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Por Emilio Botta — Novo Horizonte, SP


A cidade, as cores, o uniforme, o mascote, o estádio e até os investidores são os mesmos, mas o time é diferente. Dono da melhor campanha da primeira fase da Série C do Campeonato Brasileiro, o Novorizontino retorna ao cenário nacional tentando desvincular a imagem do xará que fez sucesso na década de 1990.

Abaixo, o ge detalha as "mudanças" entre o velho e o novo Novorizontino, além dos motivos que têm feito o time da pacata Novo Horizonte, cidade com pouco mais de 40 mil habitantes e distante 400 quilômetros da capital São Paulo, empilhar bons resultados dentro e fora de campo.

Com apenas 11 anos de existência, o Grêmio Novorizontino soma quatro acessos (três estaduais e um nacional) e mira a Série B do Campeonato Brasileiro em 2022 de olho na elite nacional. O desempenho atual na terceira divisão chancela o desejo: são 11 vitórias, três empates, três derrotas e mais de 70% de aproveitamento. O time é dono da melhor defesa e do segundo ataque mais positivo da competição, que reúne times tradicionais, como Paysandu, Santa Cruz, Paraná Clube, entre outros - os dois últimos já foram rebaixados para a Série D.

Tudo bem, mas qual a diferença entre o Grêmio Esportivo Novorizontino e o Grêmio Novorizontino?

Escudos do antigo e do novo Novorizontino: times trilham mesmo caminho de sucesso em épocas distintas — Foto: infoesporte

Grêmio Esportivo Novorizontino

Fundado em 1973, o Grêmio Esportivo Novorizontino encerrou suas atividades em 1998. Durante os 25 anos de existência, o time teve como auge a famosa "final caipira", contra o Bragantino, em 1990, além de ter sido campeão brasileiro da Série C em 1994.

Aquela decisão do estadual, a primeira na história sem um dos grandes clubes do estado, colocou frente a frente o Bragantino de Vanderlei Luxemburgo contra o Novorizontino de Nelsinho Baptista. O time de Bragança Paulista foi campeão, mas o legado deixado em Novo Horizonte permanece até hoje.

– É uma história comum de ser confundida, até mesmo dentro da cidade. Pelas cores do clube, a utilização do mesmo espaço. Porém, o Grêmio Esportivo Novorizontino teve suas atividades encerradas no ano de 1998. Não sei falar os reais motivos, o que se fala é que foram problemas de administração e gestão. Não foi uma refundação. O Grêmio Novorizontino é um novo clube que foi filiado junto à Federação Paulista, pagando uma nova filiação. As cores foram mantidas em respeito ao antigo clube e por uma estratégia de marketing, para que o antigo torcedor pudesse apoiar o novo time da cidade – contou Genilson da Rocha Santos, atual presidente do Novorizontino e ex-atacante do antigo Novorizontino.

Camisa utilizada pelo Novorizontino na final caipira do Paulistão de 1990 — Foto: Reprodução/TV TEM

A trajetória que parecia trilhar um caminho de sucesso acabou esbarrando nos problemas de gestão e em dívidas que forçaram o fechamento do clube. Curiosamente, em 1994, o Novorizontino teve a gestão assumida pela família Chedid, atualmente no Bragantino, que não conseguiu recuperar o clube antes da falência.

Grêmio Novorizontino: desde 2010

Pouco mais de uma década depois, em 2010, o Grêmio Novorizontino foi fundado utilizando as mesmas cores, usando o mesmo estádio e tendo resultados mais expressivos em menor tempo do que o do antecessor. A manutenção das características do antigo clube foi uma forma de homenagem e de dar seguimento ao que havia sido construído pela família Biasi, que teve participação ativa na fundação do novo clube.

Desde então, em 11 anos de existência, o Grêmio Novorizontino teve ascensão meteórica: foram quatro acessos, deixando a última divisão estadual para a elite, disputada de maneira ininterrupta desde 2015. Na temporada passada, o acesso à Série C do Brasileiro e a garantia de calendário nacional, deu maior solidez ao projeto.

– A gestão é um dos fatores principais, o que nos move é o time de futebol, mas ele precisa ter respaldo e ser bem administrado. O Novorizontino vem construindo um trabalho desde a última divisão do Campeonato Paulista, que valoriza todos os departamentos e fazendo um trabalho de melhora em todos os profissionais ao longo dos anos – explicou o presidente do Tigre, que vai além.

