Resultado
Eliminação decepcionante não estraga a festa
Emoção compartilhada
Cultura Africana
2014
Brasil
Sentimento Prévio
Esperança do Hexa
Seleção brasileira
Seleção #NãoMeRepresenta
Resultado
Humilhação no campo e vitória na recepção
Emoção compartilhada
Povo Brasileiro
2018
Rússia
Sentimento Prévio
Dúvida do Hexa
Seleção brasileira
Seleção #Apreensão
Resultado
Derrota com dedicação em campo e respeito ao povo
Emoção compartilhada
Retomada da Paixão
2022
Catar
Sentimento Prévio
Preparação para o Hexa
Seleção brasileira
Seleção #DeMuitos
Resultado
Brilho no olhos, e a realização de que dias melhores virão
Emoção compartilhada
Reconquista da Conexão
Fonte: Box1824, Olimpíadas 2021
“
O futebol é, às vezes, contraditório. Por mais que valorizemos o desempenho das equipes, o resultado é a alavanca, a referência, nas análises do jogo. O espetáculo de grande qualidade é consequência do futebol bem jogado. Não é a premissa. Quando um time ganha, tudo é exaltado, até os erros. Quando perde, o clube é criticado, até as virtudes.
Tourão, Cronista esportivo
Para os brasileiros, a Copa de 2022 é um momento de teste de nossas virtudes como nação. Estamos em um despertar coletivo em busca de nos reestabelecer pós período de pandemia e instabilidade político-econômica
Em 2022, o calendário está totalmente diferente e isso também afeta nosso espírito:
Carnaval em abril
Eleições em outubro
Copa em novembro
Ao mesmo tempo, enfrentamos uma pesada crise econômica:
Brasil deve ter pior desempenho entre países do G-20 em 2022
A economia do Brasil está desacelerando rapidamente e deve registrar o pior desempenho entre as 20 principais do mundo no próximo ano, com riscos de recessão no horizonte de um ano de eleição.
Dos EUA ao Brasil, por que risco de estagflação voltou ao debate no mundo
A economia global pode estar distante da estagflação dos anos 1970. Mas da pandemia ao petróleo, a guerra na Ucrânia surge em um momento dos mais delicados.
Pandemia e crise econômica mudam perfil de pessoas em situação de rua
Antes, eram mais homens, negros e solteiros. Em 2021, são famílias inteiras.
Preço dos combustíveis dispara e Bolsonaro prepara medidas para evitar danos no ano eleitoral
Mega-aumento dos combustíveis piora o quadro de inflação e torna a reeleição ainda mais difícil.
Para o brasileiro, a Copa do Mundo é um respiro escapista.
O mundial representa um momento de esperança em que desavenças político- sociais podem perder força, e um novo momento de encontro e alegria pode ressurgir - depois de anos tão difíceis.
Enquanto a polarização política nos traz tantas incertezas, vamos focar em uma leitura acerca do sentimento do torcedor brasileiro e 5 frentes de atenção para uma cobertura envolvente e ativa.
A Ativismo esportivo
Atletas usam sua voz para alavancar assuntos encobertos pela mídia.
Jogadores da Alemanha usaram camisetas para mostrar apoio aos trabalhadores migrantes do Catar antes da vitória das eliminatórias da Copa do Mundo de 2022 sobre a Islândia.
Os jogadores noruegueses também se manifestaram e usaram camisetas com a mensagem "Direitos humanos dentro e fora do campo" antes de uma partida com Gibraltar.
31%
dos fãs pesquisaram ou mudaram sua postura sobre questões em torno de justiça social depois que o assunto foi trazido à sua atenção por um de seus favoritos atletas.
Fonte: MarketCast, 2021
Jogadoras da Austrália posaram para uma foto de grupo com uma bandeira indígena antes da partida de futebol feminino contra a Nova Zelândia nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020.
“
O esporte tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, o poder de unir as pessoas de uma maneira que pouco mais faz. Ele fala aos jovens em uma linguagem que eles entendem. O esporte pode criar esperança onde antes havia apenas desespero. É mais poderoso do que o governo em quebrar as barreiras raciais.”
