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Por Juan Rodrigues — Porto Velho


Mycael defende pênalti contra o Chile no Pan — Foto: Lesley Ribeiro/CBF

Hoje estrela do ouro no Pan-Americano Santiago 2023, o goleiro Mycael é motivo de orgulho em Porto Velho. O atleta foi convocado por Ramon Menezes para a seleção brasileira olímpica que fará o último período de treinamentos antes da lista final visando o Pré-Olímpico, na Venezuela, em janeiro. Não haverá amistosos e os 23 jogadores ficam reunidos para trabalhos no CT Joaquim Grava, do Corinthians, de 13 a 21 de novembro.

Motivos para não só da família se sentir briosa - como abordado nesta terça-feira (7) - mas também que ficará marcado nessa trajetória como treinador de Mycael no campo de jogo. Caso de Ronald Lage que foi treinador de goleiros do arqueiro antes dele ir para o Athletico Paranaense.

- Na verdade eu comecei, eu fui procurado pelo pai do Mycael e nós começamos a fazer um trabalho de base. Então é como se fosse aquele professor que está ensinando o aluno a ler no primário, na escola. E começamos a dar os primeiros passos e vi que o Micael tinha qualidades, tinha um bom fundamento e começamos a trabalhar em cima de explorar a qualidade dele. Explorar a maneira de a parte específica para goleiros de tudo aquilo que um goleiro necessitava em termos de alicerces. Em termos de conhecimento, como Graças a Deus tecnicamente eu sempre fui muito bom quando jogava e tive excelentes preparadores de goleiros. Eu procurei implantar um trabalho no Mycael, assim como em todos, só que nós sabemos que nem todos conseguem virar. Tem uns que conseguem realmente mostrar uma qualidade maior. E foi o que aconteceu com ele. Ele era um dos goleiros mais jovens, com menos de 12 anos, o mais jovem e o que tinha mais qualidades, por incrível que pareça - disse ao ge.globo/ro.

Técnico Ronald Lage do Sub-16 do Genus R1 — Foto: Hugo Crippa

Mineiro de Carambola, Ronald fez sua iniciação no futebol em Belo Horizonte, na escolinha do Cruzeiro Esporte Clube. Aos 17 anos, começou a atuar profissionalmente como goleiro do Tupi Futebol Clube. Desde então começou sua trajetória de sucesso no futebol brasileiro, atuando em cerca de 20 times. Atuou na primeira partida da histórica Copa do Brasil defendendo o Paysandu (PA), diante do Flamengo (RJ) no Maracanã, em 1986.

Ronald Lage veio para Rondônia reforçar a equipe do VEC - Vilhena Esporte Clube, como a primeira contratação “de peso” realizada pela direção do clube criado em 1991.

Já no Clube de Futebol Amazônia, em 2002, foi destaque no esforço concentrado da equipe que conseguiu o título de Campeão Rondoniense daquele ano. Seu contrato com o CFA foi o último de sua carreira no futebol profissional.

Lage foi um dos primeiros a observar o potencial de Mycael em Rondônia, ainda nos campos de Porto Velho. Hoje, ao ver o seu ex-jogador com o brilho da Seleção Brasileira, o sentimento é de satisfação. O treinador exalta a característica do atleta.

- O Mycael tem um bom condicionamento, por que isso nós trabalhamos desde a base. Posição de gol é posicionamento. O goleiro não pode ser sensacionalista de querer saltar em qualquer bola - afirma.

Em Porto Velho, Mycael teve a oportunidade de treinar em escolinhas de futebol, como o Avaí, o Rondoniense e o R1, com o treinador na época, Ronald Lage, que destacou ter formado um atleta com bastante qualidade. Lage afirma que implementou uma ideia de jogo baseada no posicionamento e espelhada em grandes nomes do futebol brasileiro como Raul Plassmann, ex-goleiro do Atlético Paranaense (onde começou a carreira), São Paulo, Cruzeiro e Flamengo e Taffarel, tetracampeão mundial com o Brasil.

- Eu sempre me espelhei no Raul que foi goleiro do Cruzeiro. O Taffarel que são dois goleiros que realmente se posicionaram muito bem e pulavam muito pouco. Que se posiciona bem, pula pouco, cai pouco e eu procurei trabalhar dessa forma. E eu também tinha esse posicionamento bom dentro do gol quando jogava. Não era de estar pulando, estava sempre muito bem colocado - conta.

