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Por Bruno Ravazzolli — Porto Alegre


A crise no Grêmio ficou escancarada após a derrota no Gre-Nal - a sétima em nove rodadas do Campeonato Brasileiro. O ambiente está conturbado e a pressão externa aumenta em níveis exponenciais. O próximo jogo será contra um rival direto na luta contra o rebaixamento e eleva a tensão nos bastidores do clube antes do retorno ao Rio Grande do Sul.

Grêmio entende os riscos do rebaixamento no Brasileirão?

Grêmio entende os riscos do rebaixamento no Brasileirão?

O Tricolor perdeu consecutivamente para Bahia, Bragantino, Flamengo, Botafogo, Fortaleza e Inter. A sequência atual iguala a marca negativa de 2004 e o começo só não é pior que a campanha de 2021. Por coincidência, a equipe gaúcha caiu para a Série B nas duas temporadas.

Afinal, o que poderia explicar o mau momento do time de Renato Portaluppi na competição? O ge apresenta motivos que ajudam a decifrar a situação perigosa na qual o Grêmio se encontra na temporada.

Grupo curto

Renato admite ter poucas opções no elenco. O cenário piora à medida em que o Grêmio perdeu três titulares incontestáveis em meio à maratona: Villasanti e Soteldo, convocados, e Diego Costa, machucado.

A maior prova da insuficiência do elenco foi exposta pelo treinador nos minutos finais do Gre-Nal. O contestado zagueiro Rodrigo Ely entrou na vaga de Dodi para atuar como centroavante por ser um "exímio cabeceador", de acordo com a justificativa de Portaluppi.

Às vezes, a falta de opções te leva a essa sequência negativa.
— Renato Portaluppi, técnico do Grêmio
Renato Portaluppi expôs o grupo do Grêmio?

Renato Portaluppi expôs o grupo do Grêmio?

Há titulares e reservas contestados por torcida e imprensa. Marchesín, Caíque, Ely, Fábio, Reinaldo, Carballo, Du Queiroz, Nathan, Galdino e JP Galvão são alguns dos que sofrem com as críticas. Internamente, o clube reconhece que precisará fazer uma janela forte para reforçar o grupo.

– A gente peca por falta de peças em algumas posições. Chega num clássico e eu tenho que colocar um zagueiro lá na frente. Estava tentando com o Galvão, todos criticando, tentei improvisar. Às vezes, eu olho para o lado e ou improviso ou não mudo – argumentou Renato.

Pior ataque

Pior ataque do Brasileiro, a equipe fez seis gols em nove rodadas, média de 0,66. Só em uma ocasião anotou mais de um no mesmo jogo - no 2 a 0 sobre o Athletico. Nos demais, marcou um contra Vasco, Cuiabá, Flamengo e Botafogo e passou em branco contra Bahia, Bragantino, Fortaleza e Inter.

Sem Diego Costa, a posição se tornou uma dor de cabeça. JP Galvão nunca correspondeu - são três gols, todos no Gauchão, em 43 partidas pelo clube. A solução encontrada para o clássico foi improvisar Galdino, de atuação apagada.

João Pedro Galvão em treino do Grêmio — Foto: Luis Eduardo Muniz/Grêmio FBPA

Os gols no Brasileiro foram marcados por Cristaldo, duas vezes, Soteldo, Gustavo Nunes, Edenilson e Gustavo Martins. Apenas dois gols foram marcados por atacantes.

– Às vezes, eles criam e não chutam. Às vezes, não criam muito e chutam. Nossos atacantes têm essas características de gostar mais de criar do que chutar – avaliou o treinador.

Rodízio no gol e mesmo esquema

O rodízio entre os goleiros e a indefinição de um titular para a posição têm gerado incômodo e desconforto internamente, conforme o relato de fontes ao ge. Marchesín, Caíque e Rafael Cabral atuaram pelo menos uma vez nos últimos cinco jogos. O argentino deve continuar na meta.

Outro ponto é a insistência no mesmo esquema, com dois volantes, um meia, dois pontas e um centroavante. Por ora, Renato não apresentou variações táticas ou tentativas de alterar a forma de jogar. O time fornece espaços no meio e convive com falhas defensivas.

Renato Portaluppi deve sair do Grêmio?

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Desgaste físico e emocional

Desde a retomada após as enchentes no Rio Grande do Sul, o Tricolor disputou oito jogos em 24 dias, média exata de uma partida a cada três dias. O cansaço dos atletas é inquestionável. A maratona segue com dois duelos na semana: Atlético-GO, em Goiânia, e Fluminense, em Caxias.

O Grêmio só conseguiu resultados na Libertadores quando atuou com a corda esticada. Goleou o The Strongest, bateu o Huachipato e empatou com o Estudiantes. No Brasileiro, ainda não apresentou forças para repetir a mobilização do torneio continental.

O treinador argumenta que os atletas "estão há 40 dias sem ver a família", embora os familiares tenham viajado com alguns atletas. O combo de fatores é mais um ponto que influencia no comportamento e desempenho dentro de campo.

– Estamos há 40 dias sem ver a família. Isso não diz nada? Vem trabalhar a parte psicológica deles aqui, sem ver a família. Eles não sentem só a falta da família, sentem as derrotas. São humanos. Sabem da responsabilidade – salientou Renato.

"Torcedor do Grêmio precisa de respostas, alguém tem que cair", diz Queki | Voz da Torcida

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Escolhas logísticas questionáveis

Atuar longe da Arena, sem dúvida, é um dos fatores determinantes para o mau momento. Não à toa as únicas vitórias da equipe no campeonato ocorreram no estádio. A questão que gera dúvidas é por que o Grêmio ainda não voltou ao RS para treinar e jogar.

Para efeitos de comparação, o Inter enfrenta o mesmo cenário, ocupa a sétima posição na tabela e tem realizado atividades em solo gaúcho, além de mandar jogos em locais mais próximos de casa, como em Criciúma e Florianópolis.

Grêmio time itinerante — Foto: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O Tricolor preteriu o retorno ao Sul por deslocamentos mais curtos entre uma rodada e outra. A escolha por Cariacica foi alvo de críticas. Os visitantes botafoguenses foram a maioria no Kleber Andrade. Os gremistas eram vaiados a cada toque na bola.

A escolha por permanecer em Curitiba após o Gre-Nal também gerou questionamentos. Havia tempo hábil para voltar, aproveitar horas com a família e treinar. O CT Luiz Carvalho já está apto para receber o grupo, conforme relatos do presidente Alberto Guerra. A delegação se desloca do Paraná para Goiás nesta terça à tarde.

Discurso conformado

Entre tantas frases e justificativas, Renato Portaluppi chegou a dizer que as dificuldades "serão assim em todo o primeiro turno", além dos folclóricos "vai decolar" e "faltou sorte". O risco de rebaixamento foi minimizado nas manifestações recentes de Guerra. Na prática, o Grêmio é o 19º com seis pontos.

O discurso pouco enérgico para apontar problemas e soluções preocupa os torcedores. A cada novo tropeço, a pressão aumentará mais e mais sobre o trabalho do departamento de futebol. Os dirigentes Antônio Brum e Luís Vagner Vivian estão em xeque.

Nem passa na minha cabeça (risco de rebaixamento).
— Renato Portaluppi, técnico do Grêmio
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O Grêmio sabe da importância de somar pontos contra o Atlético-GO, nesta quarta, em Goiânia. O confronto é direto. O rival possui três pontos a mais e é 16º. Posteriormente, enfim, o time voltará ao RS para uma série de jogos em Caxias, o que motiva e dá esperança de reação no certame.

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