Nelson Mandela
Foto: Victor Affaro
Para a professora Djamila Ribeiro, especialista no assunto, as manifestações esportivas são importantes para trazer temáticas como o racismo aos holofotes. Mas não são o suficiente. “É importante se manifestar em jogos, por dar visibilidade ao tema, mas acho que é importante para, além disso, tomar ações concretas”, disse a filósofa em entrevista ao Estadão.
Djamila é a principal referência de um curso sobre racismo que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) lançou em 2021. Ela montou uma apostila, junto com o professor Tiago Vinícius, que foi usada em um curso obrigatório para os atletas que iam disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio.
Após o anúncio da WNBA dos jogos adiados, os jogadores do Washington Mystics usaram camisetas brancas com representação de balas nas costas protestando contra a brutalidade policial sofrida por Jacob Blake em Kenosha, Wisconsin.
Foto: Reprodução
B Comunicação diversa
O papel educativo da cobertura jornalística para estabelecer novos parâmetros e condutas no mercado.
“
O tratamento dispensado às jornalistas esportivas reflete o das atletas femininas pelas federações esportivas, e isso tem que parar. Precisamos de reportagens esportivas inclusivas, tratamento igual para todos os jornalistas esportivos e fim do sexismo nos esportes.”
Maria Angeles Samperio, Presidente do Conselho de Gênero da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ)
A IFJ cobra ainda que os meios de comunicação recrutem mais mulheres para cobrirem esportes, e que adotem políticas para erradicar o sexismo, como diretrizes para o assédio, a igualdade de remuneração e as políticas de oportunidade. E defende que as reportagens sejam inclusivas e evitem estereótipos de gênero.
Tatiana Bueno tem o nome marcado na história como a primeira repórter cinegrafista em cobertura esportiva. Desde o início da cobertura dos Jogos Olímpicos de Inverno na Globo, nunca uma mulher havia atuado assim. Em entrevista à Marie Claire em 2021, ela abriu o coração sobre caminho dentro do audiovisual e machismo: ‘Eu tive que mostrar duas vezes mais trabalho e credibilidade para chegar onde estou hoje’.
Foto: Globo / Pedro Gomes
77,1%*
dos colunistas eram brancos; 82,2% eram homens.
79,2%*
dos editores esportivos eram brancos e 83,3% homens.
85,6%*
dos repórteres eram eram homens.
Atualmente, a ESPN tem uma parceria com a The Association of LGBTQ+ Journalists, com ênfase na utilização dessa conexão para criar um pipeline de talentos. A rede também tenta recrutar e compartilhar oportunidades de trabalho com a comunidade em colaboração com a iniciativa Out and Equal.
Leah Hextall, Cassie Campbell-Pascall e Linda Cohn fizeram história como a primeira equipe de transmissão 100% feminina da NHL na ESPN para o jogo de hockey entre Arizona Coyotes e Montreal Canadiens na Gila River Arena, ocorrido em janeiro de 2022.
A professora Toni Bruce, especialista em sociologia do esporte da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, disse à CNN:
“Acho que a mídia esportiva reflete a sociedade. Assim, à medida que a sociedade muda, a mídia esportiva o faz também, mas muitas vezes ela está atrás da mudança, e não necessariamente liderando”.
A Nova Zelândia é um bom exemplo de mudança social abrindo caminho para a cobertura do esporte, explicou a professora, observando que os 12 canais que fizeram a cobertura olímpica em 2021 utilizaram a terminologia de gênero neutro – com comentaristas usando palavras como “força” e “habilidade” ao falar sobre as mulheres.
*Fonte: 2021 Sports Media Racial and Gender Report Card: Associated Press Sports Editors (APSE) Racial and Gender Report Card
C Sustentabilidade como prioridade
A promessa da primeira Copa do Mundo da FIFA neutra em carbono.
15%
dos materiais de construção utilizados nos estádios em Catar foram provenientes de materiais reciclados. E 90% dos resíduos da demolição de estruturas antigas gerados nos estádios Al Janoub e Al Rayyan foram reutilizados ou reciclados.
O Catar também criou o primeiro estádio desmontável do mundo. Construído sob medida para esta Copa, o Ras Abu Aboud foi feito inteiramente de contêineres reciclados. E uma vez que as sete partidas programadas terminarem, os contêineres, os assentos do estádio e até o teto serão desmontados para uso em outro lugar, em outro evento, esportivo ou não, dentro ou fora do Catar.
