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Por César Santana — Itu, SP


O rebaixamento do Ituano no Campeonato Paulista pode parecer uma surpresa para quem acompanha à distância. Afinal, o Rubro-negro ostentava a marca de equipe do interior mais longeva na elite estadual, além de ser o único time a quebrar a hegemonia dos quatro grandes no quesito título nos últimos 20 anos.

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Ao analisar as escolhas do clube e a campanha, porém, não é difícil entender porque o time terminou na lanterna da competição.

O Galo teve o pior ataque, a pior defesa e também figurou entre os piores em diversos outros quesitos dentro do Paulistão, tais como finalizações a gol por jogo, cartões amarelos e chances de gols criadas.

O Ituano vai disputar a Série A2 do Paulista em 2025 — Foto: Thomaz Marostegan/Ag. Paulistão

Entenda em cinco pontos os motivos do rebaixamento do Ituano no estadual, que volta a acontecer após 25 anos:

Insistência em Marcinho

Depois de iniciar 2023 de maneira turbulenta e demitir dois técnicos (Carlos Pimentel e Gilmar Dal Pozzo) ainda no primeiro semestre, o Ituano apostou em um velho conhecido para a função: o ex-meia-atacante Marcinho, campeão Paulista pelo clube como jogador em 2014.

Desde o início, o treinador (que até então havia trabalhado apenas como auxiliar técnico no Red Bull Bragantino) sempre falou em criar uma identidade de jogo agressiva e de imposição. Na prática, porém, isso jamais esteve perto de se confirmar.

Marcinho teve apenas 34% de aproveitamento à frente do Ituano — Foto: Miguel Schincariol/Ituano FC

Mesmo fazendo uma Série B melancólica, terminando apenas três pontos acima da zona de rebaixamento, o técnico foi mantido. Já no Paulistão deste ano, com apenas uma vitória, ele seguiu no cargo até a nona rodada, quando a permanência na elite já estava comprometida.

A troca ocorreu apenas após a eliminação na Copa do Brasil para o São Luiz-RS. Marcinho deixou o comando do Ituano com um aproveitamento de apenas 34% e foi substituído por Alberto Valentim, que pouco pôde fazer.

Reforços questionáveis

Não é segredo para ninguém que o Ituano trabalha com a política do "bom e barato" quando o assunto é montagem do elenco. Ultimamente, porém, o bom parece ter ficado apenas no discurso.

O excesso de austeridade tem prejudicado a montagem do plantel, com poucos jogadores com capacidade para decidir jogos no elenco. Nas poucas apostas mais arriscadas, a diretoria do Galo parece também não acertar a mão.

Jean Pyerre foi a grande aposta do Galo para 2024, mas até aqui, pouco jogou — Foto: Miguel Schincariol/Ituano FC

São os casos de Jean Pyerre e Leozinho. Contratado após mais de um ano afastado do futebol, o ex-meia do Grêmio esteve em campo apenas quatro vezes (uma delas como titular) no ano.

Já o craque do futsal, que brilhou nas quadras, mas também teve problemas de relacionamento na cidade vizinha, já havia tentado a sorte nos gramados sem muito sucesso. No Ituano foram apenas duas aparições totalizando cerca de 20 minutos em campo.

No total, o Rubor-negro apresentou mais de 15 reforços para a temporada 2024. Nenhum deles se firmou de fato. Vários, aliás, sequer chegaram a entrar em campo.

Base sobrecarregada

As categorias de base são um ponto forte do Ituano e isso ninguém pode negar. Gabriel Martinelli, Luiz Felipe (hoje defendendo a seleção italiana) e o próprio Juninho Paulista estão aí para provar a teoria.

No entanto, em um cenário de turbulência como o atual, a pressão sobre os meninos do Tatizão pode acabar sendo prejudicial. Nomes como Kauan Richard, Aluisio, Kaique Clemente, Marlon e Zé Carlos foram lançados em um momento pouco apropriado.

Zé Carlos, de apenas 20 anos, assumiu o comando de ataque rubro-negro neste ano — Foto: Miguel Schincariol/Ituano FC

É bem verdade que Zé Carlos até surpreendeu e anotou quatro dos seis gols marcados pelo clube no ano até aqui. Fato é, no entanto, que muitas vezes os garotos precisaram ser lançados por falta de opção ou deficiência técnica do elenco.

Posições comprometidas

Desde a saída de Rafael Elias, em agosto de 2022, o Ituano não tem um centroavante decisivo no elenco. Zé Carlos surge como uma esperança, mas ainda é um garoto de 20 anos.

Apostas para a posição, como Quirino e Matheus Cadorini, ainda no ano passado, e Salatiel não se provaram. Mas essa não é a única posição em que o Galo enfrenta problemas.

Apesar de muitas contratações, elenco do Galo ainda é carente de qualidade — Foto: Guilherme Veiga/Ag. Paulistão

A lateral esquerda está carente, já que Jonathan Silva não se provou e foi preciso até mesmo improvisar um lateral-direito na posição em diversas oportunidades.

Volantes e atacantes de beirada (uma posição que o clube contratou por atacado, mas quase ninguém vingou) também têm carências dentro do elenco.

Defesa frágil

O Ituano teve a pior defesa do Campeonato Paulista: foram 19 gols sofridos em 12 jogos.

O Galo conseguiu deixar o campo sem ser vazado apenas em duas oportunidades: na vitória sobre o Corinthians (sua única no torneio) e no empate sem gols com o Botafogo-SP em casa, que pode ser considerado um mau resultado.

Ituano teve a pior defesa do Paulistão 2024 — Foto: Rebeca Reis/Ag. Paulistão

O setor insólito, somado a um ataque pouco produtivo, não poderia resultar em algo diferente. O saldo de gols do Galo foi, de longe, o mais desequilibrado da competição: -14.

Lesões e suspensões também prejudicaram o setor. O zagueiro Claudinho e o volante José Aldo perderam boa parte da competição devido a contusões.

Na penúltima rodada, quando perdeu para a Inter de Limeira, o Galo teve de atuar sem a dupla de zaga que vinha sendo titular até então: Vitão e João Vialle, ambos suspensos.

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