Beleza sustentável e consumo consciente
Como a produção de cosméticos sustentáveis tornou-se regra na tentativa de diminuir o impacto ambiental
21 set 2022 | Por Globo
Comportamentos Emergentes
Será que você sabe exatamente o que mora no seu banheiro? Nos últimos anos, muitas pessoas passaram a questionar os componentes presentes nos rótulos dos shampoos, condicionadores, desodorantes, perfumes, cremes e maquiagens. Esse movimento deu origem a uma corrente que não para de crescer e que foi intensificada durante a pandemia de Covid-19: o mercado de beleza sustentável.
Constituído por produtos naturais, veganos e limpos, livres de toxinas e substâncias danosas ao ser humano e meio ambiente, os cosméticos sustentáveis rejeitam ativos sintéticos, como Cocamidopropyl Betaine, Sodium Laureth Sulfate e Paraffinum Liquidum, substituindo-os pelos orgânicos e veganos, extraídos de forma sustentável da natureza.
Sendo o Brasil um dos que mais consome cosméticos no mundo, a beleza sustentável deixou de ser “moda” para tornar-se regra em um país onde o interesse público pela sustentabilidade continua aumentando e os fabricantes e marcas veem na busca por ingredientes mais ecológicos uma forma de crescer financeiramente e conquistar ainda mais consumidores.
Mercado que não para de crescer
O mercado de cosméticos no Brasil é um dos maiores do mundo. De acordo com dados de 2019 divulgados pela ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de maiores consumidores de produtos de beleza e higiene, perdendo apenas para os Estados Unidos, China e Japão, indicando uma alta procura por parte dos brasileiros.
Esse setor é tão forte no país que, só em 2019, movimentou cerca de US$ 29,6 bilhões na economia, com crescimento de 4,2% quando comparado a 2018. Além de demonstrar a valorização que o brasileiro dá ao setor, esses dados representam grandes oportunidades aos empreendedores do ramo.
Isso porque, com a alta, houve a expansão de diversas marcas de cosméticos nacionais, inovando com preços acessíveis e diversidade de texturas e efeitos. Assim, os consumidores brasileiros têm dado maior preferência aos produtos aqui produzidos, e, em simultâneo, se preocupado com o impacto ambiental que essa força econômica pode causar.
Uma mudança necessária
Embora o consumo de produtos de beleza e higiene esteja aquecido, os consumidores também estão mais atentos a temas ambientalmente relevantes, como a conservação de espécies e da natureza. Nesse contexto, o mercado de cosméticos naturais e veganos pode crescer quase R$ 18 bilhões até 2024, segundo dados da Technavio.
Ou seja, aqueles produtos convencionais, produzidos com substâncias químicas - POP’s (Poluentes Orgânicos Persistentes) -, que demoram muito tempo para se decompor na natureza e se acumulam no organismo humano, tornaram-se os vilões.
O ciclo dos grandes vilões: os cosméticos convencionais.
Prometendo um toque sedoso e brilhante nos cabelos ou uma pele aveludada e profundamente limpa, são produzidos com substâncias derivadas de petróleo (plástico), pequenas partículas de polietileno, corantes, neutralizantes, ceras parafínicas e polímeros sintéticos.
Ao serem despejados na rede de esgoto, e, posteriormente, chegarem aos rios e oceanos, são ingeridos por animais aquáticos, causando enorme dano à vida marinha e, em consequência, às pessoas que consumirão os animais.
Além dos componentes nocivos, um alto volume de resíduos oriundos das embalagens dos produtos é descartado de forma indevida na natureza, impactando negativamente os ecossistemas.
Conforme o Fórum Econômico Mundial de Davos, estima-se que, anualmente, são produzidos 1,3 milhões de toneladas de resíduos no mundo, sendo 78 milhões só no Brasil. A previsão é que até 2050 haja mais plástico nos oceanos do que peixe.
Com foco na reversão desse cenário e no atendimento às novas demandas dos consumidores adeptos da beleza sustentável, as empresas de cosméticos e higiene vêm revendo seus processos de produção. A produção dos chamados cosméticos “verdes” possui como premissa três características: ser eco-friendly (amigável ao meio ambiente), Cruelty Free (não testado em animais) e Paraben Free (não contém Parabeno, ingrediente cancerígeno).
Mais que uma tendência, já se tornou regra aderir a uma produção ambientalmente sustentável. Como avalia o farmacêutico Daylan Marques, mestre em química e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), em entrevista ao G1, da Globo: “(...) As pessoas hoje em dia estão nessa onda da consciência ambiental muito forte e as empresas que não se adaptarem a isso vão perder muito dinheiro. A palavra do momento é sustentabilidade. É uma tendência irreversível. O estilo vegano na alimentação, vestimenta e outros hábitos vem muito forte”.
O levantamento Beauty and Personal Care Voice of the Industry, realizado pela Euromonitor International, comprova isso ao declarar que as principais tendências para os próximos cinco anos são: engajamento digital, posicionamentos éticos e atributos orgânicos e naturais.
Beleza sustentável: tipificações e matérias-primas
Geralmente, para receber um selo de “natural”, o produto cosmético precisa utilizar matérias-primas cujas substâncias sejam de origem vegetal ou oriundas de insumos orgânicos e renováveis, todos detalhadamente descritos no rótulo da embalagem. Confira as diferenças entre os cosméticos:
Orgânicos:
Devem conter, no mínimo, 95% de matérias-primas orgânicas, destacando os ingredientes utilizados na produção e apresentando, obrigatoriamente, o selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISOrg) ou o selo IBD Orgânico.
