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Por Arthur Brunello* — Santa Ernestina, SP


Com bom humor, descontração, bordões e efeitos sonoros improvisados com a própria voz, Evandro Cardoso narra, ao lado do comentarista Marivaldo Alcântara, as partidas das séries A2, A3 e A4 do Campeonato Paulista, e até mesmo da Copa São Paulo de Futebol Júnior no início do ano, pelo canal oficial da Federação Paulista de Futebol (FPF) no YouTube.

Veja bordões de Evandro Cardoso e comentários de Marivaldo Alcântara em jogos do interior de SP

Veja bordões de Evandro Cardoso e comentários de Marivaldo Alcântara em jogos do interior de SP

A dupla de Santa Ernestina (SP) busca rechear os jogos com entretenimento e viralizou na internet ao imitar a sonoplastia das vinhetas das transmissões de rádio, barulhos de tiro quando há um chute forte e até mesmo "dublagens" de diálogos que acontecem durante as partidas (assista ao vídeo acima).

- Os bordões saem do nada. De repente, do tanto de coisa que a gente faz, da zoeira, da brincadeira, dependendo da situação eu acabo fazendo algum tipo de som. E se eu perceber que o pessoal gosta, a gente emplaca – disse Evandro.

Evandro Cardoso e Marivaldo Alcântara — Foto: Reprodução/YouTube Futebol Paulista

Trajetória

Contudo, o futebol não foi o ponto de partida para a dupla, que acabou comentando uma partida do esporte mais popular do mundo por acaso. Evandro fazia apresentações de humor na cidade e Marivaldo era comentarista de política local e professor de matemática.

Eles nunca tinham feito nada sobre esporte até que foram convidados para narrar e comentar a partida entre o SESE (Sociedade Esportiva Santa Ernestina) e o Bandeirante, de Brodowski (SP), em um campeonato amador.

- Virei narrador de futebol meio que sem querer. Além da comunicação, trabalho com manutenção, e foi tudo meio sem querer porque eu também sou humorista, eu e mais dois amigos, e eles tinham um canal, e a gente ia a festas e eventos. Teve uma ocasião em que teve uma partida de futebol aqui na cidade, em que o Bandeirante de Brodowski enfrentou o Sese daqui de Santa Ernestina, eles estavam jogando o título de um campeonato amador regional. Eu e o Marivaldo chegamos lá e começamos a fingir que estávamos narrando, mas acabou dando certo – comentou Evandro.

Marivaldo Alcântara (à esquerda), Evandro Cardoso (à direita) e Rosemeire Cardoso (ao centro) — Foto: Arquivo Pessoal

- Eu sempre fiz alguns vídeos e jogava na internet. Aí o povo falava que era engraçado. Gravava com mais alguns amigos e eles falavam para postar, abrir um canal. Montamos um que chama Eureka e partimos para o ramo de fazer a sessão da Câmara da nossa cidade e a gente postava alguns vídeos esporadicamente, mas eu continuava dando aula, meu serviço que me dava dinheiro. Não abro mão das minhas aulas – disse Marivaldo.

O pai de Marivaldo, sim, era comunicador nato e trabalhava como radialista. Quis o destino que, anos depois, ele seguisse o mesmo rumo da comunicação, precisando, inclusive, adaptar os horários da escola com os jogos pelo interior de São Paulo.

- É bem corrido. Tenho alguns amigos de outras empresas que quando tem jogos ao mesmo tempo, a gente terceiriza. Por exemplo, eu não costumo pegar aulas nas quartas-feiras, porque é um dia que tem muito futebol, em toda semana praticamente – completou.

Marivaldo Alcântara, comentarista esportivo — Foto: Arquivo Pessoal

Convite da FPF e sucesso na internet

Após a partida de futebol amador em Santa Ernestina, a narração foi bem elogiada por quem acompanhou o evento. Tal fato chamou a atenção da Matonense, que fez um convite à dupla para narrar os jogos das categorias de base.

- Começamos a fazer uns jogos da Matonense, de forma particular. Passamos um período bacana, e o Reinaldo (presidente da Matonense) tinha uma influência grande na Federação Paulista, era muito requisitado lá. Ele falou: "Vou levar vocês lá na Federação para conversar com o pessoal, porque eu acho que eles vão gostar de vocês". Aí ele me levou junto com o Marivaldo lá na Federação Paulista, eles gostaram do nosso trabalho e contrataram a gente. Começamos a fazer os jogos da A3 e na Bezinha (até então quarto nível, hoje quinto), alguns da A2, e as competições de base dos times da região, do Catanduva, Matonense, Inter de Bebedouro, e eles passaram a gostar das nossas transmissões – relatou Evandro.

Evandro Cardoso (camisa preta), Marivaldo Alcântara (microfone) e equipe durante transmissão das divisões de acesso de SP — Foto: Arquivo Pessoal

A dupla não contava com o sucesso que as transmissões fariam nas redes sociais. Uma delas, no jogo entre Catanduva e Portuguesa-RJ pela Copinha deste ano, o vídeo dos melhores momentos da narração chegou a viralizar em diversas páginas que misturam humor e futebol na internet.

-Eu nunca esperava, nem era esse o intuito. Queríamos entrar na mídia e trabalhar para que a FPF gostasse do nosso trabalho, para a gente pegar mais equipes. Antes a gente pegava a Matonense e hoje estamos com muito mais equipes. No inicio, a gente ficava na dúvida se o pessoal ia gostar, porque parece que a gente está brincando ao invés de trabalhar, mas eles viram que a gente faz de uma forma mais descontraída, mais engraçada. Às vezes o jogo está chato e pessoal fica preso por conta do tipo de coisa que a gente faz. Nenhum de nós esperava que viralizasse, chegar até onde chegou e ser reconhecido em muitos lugares por esse tipo de trabalho – disse Marivaldo.

Com o sucesso na internet, Marvivaldo espera conseguir concilicar a vida de professor de matemática com a de comentarista. Já Evandro não descarta narrar jogos da elite no futuro.

- Na verdade, já estou bem contente em fazer essas divisões, A2, A3, A4 ou Bezinha. Já estou bastante contente com isso na narração. Se for o caso, houver a oportunidade de fazer a A1, os jogos de elite, uma Copa do Brasil ou algo assim, eu ficarei contente, mas não é algo que eu almejo, estou bem contente nas divisões que eu faço e de conhecer o pessoal, colegas de trabalho de comunicação, o pessoal dos estádios, os torcedores, isso é bem bacana – afirmou Evandro.

Estrutura de transmissão de Evandro Cardoso e Marivaldo Alcântara, narradores das divisões de acesso de SP — Foto: Arquivo Pessoal

*Sob supervisão de Vinícius Alves

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