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Por João Paulo Tilio e Paulo Taroco — La Paz, Bolívia


É difícil, ele sabe bem disso, mas, para as chances continuarem existindo e aumentarem, é preciso trabalhar. Os últimos sete meses foram voltados a essa dedicação. E os próximos passos estão traçados. Antônio Carlos Zago conduz um processo de reformulação que tem o objetivo de recolocar a seleção da Bolívia na Copa do Mundo depois de 32 anos.

Treinador brasileiro falou sobre metas no comando da seleção boliviana e mais — Foto: Federação Boliviana de Futebol/Divulgação

Em entrevista ao ge, o técnico brasileiro falou dos esforços empenhados em busca de alcançar a "proeza", como ele mesmo definiu, de classificar a Bolívia para o Mundial de 2026. A última edição disputada pela La Verde foi a de 1994, justamente nos Estados Unidos, a principal sede da próxima edição.

Eu me sinto praticamente em casa na Bolívia. Foram dois anos dirigindo o Bolívar, conseguindo títulos, implementando um modelo de jogo que chamou a atenção do futebol boliviano em geral: uma equipe que pressiona, joga com as linhas altas, procura ter a bola. Principalmente quando a partida é em La Paz, tem que ser assim, precisa tentar afogar o adversário. Foi muito gratificante o convite, é um processo de reformulação, alguns jogadores se aposentando, como o Marcelo Moreno, e a gente tentando rejuvenescer a seleção. O trabalho não é fácil, mas é gratificante, e esperamos que no final dê tudo certo
— Antônio Carlos Zago, técnico da Bolívia.

Foram quatro jogos até aqui, com duas vitórias e duas derrotas, somando amistosos e Eliminatórias. A Bolívia de Zago marcou cinco vezes e sofreu seis gols. A estreia do treinador ocorreu em novembro, quando venceu a primeira nas Eliminatórias. A seguir, perdeu para o Uruguai fora de casa. Nos amistosos recentes, levou a virada da Argélia na reta final da partida. Depois, superou Andorra.

Campanha de Zago no comando da Bolívia:

  • Bolívia 1 x 0 Peru (16/11 - Eliminatórias)
  • Uruguai 3 x 0 Bolívia (21/11 - Eliminatórias)
  • Argélia 3 x 2 Bolívia (22/3 - amistoso)
  • Andorra 0 x 1 Bolívia (25/3 - amistoso)

Zago soma quatro jogos à frente da La Verde, duas vitórias e duas derrotas — Foto: Gastón Britos/EFE

Para esta semana, há convocação agendada mirando amistoso contra o México, nos Estados Unidos, fora de Data Fifa. Outros dois testes, também nos EUA, serão realizados em junho, dentro do cronograma oficial.

  • 31/5 - Bolívia x México
  • 12/6 - Bolívia x Equador
  • 15/6 - Bolívia x Colômbia

Daí, o próximo compromisso do treinador brasileiro à frente da La Verde será a Copa América. A competição começa em 20 de junho e vai até 14 de julho, nos EUA. Os bolivianos estão no Grupo C, ao lado dos donos da casa, Uruguai e Panamá.

  • 23/6 - Bolívia x EUA
  • 27/6 - Bolívia x Uruguai
  • 1/7 - Bolívia x Panamá

Pelas Eliminatórias, os dois próximos desafios serão em setembro. No dia 5, a Bolívia recebe a Venezuela; no dia 10, os comandados por Zago visitam o Chile, em jogo pertencente à oitava rodada.

Brasileiro assumiu a seleção da Bolívia, onde teve êxito comandando o Bolívar — Foto: Federação Boliviana de Futebol/Divulgação

Veja a entrevista

Foram dois jogos válidos pelas Eliminatórias e os amistosos a seguir. Como o senhor avalia o desempenho boliviano neste ainda curto recorte sob seu comando?

– Acredito que melhoramos bastante, porque até então não tínhamos conseguido nenhuma vitória nas Eliminatórias. Os amistosos não foram como o pessoal aqui estava esperando. E, sob o meu comando, conseguimos uma vitória sobre o Peru, fazendo o dever de casa. Contra o Uruguai, fora, era um jogo muito difícil. Na minha opinião, o Uruguai é a seleção que joga o melhor futebol na América do Sul. Tivemos dois amistosos recentes, em março, na Argélia, contra o time da casa, que é uma grande seleção, tem vários jogadores no futebol europeu e em grandes clubes, perdemos no último minuto, infelizmente, em uma falha do nosso goleiro. Depois, fizemos um bom jogo contra Andorra, era para ter ganhado até de mais, ganhamos de 1 a 0. Acredito que a gente vem melhorando. Estamos competindo. Isso que procuro passar para os jogadores, a gente tem que competir contra as outras seleções. Isso é importante. O futebol boliviano nunca foi de competir, até porque o campeonato aqui é um pouco abaixo dos outros campeonatos também. A gente vem passando isso pra eles e vem dando certo.

O senhor chegou, e a seleção boliviana, coincidentemente, perdeu uma grande referência, o Marcelo Moreno. Qual o tamanho da falta dele?

– É um jogador que, nos últimos anos, foi referência do futebol boliviano. Quando digo nos últimos anos, são nos últimos 15, praticamente. Ele marcou uma história dentro da seleção. Não prepararam um outro Marcelo Moreno. No Campeonato Boliviano, tem muitos centroavantes estrangeiros atuando. Nós não temos um 9 como o Marcelo. Temos alguns jovens, um no Santos, o Monteiro, mas tem só 19, 20 anos (faz 20 no dia 27 de maio), e estamos procurando preencher essa lacuna que o Marcelo deixou, não só como jogador, mas como líder, referência para o futebol boliviano.