– O Novorizontino tem uma linha de trabalho definida, um modelo de jogo que é conhecido de todos e dentro dessa característica do clube trabalhamos técnicos e jogadores. É um trabalho delicado, mas é uma questão de alinhamento – disse Genilson.

Em 2020, o Novorizontino foi campeão pela primeira vez do Troféu Interior, competição que reúne os clubes eliminados da primeira fase do Paulistão.

Objetivo: Série A

A grande meta do Novorizontino é alcançar as primeiras divisões do Campeonato Brasileiro. A campanha na primeira fase da Série C permite ao clube sonhar com voos maiores. Após deixar a quarta para a primeira divisão do Paulista em apenas quatro temporadas, a ideia é repetir o feito e chegar à elite do futebol nacional.

– Sem dúvida é um clube que sempre teve objetivos e metas. Nossa meta hoje é dar sequência na primeira divisão do Paulistão e alcançar espaços maiores dentro do Campeonato Brasileiro. Estamos na Série C, mas vamos brigar pela Série B e sonhar com a Série A, sim – projetou Genilson.

Novorizontino foi campeão do Troféu Interior do Paulista nesta temporada — Foto: William Lima/Paulistão

Com a melhor campanha da primeira fase assegurada, o Novorizontino entra em campo no próximo sábado, às 17h (de Brasília), contra o Mirassol, fora de casa, apenas para tentar melhorar os números antes briga pelo acesso.

Na segunda fase da competição, o Tigre formará novo grupo ao lado de três adversários para confrontos de ida e volta, com os dois melhores classificados garantindo vaga na Série B em 2022. Os líderes dos dos grupos fazem a final, podendo igualar o feito do homônimo, campeão em 1994.

Técnico mantido e torres gêmeas

Após o título do Troféu Interior e desempenho de relativo sucesso no Campeonato Paulista, o grande desafio do Novorizontino era manter a base para a disputa da Série C do Brasileiro. O Tigre perdeu apenas três titulares, além de conseguir segurar o técnico Léo Condé, alvo de times da Série B.

Deixaram o time o zagueiro Robson, que foi para o futebol português, o atacante Jenison, que estava emprestado e retornou ao Cuiabá para disputar a Série A, além do meia Murilo Rangel, também no time mato-grossense.

Edson Silva e Bruno Aguiar em ação pelo Novorizontino na Série C do Brasileiro — Foto: Patrick Floriani/Figueirense FC

Em campo, a equipe conta com a experiência dos zagueiros Bruno Aguiar e Edson Silva, campeões da Libertadores e do Brasileirão por Santos e São Paulo, respectivamente. Juntos, eles formam a defesa menos vazada da Série C.

Promessa vendida ao Real Madrid

A aposta da atual gestão do Novorizontino é a base. O plano dos dirigentes é fortalecer o departamento e tornar o time autossustentável em alguns anos, podendo formar jogadores para municiar o elenco profissional e, consequentemente, lucrar com a venda para o mercado nacional e internacional.

Vivemos de patrocínio, cotas de televisão e de um excelente trabalho das categorias de base. Esses elementos formam a maior parte da nossa receita.
— disse Genilson da Rocha Santos, presidente do Novorizontino.

O exemplo no clube é a venda feita em 2018 do atacante Rodrigo, descoberto em um núcleo de captação do clube na cidade de São Carlos, distante cerca de 200 quilômetros de Novo Horizonte.

Após se destacar na base do Tigre, Rodrigo foi emprestado ao Palmeiras para a disputa de um campeonato internacional na Espanha, quando despertou o interesse do Real Madrid. Ao completar 18 anos, em 2018, ele se transferiu para o time espanhol em transação que girou em torno de R$ 18 milhões.

– O Rodrigo veio para uma avaliação, acabou ficando e despontou com muito talento. Isso foi pela condição atlética e capacidade que ele tem. Teve um torneio na Espanha, que disputou emprestado pelo Palmeiras, foi bem e chamou atenção do Real Madrid. Isso abre um caminho para recebermos mais atletas – explicou o ex-jogador Luís Carlos Goiano, coordenador das categorias de base do Novorizontino.