Emissoras como BBC Sport, BT Sport, Sky Sports, Premier League Productions, IMG, Super Sport e NBC Universal, bem como a iniciativa de sustentabilidade Albert, experimentaram tecnologias, formatos e fluxos de trabalho em nuvem de vários provedores, compartilhando feeds de câmera, áudio, gráficos e humanos recursos para evitar a duplicação e reduzir viagens e outros requisitos de energia na cadeia de produção como parte do Programa Acelerador de Inovação de Mídia da IBC (International Broadcasting Convention).
As descobertas incluem a confirmação de que a produção em nuvem reduz a quantidade de infraestrutura técnica necessária para a produção da galeria, para algumas emissoras, em até 70%. Também reduz ainda mais os requisitos para instalações técnicas significativas no local.
Mark Smith, líder do programa do IBC, comentou:
“
É impossível para a indústria de mídia e entretenimento se tornar mais sustentável sem dados qualitativos. A equipe por trás dessa colaboração exclusiva ajudou a criar métricas importantes analisando as pegadas de carbono de jogos de alto nível da Premier League, fornecendo dados acionáveis para que toda a indústria possa fazer sua parte para ajudar a resolver a crise climática.”
D Tecnologia descentralizada
Novos recursos e plataformas permitindo expandir e multiplicar as experiências dos torcedores.
A NFL está desenvolvendo um serviço de streaming por assinatura que inclui jogos, rádio, podcasts e conteúdo de equipe.
A NFL distribui jogos ao vivo gratuitamente por meio de dispositivos móveis e no Yahoo para tablets e laptops, mas esses acordos expiraram. No futuro, se os fãs quiserem assistir jogos em seus celulares e não tiverem uma assinatura a cabo, eles poderão assinar o que no momento está sendo chamado provisoriamente de NFL Plus.
Com mais de um bilhão de downloads de aplicativos, Kuaishou visa alcançar os espectadores onde eles estão: seus telefones. O grupo é um concorrente direto do TikTok e recentemente assinou um acordo de transmissão com a UEFA para direitos de jogos da Liga dos Campeões. O acordo faz com que Kuaishou se torne a plataforma oficial de streaming da UEFA Champions League nesta temporada e dá o direito de produzir vídeos curtos e re-criações baseados em conteúdo original fornecido pela UEFA.
Canais de TV que transmitem jogos e fazem a cobertura jornalística de eventos esportivos não estão isentos desta dinâmica: pelo contrário, saem na frente quando direcionam seus recursos e seu acesso para além da lógica tradicional.
Uma estratégia de canais robusta, hoje em dia, tira proveito do volume de material disponível para jogar com a fragmentação das comunicações a seu favor.
Uma das novas fronteiras para capturar os olhos dos espectadores provavelmente serão os gráficos de realidade estendida (XR) e o uso da quantidade cada vez maior de dados esportivos e análises fornecidas por uma série de empresas para gerar elementos visuais atraentes na tela, aprimorando ainda mais a compreensão dos esportes e a experiência dos fãs.
Estamos começando a ver alguns insights verdadeiramente inovadores em esportes tão diversos quanto o críquete e o automobilismo, e a maneira como eles estão sendo apresentados ao espectador está se tornando menos intrusivo e mais informativo ao mesmo tempo.
A NBC transmitiu as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas de Tóquio de 2022 em realidade virtual (VR). Aqueles com fones de ouvido VR, como o Meta's Quest 2, puderam assistir a vistas de 180 graus das cerimônias, vários eventos, recursos e destaques dos jogos. A transmissão conta com um feed de vídeo 8K, equivalente à qualidade de uma TV de última geração, e visa elevar a experiência do espectador, fazendo com que o público se sinta como se estivesse nos próprios eventos.
O Alibaba lançou os tokens não fungíveis (NFTs) com temas dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim.
A gigante do comércio eletrônico criou badges virtuais celebrando patinação de velocidade, esqui freestyle, patinação artística e outros eventos, apresentados em um estilo tradicional de pintura a tinta chinesa. O sucesso desses lançamentos de NFT temáticos indica que os espectadores estão gravitando para pedaços de eventos que podem guardar e desfrutar a longo prazo.
