As crianças brasileiras e os livros
Por que é importante incentivar a leitura na infância?
18 abr 2022 | Por Gloob
Gerações Sem Idade
No estudo “Os hábitos de leitura dos brasileiros”, que mergulha no cenário literário do país e no estímulo à prática, o Gente havia mostrado que quem mais lê por aqui são os pré-adolescentes entre 11 e 13 anos - a faixa etária representa 81% do percentual de leitores brasileiros.
A publicação mostra ainda que o único grupo etário que teve um aumento no número de leitores entre 2015 e 2019 foi o das crianças de 5 a 10 anos. Os dados foram apresentados na pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, feita pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural e divulgada em setembro de 2020.
Em outro levantamento, que se refere ao universo de lares com crianças, alguns pontos reforçam que a participação infantil é responsável por uma fatia considerável dos números referentes à leitura no país, com destaque para as meninas brasileiras acima de 8 anos de idade:
Aproximadamente 4 milhões de crianças têm os livros como atividade preferida;
A região sul se destaca com maiores hábitos de leitura, seguido pelas regiões nordeste e sudeste;
As meninas têm maior afinidade com os livros, que são mais queridos principalmente pelas crianças acima de 8 anos;
Ler livros é uma das atividades que os pequenos mais compartilham com os pais (49%);
8 em cada 10 pais/mães leem livros com seus filhos de 2 a 4 anos.
Ou seja, são os mais novos que movimentam o mercado literário e mantém hábitos de leitura mais efetivos - práticas essas que são comprovadamente benéficas na vida adulta, visto que auxiliam no desenvolvimento cognitivo, na percepção sobre o mundo, no respeito às diferenças e no estímulo à criatividade.
Fonte: Pesquisa Kids | Globo | Campo abril a maio de 2021
A importância do incentivo a leitura na infância
Pais e responsáveis, o estímulo à leitura pode começar bem cedo e possui diferentes características ao longo da vida desses pequenos leitores. Nos três primeiros anos da criança, por exemplo, os livros infantis podem ser um importante aliado para o seu desenvolvimento.
É nesse período da vida - quando as conexões sinápticas começam a acontecer - que o nosso cérebro está mais ativo do que nunca, sendo moldado, absorvendo tudo que é novo e armazenando o que já foi aprendido. Por esse motivo, é importante que a leitura seja compartilhada e a relação dos bebês com a linguagem seja mediada pelos pais.
Entre os três e os seis anos de vida, a imaginação dos pequenos está a todo vapor, com a criança sendo preparada para o processo de alfabetização no meio de uma intensa socialização. Durante o período, o mundo de faz de conta e as histórias de “era uma vez …” irão se misturar à realidade e podem contribuir para que ela entenda o mundo a sua volta a partir dos contos.
Já entre seis e oito anos é quando a criança, ao ser alfabetizada, passa a definir melhor seus gostos e se torna um leitor iniciante, capaz de ter uma visão mais crítica e curiosa sobre o mundo que o cerca. E a partir dos nove anos de idade, eles já serão capazes de ler e se comunicar com mais fluidez, desenvolvendo preferências e hábitos de leitura próprios.
Mas afinal,
O que as crianças brasileiras estão lendo?
Alguns livros dominam a preferência dos mais novos e se tornaram sucesso de venda no e-commerce.
No topo da lista dos mais vendidos, um clássico da literatura mundial: Contos de fadas dos Irmãos Grimm, com histórias produzidas no começo do século XIX e que fazem parte da memória folclórica da população alemã.
O segundo lugar é ocupado pelo livro “Muito cansado e bem acordado” (2017), da escritora alemã Susanne Strasser, especial para tornar a hora de dormir dos pequenos leitores um momento divertido.
Em seguida, aparece a coleção “Como É Bom” (2020), da Fisher-price, com histórias sobre compartilhar, ser gentil e fazer amizades.
Outra coleção semelhante da companhia estadunidense de brinquedos também aparece na lista, em sexto lugar.
