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Por Carol Oliveira e Marcelo Barone — Rio de Janeiro


A serenidade - uma de suas principais características - foi uma das habilidades que Bruno Schmidt precisou exercitar para tomar a decisão mais importante de sua vida profissional: aposentar-se do vôlei de praia, aos 36 anos de idade. A notícia, é claro, surpreende o universo esportivo, mas, em entrevista exclusiva ao "Esporte Espetacular", exibida neste domingo, o jogador revela que a resolução se deu após muitas avaliações e reflexões.

Medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, melhor jogador do Circuito Mundial por duas vezes consecutivas e colecionador de títulos. Bruno Schmidt é dono de uma técnica irretocável. Exigente e determinado. É, também, resiliente dentro de quadra diante dos adversários e fora das quatro linhas ante a Covid-19. Uma história de sucesso no esporte que chega ao fim, conforme ele revela, em primeira mão.

Papo no CafEE: ouro em 2016, Bruno Schmidt fala sobre luta contra Covid, carreira e aposentadoria

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- Não foi de ontem para hoje. É uma decisão que venho tomando desde quando comecei a sentir minha queda de performance. (...) Não me vejo mais como atleta de alto rendimento, jogando da maneira como eu jogava lá atrás. Isso machuca muito, mais do que derrotas, do que dores. Eu não me vejo mais como em 2016. Eu me comparo com isso. Chegou o momento para mim.

Bruno Schmidt anunciou sua aposentadoria no Esporte Espetacular — Foto: Marcelo Barone

Formado em Direito pela Universidade de Vila Velha (UVV), no Espírito Santo, desde meados de 2022, Bruno escolheu a advocacia como sua próxima carreira. Em fevereiro, ele fará a prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - imprescindível para exercer a profissão -, e iniciará sua nova trajetória.

- Um dos motivos de estar parando é para ter tempo e energia para encarar esse novo desafio. Eu gosto disso, é o que me faz acordar cedo no dia seguinte.

Confira a entrevista completa:

O que motivou a sua aposentadoria do esporte?

Não foi de ontem para hoje. É uma decisão que venho tomando desde quando comecei a sentir minha queda de performance, datando perto de 2018, quando comecei a sentir muitas dores no joelho. Isso me fez ver o encerramento de carreira como algo próximo e possível. Fui aos Jogos de Tóquio, participei de uma corrida olímpica, teve a situação da Covid-19... Só de estar lá foi muita coisa. Depois das Olimpíadas eu pensei: "Vou encerrar minha carreira". Operei meu joelho e, por incrível que pareça, consegui um parceiro competitivo pós-cirurgia. Dizem que a cirurgia faz você voltar melhor que antes. Tentei mais uma temporada, mas ano passado... não foi joelho e nem físico. Fui eu mesmo, não me vejo mais como atleta de alto rendimento, jogando da maneira como eu jogava lá atrás. Isso machuca muito, mais do que derrotas, do que dores. Eu não me vejo mais como em 2016. Eu me comparo com isso. Chegou o momento para mim.

Bruno faturou a medalha olímpica de ouro ao lado de Alison — Foto: Murad Sezer/REUTERS

O que sente neste momento de despedida?

- Todo mundo fala que é o momento mais difícil do atleta. Eu vinha pensando nisso nos últimos anos, é uma decisão de muito tempo. Por enquanto, é um sentimento bom. Aquela parte difícil de ser atleta eu não tenho mais que lidar, não tenho mais compromisso de treinar mesmo cansado, de ficar na fisioterapia, de competir de janeiro a dezembro, aquela pressão pela vaga olímpica. Eu não tenho dúvidas que mesmo estando tranquilo com isso, pode ser que eu sinta saudade vendo os jogos, as Olimpíadas de Paris, que eu poderia estar lá, mas decidi me aposentar. Vou sentir saudade, vão surgir questionamentos, mas é normal.

Por que escolheu ser advogado?

- Eu procuro sempre os caminhos mais difíceis na minha vida, é uma cisma minha. O vôlei de praia mesmo... É um esporte que eu não nasci para isso. Sou um atleta baixo, quando comecei tinha problema de peso e tudo mais. Mas eu queria aquilo. Agora que construí uma carreira sólida, estou contaminado pelo Direito. Intensifiquei nos últimos anos e consegui me formar no meio do ano passado. Um dos motivos de estar parando é para ter tempo e energia para encarar esse novo desafio. Eu gosto disso, é o que me faz acordar cedo no dia seguinte.

