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Por Emilio Botta — Jundiaí, SP

Gustavo Amorim/Paulista FC

Prestes a completar 110 anos, o Paulista de Jundiaí pode ter sua vitoriosa e tradicional história no futebol encerrada. Afundado em dívidas e na última divisão do Campeonato Paulista, o clube pode ter de fechar as postas caso não consiga encontrar um parceiro que aceite dividir a gestão. A estimativa é de que o Paulista tenha aproximadamente 100 processos trabalhistas em curso atualmente e R$ 22 milhões de dívidas, que bloqueiam as contas e impedem o clube de ter qualquer tipo de renda para manter as atividades básicas e operacionais.

– Hoje em dia, nós basicamente sobrevivemos com valores de atletas revelados pelo Paulista e que estão sendo negociados em outros clubes. Não conseguimos fechar patrocinador para o uniforme. Sem um parceiro, não temos como sobreviver – explica Wilson Zanatta, diretor financeiro.

Não é necessário ir tão longe para relembrar os bons momentos vividos pelo Paulista. Em 2004, o time de Jundiaí foi vice-campeão paulista, em 2005 campeão da Copa do Brasil, e em 2006 disputou a Libertadores da América. Sem contar as participações na Série B e a proximidade em integrar a Série A do Brasileiro. No entanto, o início da era mais sombria do clube ocorreu em 2007, após uma parceria frustrada com um grupo de investidores.

Taças do título da Copa do Brasil (2005) e vice do Paulistão (2004) do Paulista de Jundiaí — Foto: Emilio Botta

O projeto "Campus Pelé", lançado pelo Rei do Futebol em 2007, tinha o objetivo de usar o Paulista para revelar, negociar jogadores e recompensar investidores interessados no futebol brasileiro ao redor do mundo. O fundo tinha a intenção de reunir até R$ 50 milhões em investimentos. No entanto, tudo foi por água abaixo três anos mais tarde, com grande prejuízo para o time de Jundiaí.

Atual diretor financeiro do Paulista, Wilson Zanatta não esconde os problemas gerados pela parceria que impactam até hoje no dia a dia em Jundiaí. A perda repentina do parceiro veio paralelamente aos seguidos rebaixamentos no Campeonato Brasileiro e, posteriormente, no Paulistão.

– Eles tinham experiência em setor financeiro, mas partiram para o futebol contratando um pessoal para gerir o clube e foi um desastre. O pessoal tinha vontade de acertar, mas não tinha experiência com o futebol, por isso foi um desastre total. Em 2007 nós caímos da Série B para C, em 2008 da C para D, em 2009 não passamos de fase e não disputamos mais o Brasileiro. E em 2014 caímos no Paulistão. Além de cairmos, houve um descredito pela torcida por conta dos inúmeros rebaixamentos – explica Zanatta.

Wilson Zanatta, diretor financeiro do Paulista: "Apesar de todos os problemas, salários dos jogadores estão em dia" — Foto: Emilio Botta

O mau momento forçou o Paulista a contratar inúmeros jogadores em busca de evitar os seguidos rebaixamentos, que acabaram acontecendo mesmo assim. As contratações geraram dívidas e processos trabalhistas, que bloqueiam as contas do clube desde 2013. Atualmente, o clube tem, além do estádio Jayme Cintra, penhorado, aproximadamente 100 processos em curso na Justiça, número menor que os 200 que chegou a ter. Aos poucos, o Paulista busca fazer acordos, mas admite que apenas a chegada de um novo parceiro poderá sanar os problemas financeiros atuais.

– É possível desde que haja uma parceria, sozinho o clube não consegue. Sendo bem sincero, sem ajuda de um parceiro, a gente já prevê entregar o clube porque está complicado. Sem parceiro, não temos como sobreviver – explica Wilson Zantta, diretor financeiro do Paulista.

– A ideia agora é procurar um parceiro, mas com muito cuidado para não acontecer o que houve no passado. Conseguindo isso, nós vamos ter que sentar e propor um acordo na área trabalhista, para tentar reaver a cota da Federação [Paulista de Futebol] – complementa o diretor.