O dicionário de emoções “Emocionário: diga o que você sente” (2018), que tem como objetivo ajudar as crianças a aprender, reconhecer e expressar seus sentimentos, ocupa a quarta colocação na lista dos mais vendidos.
Já em quinto lugar, está “O pequeno príncipe”, clássica história do autor francês Antoine de Saint-Exupéry que marcou gerações ao redor do mundo.
O livro de charadas educativas para os pequenos “Minhas 100 primeiras palavras” (2014) aparece na sétima colocação.
Na sequência, a publicação ilustrada “O Pequeno Astronauta: uma aventura no espaço” (2020), do brasileiro Rodrigo De Oliveira.
Em nono está a coleção de pré-escrita “Aprenda em Casa” (2015).
Finalizando a lista, o divertido “Quem soltou o pum?” (2010), da também brasileira Blandina Franco.
Nem todas as crianças
Ainda que representem um percentual robusto no total de leitores brasileiros, não são todas as crianças que têm garantido o acesso aos livros e publicações literárias. Muito pelo contrário, a realidade de muitas delas é lidar com a ausência de processos básicos como a alfabetização, garantida pela Constituição do país.
De acordo com uma nota técnica da organização Todos Pela Educação, o número de crianças brasileiras de seis e sete anos que não sabem ler nem escrever cresceu 66,3% entre 2019 e 2021, durante o período pandêmico. Os dados foram divulgados com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ao todo, são 2,4 milhões de crianças que não estão alfabetizadas nesta faixa etária - em 2019, eram 1,4 milhões - e o número atual corresponde a quase metade de todo o grupo populacional (40,8%).
A pesquisa trouxe ainda um recorte de raça, destacando a diferença entre crianças brancas, pretas e pardas da mesma faixa etária (de seis a sete anos). No primeiro grupo, foi registrado um salto de 20,3% na pesquisa de 2019 para 35,1% dois anos depois. Já o percentual de crianças pretas e pardas que não sabiam ler e escrever passou de 28,8% e 28,2% para 47,4% e 44,5% em 2021.
Percentual de crianças de 6 a 7 anos
que não sabem ler e escrever no Brasil
(por raça/cor, 2012 a 2021)
Fonte: IBGE/Pnad Contínua. Elaboração: Todos Pela Educação
Também é possível observar na publicação uma diferença considerável entre crianças que vivem nos domicílios mais ricos do país daquelas que vivem em condições menos abastadas. Dentre as mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51,0%, entre 2019 e 2021. Já para as crianças mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma criança deve acabar a alfabetização aos sete anos de idade e o órgão a estabelece como foco principal da ação pedagógica nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. O Plano Nacional de Educação (PNE) segue a mesma recomendação e tem como meta a alfabetização de todas as crianças até o final do terceiro ano escolar.
A Todos Pela Educação lembra ainda que a não-alfabetização das crianças em idade adequada traz prejuízos para aprendizagens futuras e aumenta os riscos de reprovação, abandono e/ou evasão escolar.
A pandemia da Covid-19 foi um duro golpe na educação infantil e na alfabetização dos mais novos. Entretanto, os números anteriores ao período já eram preocupantes e mostram que, apesar da persistência de pais e responsáveis, nem todas as crianças brasileiras têm garantido o direito à leitura.
Será preciso mais. Só com o esforço conjunto de todas as esferas do Poder Público, é possível fazer com que as crianças brasileiras tenham seus direitos preservados. Logo, é importante cobrar as autoridades responsáveis para que, com o tempo, os livros deixem de ser um objeto de desejo dos pequenos e se tornem uma passagem assegurada para seus sonhos.
Redação e Edição: Tiago Lontra e Luiza Lourenço
Diagramação: Daniel Frias, Roger Arruda e Izabella Donafe
Imagem de capa: Getty Images - Kate_sept2004
Outras imagens:
master1305 | Freepik
David Rangel | Unsplash
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