Veganos:
Não devem utilizar matéria-prima de origem animal nem realizar teste final em animais. Nesse caso, o consumidor deve se atentar à etiqueta e ao selo criado em 2013 pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SBV).
Cruelty-free:
Assim como no anterior, não são desenvolvidos nem testados em animais.
Biodinâmicos:
É como um “upgrade” do produto orgânico, porque, além de não usar compostos químicos, também segue um ciclo natural no plantio e colheita das matérias-primas.
Outras definições que fazem parte do movimento de beleza sustentável:
Blue beauty (beleza azul)
Movimento que alerta sobre o impacto dos cosméticos nos oceanos, a fim de reduzir a quantidade de plástico e o impacto nos oceanos e vida aquática.
Clean beauty (beleza limpa)
Termo usado para definir aqueles produtos que não têm ingredientes nocivos ou tóxicos, tanto para a saúde humana quanto para o meio ambiente na formulação. Para isso, não necessariamente as fórmulas precisam ser naturais ou orgânicas, podem ser sintéticas desde que não apresentem nenhum risco.
Green Beauty (beleza verde)
Chama atenção para todo o impacto ambiental que envolve a produção de cosméticos, priorizando componentes 100% naturais e provenientes de uma agricultura responsável e respeitosa.
Essas expressões têm tudo para crescer e conquistarem um espaço ainda maior na sociedade de consumo. “O movimento de beleza limpa pode ter começado como natural ou orgânico, mas evoluiu para além desses termos. (...) É, em grande parte, impulsionado pelos jovens millennials e da geração Z. Eles são mais francos e engajados socialmente, têm maior preocupação ética e boicotam marcas que não respeitam esses princípios”, declara Bruna, da WGSN, companhia de autoridade global que realiza previsões para se antecipar às futuras tendências, em entrevista a Revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios, do Globo.
Em seu Instagram, a criadora de conteúdo digital Nyle Ferrari reforça a importância da beleza sustentável e orienta seus seguidores.
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Investimento promissor
Justamente por corresponder à expectativa e demanda de consumo do setor de cosméticos e de higiene, o mercado da beleza sustentável é muito promissor para as marcas que decidem investir no conceito, seja a empresa grande ou pequena. A seguir, conheça algumas das brasileiras e o que elas têm feito.
Care Natural Beauty
Fundada em 2017, a Care Natural Beauty privilegia ativos locais e aposta no conceito “high clean”, com produtos feitos a partir dos mais puros ativos da natureza, livres de toxinas, e aliados à tecnologia. Hoje, é reconhecida por entregar excelentes resultados sem agredir o meio ambiente e a saúde dos consumidores.
Além dos cosméticos para pele, as embalagens dos produtos são produzidas com materiais sustentáveis, como vidro, papel e alumínio, incentivando o consumo consciente.
B.O.B
Uma das pioneiras em cosméticos em barra no Brasil, a marca não utiliza plástico em suas produções e reforça aos consumidores a importância de ficar atento aos processos de fabricação das empresas de cosméticos e higiene. Cada detalhe é pensado pela B.O.B, visando ter zero plástico nos produtos, nas embalagens (100% biodegradáveis) e até na forma de enviar o produto ao cliente, já que não se usa plástico e nem a caixinha comum do Sedex.
Boticário
O Grupo Boticário também aderiu ao novo comportamento do mercado e, recentemente, anunciou o desenvolvimento de um projeto-piloto de uma nova embalagem cosmética sustentável, feitas com base em madeira e liga natural, batata-doce, óleo descartado em restaurantes, PVA, subproduto biodegradável e mandioca.
Natura
Com o lançamento da linha Natura Biōme, a Natura ingressou no mundo da beleza sustentável apresentando produtos em barra com fórmulas altamente naturais, sensoriais, veganas e de máxima performance.
Simple Organic
A marca de cosméticos clean beauty brasileira nasceu há quatro anos, em São Paulo (SP), se consolidando como uma marca de destaque em produtos de beleza sustentáveis, sem gênero, com ingredientes 100% naturais e orgânicos. Além disso, é responsável por cuidar da cadeia produtiva, da logística reversa e da compensação de carbono, se posicionando politicamente a favor da causa ambiental.
Bioart
Fundada em 2010, conta com um portfólio de cosméticos desenvolvidos a partir de alta tecnologia e ingredientes 100% veganos e naturais, em sua maioria orgânicos. Os itens para a pele e maquiagens já são um case de sucesso na defesa do meio ambiente, atestado pela EcoCert, certificadora que atesta práticas ambientalmente corretas e socialmente conscientes.
A beleza, cada vez mais, em compromisso com a sustentabilidade
Mais que uma simples moda passageira, os produtos de beleza e higiene sustentáveis apresentam benefícios que vão além das tendências. Para o consumidor, as vantagens dos cosméticos naturais superam os possíveis custos ou pesquisa extras, garantindo responsabilidade ambiental, maior eficácia e saúde a longo prazo numa única compra.
Já para as marcas, a criação de produtos ecológicos impacta diretamente o respeito à preservação ambiental, a opinião pública, cada vez mais interessada nos cosméticos verdes, e, consequentemente, o aumento de vendas.
Portanto, o futuro dos cosméticos sustentáveis é cada vez mais promissor e as marcas, empresas e consumidores devem se adaptar ao novo mercado para uma saúde e planeta ainda melhores.
Redação e Edição: Daniele Olimpio, Tiago Lontra e Luiza Lourenço
Diagramação: Daniel Frias, Izabella Donafe e Roger Arruda
Imagem de capa: Deagreez
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