A 31 dias dos Jogos de Paris, o técnico Luizomar de Moura anunciou sua saída do comando da seleção de vôleibol do Quênia, depois de três anos de uma campanha de sucesso, que garantiu ao time africano a vaga nas Olimpíadas. O brasileiro disse em entrevista ao ge, que a decisão já estava acertada em meados de maio, pela própria Federação Internacional de Vôlei (FIVB).
Luizomar deixa comando da seleção queniana às vésperas de Paris 2024 — Foto: Toru Hanai/Getty Images
- A Federação Internacional já havia avisado que as negociações com a Federação Queniana não estavam mais caminhando, e que provavelmente o projeto não seria renovado. A tristeza é grande por estar de fora dos Jogos Olímpicos, claro. Tive uma grande oportunidade de ver de perto as Olimpíadas de 2016, e de estar em quadra, como técnico, em Tóquio. Não tenho sentimentos de frustração porque fiquei muito feliz com o trabalho que desenvolvemos - disse o pernambucano.
A seleção queniana faz parte do projeto Volleyball Empowerment, da FIVB, que visa dar autonomia para equipes por meio de apoio financeiro e técnico. Seleções como Quênia, Holanda e República Dominicana entraram para o programa em 2021 e se qualificaram para os Jogos de Paris. Luizomar assumiu o comando da equipe africana na mesma época, logo após deixar a seleção feminina do Peru.
Luizomar com a equipe em Tóquio 2020 — Foto: Arquivo Pessoal
- Queria deixar um legado, ensinar uma metodologia de treinamento, e acho que isso a gente fez muito bem. Se nesse momento a Federação do Quênia não vê a necessidade de continuação do projeto, eu fico de mãos atadas, não tenho o que fazer. Saio com a sensação de dever cumprido - disse.
Fim de parceria
A Federação Internacional de Vôleibol divulgou um comunicado em abril anunciando que a Federação Queniana havia decidido descontinuar a parceria:
"A FIVB investiu cerca de R$ 3,6 milhões por meio do programa FIVB Volleyball Empowerment na equipe nacional feminina do Quênia desde seus preparativos para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020.
A FIVB, respeitando a decisão da liderança da Federação de Voleibol do Quênia (KVF), concordou em não continuar com o investimento de apoio direcionado ao Empoderamento do Voleibol para a equipe técnica de seis membros da seleção feminina do Quênia."
Campanha de vitórias
O técnico de Caruaru obteve uma campanha impressionante com as quenianas, conquistando o vice-campeonato africano logo no primeiro ano de trabalho, posição que garantiu uma vaga no Mundial Feminino de Vôleibol, sediado na Polônia e na Holanda, além do passaporte para Tóquio 2020. Nas Olimpíadas do Japão, Luizomar comandou a equipe contra as brasileiras e, apesar da derrota, se emocionou ao reencontrar algumas jogadoras com quem trabalhou.
Luizomar nos Jogos Olímpicos — Foto: Getty Images
- Em Tóquio foi Brasil e Quênia, e eu sai muito chateado. Por mais que eu soubesse que o time africano estava em um nível ainda abaixo de o de outras seleções, como desportista, a derrota é muito frustrante. Mas foi um grande presente, ao final do jogo, quando Camila Brait e Natalia me abraçaram, e mostraram a alegria delas de me ver como um técnico olímpico - contou.
Paris 2024 e VNL 2025
Quanto à classificação da seleção queniana para Paris 2024, Luizomar comentou ser uma chave difícil, já que a equipe, que vai para sua quarta participação olímpica, estará no grupo B, ao lado de Brasil, Polônia e Japão, as duas equipes que eliminaram as brasileiras da VNL de 2024, depois de terminarem a primeira fase invictas.
O Quênia figura atualmente em vigésimo lugar do ranking, e Luizomar acredita que o bom desempenho da seleção pode assegurar uma possível participação na Liga das Nações de 2025.
Luizomar com jogadoras do Quênia — Foto: Getty Images
- Já estava até sentindo que poderíamos sonhar em disputar uma VNL, pois sobem mais dois times no ano que vem. Pelo ranking não daria, mas estando em 20º lugar, algumas competições poderiam nos ajudar. Seria fantástico ter uma equipe africana disputando uma Liga das Nações, coisa que em um passado recente não seria possível - contou o técnico.
Quando perguntado sobre o sentimento, agora como espectador, sobre o confronto entre Brasil e Quênia, Luizomar se diz sempre um torcedor do vôlei brasileiro, mas não esconde a alegria de ver a equipe queniana entrando em mais uma edição dos Jogos, com condições de ser competitiva.
- Neste momento torço para o vôlei brasileiro, sabemos a importânicia da medalha no vôlei para a gente. Do outro lado, quero que elas (quenianas) continuem acreditando. É como uma semente que plantei, quero que acreditem que fisicamente não estão atras de ninguém, e que há tempo de correr atrás do sonho delas. Foi nisso que foquei nos três anos em que estive lá. Não quero que sejam conhecidas apenas como as mais alegres da competição, ou como alguém que precisa de ajuda. Quero que entrem com sonho de competir, de ganhar - disse o técnico.
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