E Poder da torcida
A celebração da comunidade como novo status na era digital.
Como marca, “você não está criando conteúdo que as pessoas consomem, você está criando conteúdo com o qual as pessoas criam”.
Disse Carolina Arguelles Navas, gerente de marketing de produtos do grupo Snap Inc, à Wunderman Thompson Intelligence.
“Você está lançando um conteúdo que todo mundo personaliza e com o qual tem uma experiência pessoal.”
A Copa do Nordeste promove uma disputa pela escolha do novo narrador da competição, que será decidida em votação popular promovida dentro do TikTok na campanha A Voz da Lampions.
A votação foi aberta no perfil da Copa do Nordeste e a comunidade TikTok é quem escolhe o seu narrador favorito: a disputa final está entre @leonardoaquinolocutor e @arthursousatv.
A campanha A Voz da Lampions teve início em março 2022, e os semifinalistas foram escolhidos por um time de criadores composto por Iran Ferreira - o Luva de Pedreiro (@luvadepedreiro), Bolívia (@boliviazica) - ex- integrante do canal Desimpedidos, a jornalista baiana Manuela Avena (@manuela.avena) - primeira mulher a narrar a Lampions e o apresentador alagoano Henrique Pereira (@henriqueopereira_). Já os finalistas também foram definidos por votação popular na plataforma.
A MyTVchain afirma que é uma plataforma “única” que “descentraliza” o streaming de esportes, redireciona os fluxos de receita de volta para atletas, equipes e federações, enquanto recompensa os torcedores por sua lealdade e apoio eterno.
Em 2024, a startup francesa espera que seu Fan2Earn (V4) faça parte dos Jogos Olímpicos. Seu objetivo final é ajudar mais de 1.000 atletas em todo o mundo a monetizar e animar sua comunidade para que possam participar dos Jogos e interagir com os fãs.
A plataforma também possui um mercado NFT de 360 graus de última geração e uma plataforma de staking e farm para seu token nativo $ MYTV (BEP-20). A empresa planeja lançar seu token $MYTV por meio de uma ICO em 8 de fevereiro de 2022. Uma ICO é um processo ou evento em que uma empresa tenta levantar capital vendendo uma nova criptomoeda.
É também o momento de abraçarmos a cultura athlete-centric.
A tecnologia precisa ser desenhada em torno dessa mudança de “fãs do time” para “fãs do superstar”.
Um exemplo é o NBA Top Shot, um mercado baseado em blockchain onde os fãs podem comprar, vender e negociar itens e digital assets de seus superstars favoritos.
O conjunto de fãs de um time costumava ser formado principalmente por torcedores desse time. Hoje, qualquer pessoa em qualquer lugar pode estar assistindo por suas próprias razões distintas. Talvez elas estejam seguindo um jogador individual por seu conteúdo, ou para inclui-lo em seu time de fantasy ou talvez tenham apostado se o lateral esquerdo marcará um gol ou não.
Com isto, colocar o atleta como central em iniciativas de comunicação e experiência pode abrir novas frentes de conexão com o público.
Pensar nesses pontos de atenção eleva a construção de uma cobertura empática, tecnológica e culturalmente relevante, que envolve o torcedor sem deixá-lo alienado acerca de questões contemporâneas.
Que venha a Copa 2022!
Torcedores do mundo inteiro estão ansiosos para a Copa do Mundo de 2022. Para os brasileiros, as expectativas vão ganhando contornos cada vez mais positivos . Dentro de campo, há uma confiança de que a seleção conta com jogadores habilidosos capazes de disputar a taça. Fora dele, a realização do evento frente a um período tão conturbado intensificado pela pandemia, ajuda a estabelecer valores como a união, o entretenimento e a festividade.
Afinal, o futebol representa muitas camadas da identidade popular, e trazer a celebração do que nos constitui enquanto povo é uma delas.
Realização: Futures Unit by Box1824
Diagramação: Daniel Frias, Roger Arruda e Izabella Donafe
Edição: Luiza Lourenço e Tiago Lontra
Imagem de capa: Getty Images - Edi Lopes
Vídeo de capa: Pexels
Tom Fisk
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