  • No dia 5 de abril de 2006, o Paulista venceu o River Plate por 2 a 1, em Jundiaí, pela primeira fase da Libertadores da América

O tamanho do rombo nos cofres é tão grande que o Paulista dificilmente consegue manter a conta de energia elétrica, que tem media de R$ 7 mil, em dia. Além disso, gastos com quase 100 banhos e refeições diárias, além de uma câmara fria que funciona 24 horas, aumentam o custo operacional de um clube que não tem praticamente nenhuma receita.

Paulista de Jundiaí foi campeão da Copa do Brasil em 2005 contra o Fluminense, no Rio de Janeiro — Foto: Agência O Globo

A linha do tempo que levou o Paulista à quarta e última divisão de São Paulo após parceria frustrada. Veja abaixo:

Início de 2007 – Parceria firmada com "Campus Pelé"
2007 – Paulista é rebaixado na Série B do Brasileiro
2008 – Paulista é rebaixado na Série C do Brasileiro
2009 – Paulista acaba eliminado na Série D do Brasileiro
2010 – Paulista quase é rebaixado no Paulistão e não disputa a Série D do Brasileiro
2014 – Paulista é rebaixado para a Série A2 do Campeonato Paulista
2016 – Paulista é rebaixado para a Série A3 do Campeonato Paulista
2017 – Paulista é rebaixado para a Segundona (4ª Divisão) do Campeonato Paulista

A saída para o pagamento das contas mensais foi apelar para uma entidade assistencial para promover um almoço beneficente em prol do time de Jundiaí.

– Nós fizemos uma parceria para fazer um almoço para o Paulista. Tivemos um lucro de R$ 27 mil que deu para quitar três contas de energia, então você vê a dificuldade que o clube passa atualmente. As pessoas até querem ajudar, mas esbarramos nos problemas judiciais para ter essa ajuda. Fica difícil – conta Zanatta.

Jayme Cintra

Estádio Jayme Cintra, Paulista — Foto: Divulgação/ Paulista

Atualmente, os maiores patrimônios do Paulista são o estádio Jayme Cintra e os jogadores revelados no gramado do local que chegou a ser leiloado em duas oportunidades, sem interessados no arramate. Avaliado em R$ 35 milhões e com capacidade para 13 mil pessoas, o estádio tornou-se um peso a mais nas finanças.

– Até para manter o gramado o custo é alto. Nosso campo já foi para leilão em duas oportunidades, a diretoria começou a se mexer para tombarmos o estádio. A única saída que vemos é municipalizar o Jayme. Cogitamos vender o estádio e construir um campo menor, mas é inviável fazer isso nos diais atuais – revela o diretor do Paulista.

Elenco campeão da Copa do Brasil tinha Victor, Réver e Cristian como principais nomes — Foto: Agência O Globo

Histórico de jogadores

Fundado em 1909, o Paulista sobrevive até hoje, segundo dirigentes, graças ao bom trabalho realizado no passado pelas categorias de base. Nomes como o goleiro Victor (Alético-MG), o zagueiro Réver (Flamengo) e Nenê (São Paulo), são exemplos de jogadores revelados ao longo dos anos pelo time de Jundiaí. E são desses e outros jogadores que o Paulista consegue respirar financeiramente. Pelo mecanismo de solidariedade, a Fifa garante até 5% do valor da transferência internacional a clubes que fizeram parte da carreira do jogador entre os 12 e 23 anos.

– Graças aos atletas que criamos na base nós conseguimos manter o clube – revela Wilson Zanatta.

O GloboEsporte.com escalou uma "seleção" dos principais nomes que foram revelados ou que atuaram ao longo da história do Paulista. Dos 11 titulares, sete são das categorias de base e outros quatro passaram pelo clube e tiveram carreira vitoriosa no futebol brasileiro. O treinador é Vagner Mancini, que começou a carreira em Jundiaí. Confira o time abaixo:

Seleção dos principais jogaores que atuaram ou foram revelados pelo Paulista de Jundiaí — Foto: GloboEsporte.com

Na terceira fase do Campeonato Paulista da Segunda Divisão - equivalente ao quarto e último nível do futebol de São Paulo -, o Paulista integra o Grupo 10, que tem Inter de Bebedouro, Itararé e Primavera-SP como concorrentes.

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