Rodrigo, agenciado pelo ex-jogador Edu, durante apresentação no Real Madrid — Foto: Divulgação

Atualmente com 21 anos, Rodrigo foi emprestado ao Talavera, time que disputa a terceira divisão espanhola, onde soma dois gols em 13 jogos. Nas duas temporadas pelo Real Madrid B, o atacante fez 14 jogos, marcou seis gols e deu uma assistência.

O Novorizontino tem o certificado de clube formador emitido pela CBF, que dá garantias financeiras em casos de futuras saídas de jogadores sem indenização ao clube. No interior paulista, apenas Bragantino, Guarani, Ituano e Desportivo Brasil possuem a certificação. Entre os mais de 800 clubes profissionais no Brasil, menos de 50 conquistaram o documento.

– É uma forma de segurança que você tem de formar o atleta sem qualquer risco de saída. Nossa ideia é sempre ter zelo para cumprir todas as exigências para seguirmos sendo clube formador. A gente procura fazer uma seleção dos meninos, temos um captador que anda o Brasil todo buscando esses talentos que recebemos. Tem dado certo, felizmente o Novorizontino tem feito um trabalho muito bom na formação dos atletas. É um trabalho integrado, uma cidade de 40, 50 mil habitantes que facilita o controle da vida dos meninos – analisou Goiano.

Time sub-17 do Novorizontino em ação pelo Paulista da categoria — Foto: Guilherme Videira/Novorizontino

O Novorizontino trabalha com as categorias sub-11, sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20. No entanto, em virtude da pandemia e do calendário afetado, apenas o sub-15 e o sub-17 estão em disputa de campeonato oficiais neste momento. Alguns jogadores do sub-20 estão emprestados ao Catanduva, time que disputa a quarta e última divisão estadual.

– A ideia é fazer com que esse clube possa se sustentar. Temos uma base forte, acredito que daqui dois ou três anos teremos condições financeiras vindo da base. Ter o próprio jogador formado na base, hoje isso não é possível pelo pouco tempo de existência, mas nossa ideia é essa – finalizou o dirigente.

Família Biasi segue no clube

O principal nome que une o velho e o novo Novorizontino atende por Jorge Ismael de Biasi, que dá nome ao estádio. Em 1977, o empresário foi responsável por levar o time ao futebol profissional, além de construir com recursos próprios o estádio que batizado com o seu nome.

Estátua de Jorge Ismael de Biasi no estádio que leva o seu nome em Novo Horizonte — Foto: Divulgação/Novorizontino

Propriedade da família Biasi, o estádio e o centro de treinamento utilizados pelo Novorizontino foram cedidos pelos herdeiros para a manutenção do legado construído por Jorge Ismael de Biasi. Além disso, uma das empresas da família segue sendo patrocinadora do clube.

– O Grêmio Novorizontino é uma associação como qualquer outra, que tem toda uma diretoria responsável. Temos, sim, a família Biasi como parte da diretoria, mas não é exclusiva. O estádio, centro de treinamento, por boa vontade da família, foram permitidos o uso. O nome do Dr. Jorge Ismael de Biasi como patrono do clube, tudo isso faz com que tenhamos um respeito especial – afirmou o atual presidente do Novorizontino.

– É fundamental. Antes de qualquer atleta assinar contrato, ele procura saber as condições de trabalho e como o clube trata os profissionais, isso credencia para trazer os melhores atletas. A cada ano buscamos melhorar nossa estrutura para que a gente se fortaleça e cada vez mais tenha no seu elenco atletas maiores – disse Genilson.

Veja abaixo fotos da atual estrutura do Novorizontino:

Estádio Dr. Jorge Ismael de Biasi, do Norovorizontino — Foto: Victor Pozella

Estádio Jorge Ismael de Biasi, em Novo Horizonte — Foto: Divulgação/Novorizontino

Centro de Treinamento do Novorizontino — Foto: Divulgação/Novorizontino

Alojamento do Novorizontino — Foto: Divulgação/Novorizontino

Refeitório do Novorizontino — Foto: Divulgação/Novorizontino

Academia do Novorizontino — Foto: Divulgação/Novorizontino

Academia do Novorizontino — Foto: Divulgação/Novorizontino

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