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Por Flávio Dilascio, João Ribeiro e Marina Renard — Saquarema, Rio de Janeiro


"Ano passado eu fiquei por duas baterias. Durante o ano todo, duas baterias a mais que eu tivesse avançado, eu estaria no Finals". Atual campeão do Rio Open, Yago Dora chega mais uma vez a Saquarema, penúltima etapa do Circuito Mundial de Surfe, com chance de alcançar o top 5 do ranking e disputar o título mundial em Trestles, na Califórnia. Desde 2018 entre o grupo seleto dos melhores surfistas do mundo do Championship Tour (CT), o catarinense contou que os detalhes fazem toda a diferença na carreira e que a constância é o caminho para chegar ao Finals. A partir deste sábado, dia 22 de junho, o brasileiro vai lutar por um bom resultado na Praia de Itaúna para se garantir entre os cinco melhores surfistas do mundo no fim da temporada.

Yago Dora brilha com nota 10 e conquista etapa de Saquarema da WSL

Yago Dora brilha com nota 10 e conquista etapa de Saquarema da WSL

A cada ano que passa, os resultados aparecem para Yago. O catarinense, que terminou a temporada de 2021 em 9º lugar e em 2023 em 7º, precisa passar baterias nas duas últimas etapas do CT para entrar no top 5. Em toda a carreira, chegou 11 vezes às quartas de final, quatro à semifinal e duas à final - com uma vitória no Rio Open do ano passado e um vice na última etapa em El Salvador. Neste ano, Dora chega à oitava etapa da WSL em 8º lugar do ranking e com chances de fazer a final em Trestles, na Califórnia, e brigar pelo título mundial. Mas, para isso, é importante manter a constância nas disputas.

- São detalhes que fazem muita diferença. Ano passado eu fiquei por duas baterias. Durante o ano todo, duas baterias a mais que eu tivesse avançado, eu estaria no Finals, né. Acho que é isso, essa presença em cada momento é o que vai fazer a diferença o final. Eu sei que as coisas não se encaixaram. Eu já tinha isso na cabeça no início da temporada. No esporte, muitas vezes é assim. É muito difícil a pessoa manter sempre essa linha de subida no gráfico. Tem momentos que a pessoa se perde um pouquinho para poder juntar as peças e construir algo melhor ainda, né. Acho que essa fase que eu estou vivendo agora, tem essa reconstrução. Então eu estou animado para conseguir fazer meu surfe de verdade. Acho que é essa presença e essa tensão em cada detalhe é o que pode fazer a diferença e me colocar no Finals - analisou Yago Dora.

Yago Dora em El Salvador — Foto: WSL

Barulho da torcida

A caminhada para chegar ao top 5 passa pela etapa de Saquarema, penúltima antes da final, e o público brasileiro pode ser um bom combustível para animar Yago Dora. A energia na Praia de Itaúna é única no Circuito Mundial de Surfe. Os surfistas só vivem esses momentos de celebridade na etapa do Rio de Janeiro, experiência que pode ser comparada com um jogo de futebol em um estádio lotado. As 40 mil pessoas na areia de Saquarema comemoram cada manobra dos brasileiros como se fosse um gol. Para Yago Dora, o contato com a multidão só serve de combustível para ele conseguir manobrar cada vez mais forte e voar mais alto.

Yago Dora ao lado dos fãs em Saquarema — Foto: Daniel Smorigo/WSL

- Cara, desde a primeira vez que eu participei desse evento, que eu entrei pela triagem, em 2017, eu lembro que no primeiro round a galera ainda não me conhecia muito, não gritava muito quando eu passava. Eu lembro que foi engraçado a cada round e a cada bateria que eu ia passando, ia aumentando a torcida, aumentando o número de gente que sabia quem eu era. Eu adorava essa parte porque tinha sido a primeira vez que eu tinha saído da área de atleta e nesse caminho até entrar na água, você consegue ouvir a galera gritando. Eu adoro, acho irado demais, acho que só alimenta. Dá vontade de surfar mais ainda.

Saquarema, segunda casa

Saquarema pode não ser a casa oficial de Yago Dora, mas, com certeza, tem um lugar especial no coração do surfista. Em 2017, o catarinense venceu a fase classificatória para o evento e teve a oportunidade de entrar na água com os melhores do mundo em uma etapa da WSL, na Praia de Itaúna. Ele não só competiu, como chegou à semifinal do evento despachando nomes como Kolohe Andino, John John Florence e Gabriel Medina. Aquele menino ainda inexperiente nas competições cresceu no esporte até a conquista de sua primeira etapa no ano passado, justamente em Saquarema. Seis anos depois da estreia, Yago chega à oitava etapa da temporada de 2024 como um dos favoritos ao título.