Bruno Schmidt: fim de uma carreira brilhante nas areias — Foto: Adrees Latif/REUTERS

Pensa em trabalhar em qual área do Direito?

- Como todo recém-formado, sou tentado pela área penal. Aos poucos, por necessidades e influências, fui tendendo para o lado civilista, onde estão as empresas e as grandes causas. Sou o formando que acabou de botar o diploma embaixo do braço e vai ver o que irá seguir. Vou fazer a prova da OAB em fevereiro.

Em relação à vida de atleta, do que sentirá mais e menos falta?

- Eu não vou sentir falta da rotina. Agora é um mês quente no Espírito Santo. Quando você vai para a praia a lazer, tomando banho de mar, é uma coisa. Outra coisa é treinar em dias extremamente quentes. As viagens encantam no começo, mas depois ficam árduas. Você perde compromissos importantes de família. Quantas vezes sentei à mesa e meus familiares comentavam sobre eventos que eu não estava presente? Eu só imaginava. Quando você é atleta, não é só na academia ou dentro de quadra. Você é atleta quando acorda e quando vai dormir. É um estilo de vida, tem que se blindar de muita coisa. Mas vou sentir falta. Sempre fui tentado a dar o meu melhor, mais do que títulos e vitórias. Estou executando meus fundamentos, meu saque, uma defesa perfeita, isso me dava prazer em jogar vôlei. É a coisa que mais sentirei falta. Foi o que fiz com mais perfeição, fui reconhecido e valorizado por isso. Estou fechando um lado da vida em que fui valorizado. Sentirei falta.

Bruno Schmidt atuou nas Olimpíadas de Tóquio — Foto: Sean M. Haffey/Getty Images

Você deixa o vôlei com a sensação de dever cumprido ou ficou faltando algo?

- Obviamente, a gente erra muito ao longo do caminho e aprende com os erros. Tentativas de parceria que não deram certo, outras que terminaram antes da hora. Isso que te faz amadurecer, criar experiência... Até minha lesão no joelho... O que eu poderia fazer para evitá-la? Aconteceu por que fui ao meu máximo. Era para levantar 50kg? Eu levantava 100kg. Eu sempre quis fazer o melhor possível e, obviamente, você paga um preço. Um dos motivos de parar precocemente é não ter deixado nenhuma lacuna. Fiz tudo o que eu queria ter feito no vôlei de praia.

Acredita que será tão bem sucedido no Direito quanto foi no vôlei?

- Se eu ficar me comparando com isso, vou ter problemas (risos). Um dos motivos de parar é me comparar quando eu estava em minha melhor performance, aos 28 ou 29 anos, nos Jogos de 2016. Ali não vem cansaço, você está sedento, tudo é novidade. Hoje em dia dou valor a estar com minha família, a não jogar determinados torneios para fazer coisas que eu quero, que me deem prazer dentro de casa, viajar de carro. Estou fechando uma porta que fui bem sucedido e vou abrir outra porta que tudo pode acontecer, até mesmo encarar novas frustrações e derrotas. Isso faz parte da vida. Vou evitar ao máximo comparações entre o vôlei e o Direito.

Bruno Schmidt deixa o esporte que o consagrou — Foto: Divulgação/FIVB

Fique à vontade para deixar um recado aos seus fãs.

- Muita gente estava me perguntando com quem eu jogaria. E eu não falava muito. Agora que oficializei, quero agradecer imensamente aos amantes do vôlei e a todas as pessoas que vão me dar força nessa minha nova decisão. Ano retrasado, quando fiquei na pior pela Covid-19, foram essas pessoas que me ajudaram. Eu abria o celular todos os dias e lia: "Você vai voltar mais forte. Você vai chegar lá". Não tenho dúvidas que essas pessoas que amam o que eu faço e me valorizam me fizeram tentar mais um poquinho, me fizeram não parar antes. E nem vou falar sobre meus familiares, que queriam que eu jogasse até os 50 anos (risos). Até agora eles não acreditam que eu decidi parar. Serei eternamente grato aos meus fãs e às pessoas que curtem o vôlei de praia e o atleta Bruno Schmidt. Foi o momento mais difícil da minha carreira, e eles estavam lá. Eu dedico a minha carreira a essas pessoas.

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