Emocionado, Marcelo Moreno deixa o campo em seu último jogo pela Bolívia, na derrota para o Uruguai, em novembro de 2023 — Foto: Dante Fernández/AFP

Por outro lado, o futebol boliviano tem novos valores, alguns jogando, inclusive, em grandes times do Brasil – por exemplo, Miguelito. Como vê essa nova safra da Bolívia?

– Fazia muito tempo que não víamos jogadores bolivianos jogando no exterior e atuando em grandes clubes. Temos o Miguel, o Terceros, no Santos, que ainda não teve uma chance de verdade no time de cima. Mas acredito que está preparado para isso. O Monteiro, como eu acabei de falar para você, um centroavante no Santos, fez sua estreia contra o Avaí, se eu não me engano, o Santos ganhou de 2 a 0 [na verdade, contra o Paysandu, na estreia pela Série B]. E temos nosso lateral-esquerdo, Roberto Carlos (Fernández), jogando na Rússia, na primeira divisão. Temos o Efrain Morales, no Atlanta, da MLS. Estreou um mês atrás, depois fez mais dois jogos, se não me engano. Temos o Haquin (lateral), na Ponte Preta. O Jaume Cuéllar, no Barcelona B. E o Boris Cespedes, na Suíça. Depois de praticamente 20 anos, estamos vendo jogadores bolivianos em grandes equipes. E o Villamíl, titular na LDU. É importante, pois são atletas que atuam em uma liga mais competitiva. Isso aí acaba melhorando a perfomance deles na seleção e acaba puxando os outros.

– Aqui no futebol boliviano, temos bons jogadores, jovens, que estão competindo um pouco mais agora, porque os times da Bolívia estão fazendo boas campanhas na Libertadores e Sul-Americana. Isso é importante para a seleção.

Enzo Monteiro é uma das jovens revelações do Santos e promessa do futebol boliviano — Foto: Raul Baretta/ Santos FC

O ano reserva na sequência amistosos e a Copa América, antes das Eliminatórias serem retomadas. Quais são as metas bolivianas nesta para esta continuação?

– Temos amistosos contra o México, dia 31 de maio, que não vamos poder contar com todos os atletas, pois não é Data Fifa. E depois Equador e Colômbia, duas grandes seleções, que vamos enfrentar nas Eliminatórias, serão bons testes. É claro que vamos para a Copa América pensando em chegar o mais longe possível, passar a primeira fase, tentar chegar à semifinal. Esse é o pensamento de qualquer profissional. Sabemos que é difícil. Mas o mais importante é a gente competir, tentar jogar de igual para igual com as grandes seleções, em termos de intensidade, físico, é o que a gente vem procurando melhorar aqui na seleção. E lógico, preparar a equipe para as Eliminatórias. Temos seis jogos neste ano, temos que fazer o dever de casa, sonhamos em ganhar os três jogos em casa. Iríamos a 12 pontos. E beliscar algo fora. E continuar sonhando, no próximo ano, em uma vaga no próximo Mundial. É esse nosso planejamento.

Como avalia a relação atual do futebol brasileiro com os treinadores estrangeiros?

– Não vejo nada contra. A globalização também tomou conta do futebol brasileiro. Só que, na minha opinião, quem fez a diferença mesmo, no Brasil, nos últimos anos, de treinadores estrangeiros, é o Abel, que vem fazendo um trabalho brilhante no Palmeiras, Jorge Jesus, no Flamengo em 2019, e depois tivemos brasileiros, como o Dorival, ganhando a Copa do Brasil e a Libertadores. Hoje, você fala um nome português no Brasil, os caras vão, contratam e nem sabem onde o cara está trabalhando em Portugal. O cara faz uma música de fado e vem como treinador para o Brasil. Não vejo isso com muita coerência, até porque temos grandes treinadores no futebol brasileiro, jovens, que precisam de tempo, espaço, para poder mostrar seu trabalho. Sou a favor, não tenho nada contra, mas desde que traga algo diferente, faça algo de diferente como vem fazendo o Abel no Palmeiras.

Zago elogiou Abel e Jesus, mas fez ponderações ao relacionamento do futebol brasileiro com técnicos portugueses — Foto: Cesar Greco/Palmeiras

Até que ponto esta atual Bolívia poderá chegar sob o comando de Antônio Carlos Zago?

– Espero chegar ao mais longe possível, e o mais longe mesmo é uma vaga para a Copa do Mundo. A gente vem trabalhando muito para que isso aconteça. São 30 anos sem a Bolívia disputar um Mundial. Seria um sonho, uma proeza colocar a Bolívia no próximo Mundial. Saiu atrás um pouco, porque foram quatro jogos e quatro derrotas, sem colocar a culpa no outro treinador. E duas derrotas em La Paz, onde temos que fazer a diferença. Isso aí acaba fazendo falta agora, e a gente vai ter que correr atrás, tentando ganhar todos os jogos dentro de casa ou tentando conquistar alguns pontos fora. Mas, o sonho mesmo, queira ou não queira, é colocar a Bolívia no próximo Mundial. É o que a gente espera, eu tenho como meta na minha carreira agora.

Meta é recolocar a Bolívia em uma Copa do Mundo, garantiu o treinador brasileiro — Foto: Federação Boliviana de Futebol/Divulgação

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