Yago Dora surfe Rio Pro Saquarema — Foto: Thiago Diz/World Surf League

- Desde a primeira vez que eu vim para Saquarema, eu me conectei muito com esse lugar. Não só as ondas em si, que é uma onda que eu gosto, que é high performance, que tem força, que oferece vários tipos de manobras, mas por ser um lugar lindo. Parece realmente uma segunda casa quando estou aqui. Me sinto abraçado pelo lugar, pelas pessoas, pelo mar. E foi assim desde a primeira vez que eu vim para cá. E acho que se concretizou mais ainda essa conexão com a vitória que tive no ano passado. É louco, porque eu sei que eu tenho um potencial muito bom nessa onda, mas, ao mesmo tempo, não me sinto pressionado para “performar”. Quando eu chego aqui é só uma conexão natural. Vamos lá surfar, dar meu melhor e ver no que as coisas vão acontecer - contou Yago Dora.

Início ruim da temporada e recuperação no tour

Desde 2014, o Brasil ocupou um lugar de destaque no Circuito Mundial de Surfe. Das últimas nove temporadas - uma foi cancelada pelo pandemia do Coronavírus -, os brasileiros conquistaram sete títulos mundiais: Gabriel Medina (2014, 2018 e 2021), Adriano de Souza (2015), Italo Ferreira (2019) e Filipe Toledo (2022 e 2023).

Nesta temporada de 2024, o cenário começou diferente. Os brasileiros tiveram dificuldades de conquistar bons resultados nas primeiras cinco etapas do ano. Apenas Gabriel Medina, Italo Ferreira, Yago Dora e Tatiana Weston-Webb conseguiram escapar do corte depois da etapa de Margaret River e se salvar para o resto da temporada.

Yago garante um 5.53 na repescagem da etapa de Margaret River

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- Eu sinto que, até o corte, as coisas não estavam encaixando muito. Tive alguns momentos bons durante alguns eventos. Tipo, em um round surfar muito bem e já no outro não me encontrar de novo. Acho que talvez com cabeça cheia, pensando demais, sabe. Em vez de deixar as coisas fluírem, estava analisando demais tudo e querendo pensar demais em uma bateria. E acho que isso não é uma forma que funciona muito bem para mim. Eu gosto de me soltar, de sair surfando. Surfar com alegria, acho que esse é o tipo de surfe que encaixa para mim - disse Yago Dora.

Yago Dora passou por pouco do corte. Ele ficou em 22º lugar, justamente no limite da zona de classificação para o restante da temporada. O cenário não estava favorável para o Brasil, mas a etapa de Teahupoo mudou todo o rumo dos brasileiros no ano. Italo Ferreira foi campeão no Taiti, e, logo depois, Yago Dora chegou à final da sétima etapa da WSL em El Salvador.

Yago Dora em El Salvador — Foto: WSL

- Eu, depois que passei do corte, fiz um acordo comigo mesmo. Só vai lá, tentar surfar o meu melhor a cada bateria, dar o máximo de mim mesmo, e tentar me divertir com meu surfe. Não ficar pensando que preciso passar essa bateria porque vai me dar tantos pontos, porque se eu passar, eu vou para tal lugar no ranking. Fiz isso em Teahupoo, consegui ficar em 5º lá e fiz isso de novo em El Salvador e fazer a final lá. Foi uma boa virada de chave para mim - comemorou Yago Dora.

Progressividade e nova fase no surfe

Yago Dora amadureceu nesses seis anos de Circuito Mundial de Surfe. O catarinense aprendeu com os erros e evoluiu nas manobras. Hoje vive um novo momento dentro das competições.

Yago Dora vence primeiro round em El Salvador — Foto: Aaron Hughes / WSL

- Acho que finalmente eu estou podendo ser eu mesmo dentro das baterias. Esse é o surfe que eu sempre amei fazer, que eu sempre fiz nos free surfs. Agora eu não estou tentando fazer uma adaptação para caber em um critério ou nos 30 minutos de uma bateria. Eu estou querendo ser eu mesmo, o máximo que eu puder, e tentar fazer o surfe que eu gosto de fazer. O resultado é consequência.

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