A história de Mycael pela ótica do pai e de 1 dos primeiros técnicos do medalhista de ouro

A história de Mycael pela ótica do pai e de 1 dos primeiros técnicos do medalhista de ouro

A trajetória de Mycael

Os primeiros contatos de Mycael foram na rua onde morava e na área de casa, onde o goleiro começou a jogar futebol. Na época, Moisés percebeu a habilidade do jogador com a perna esquerda, a perna mágica de tantos outros craques como Messi, Maradona, Rivaldo, entre outros. Aos dez anos, o pai Moisés Moreira colocou o jovem na primeira escolinha de futebol na carreira.

Foi com o seu Zeca, na escolinha do bairro Areia Branca, que o goleiro começou a treinar. Em um dia, com a ausência do goleiro da equipe, Mycael foi lançado para o gol pela primeira vez e neste momento a sua vida mudou de trajetória.

Mycael durante a infância — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A carreira de Mycael podia ter tomado outro rumo, mas segundo o pai do atleta, o desejo de ser goleiro está no sangue da família. Moisés conta que tiveram outros goleiros na família, inclusive o avô do goleiro da Seleção Brasileira sub-20, Hermes das Chagas.

Em Porto Velho, ele teve a oportunidade de treinar em outras escolinhas de futebol, como o Avaí, o Rondoniense e o R1.

Mycael foi campeão em Ji-Paraná, quando treinava na escolinha do Avaí — Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Mas foi no Athletico Paranaense que o goleiro passou a ser observado para as categorias de base da Amarelinha. Aos 12 anos, o garoto de Porto Velho teve a oportunidade de participar de uma peneira do Furacão. O campo do CFA foi palco para atletas da cidade correrem atrás de seus sonhos. Mas ainda não era o momento de Mycael, apesar de ter atraído os olhares do professor Ferreira, foi outra promessa rondoniense que passou nos testes, Arielson, atacante que pertence ao Cruzeiro e hoje está no FC Polissya, da Ucrânia.

A segunda oportunidade foi quando Moisés, o pai de Mycael, trabalhava como motorista de um supermercado da cidade. Ele conta que o próprio goleiro descobriu que os olheiros do Athletico-PR estavam em Porto Velho e fez com que o pai o levasse ao estádio Aluízio Ferreira.

Na ocasião, Moisés pediu a liberação para o seu chefe na rede de supermercados. O pai conseguiu ser liberado, e pegou a sua motocicleta para levar o filho para a avaliação novamente. Dessa vez, entre outros vários avaliados, foi a vez do filho. A corrida para o Aluizão valeu a pena. Mycael foi escolhido em uma peneira com cerca de 500 atletas.

Mycael Athletico Brasil seleção — Foto: Bruno Pacheco/CBF

Após o período de avaliações na capital do Paraná, o goleiro retornou à Porto Velho. Ainda realizou outros dois testes em outros grandes clubes, o Grêmio e o Flamengo, clube do coração do pai do arqueiro, mas foi no Athletico-PR que ele escolheu ficar.

Aos 16 anos, Mycael assinou o seu primeiro contrato profissional com o Furacão. O atleta de 19 anos estendeu o contrato até março de 2027 - o anterior era até junho de 2023.

O sonho de ver o filho com a camisa da Seleção

Goleiro do Athletico, Mycael, conquista o Sul-Americano sub-15 com a Seleção — Foto: Thais Magalhães/CBF

Mycael foi o escolhido de Ramon Menezes para ser titular no Pan-Americano 2023. Aos 19 anos, foi com o mesmo treinador que ele teve a chance de ser chamado para o Brasil nas Eliminatórias Sulamericanas para a Copa do Mundo de 2026. À época, para o amistoso contra o Marrocos, na data Fifa de março de 2023. Ainda não foi a primeira atuação com a camisa canarinha principal, mas o atleta já esteve na lista.

O jovem goleiro levantou a terceira taça na base brasileira: Pan (2023) e Sul-Americano sub-20 (2023) e Sul-Americano sub-15 (2019).

Em 2019, no torneio sul-americano sub-15, o goleiro Mycael defendeu pênalti na final contra a Argentina, como na primeira vez que atuou como goleiro. Nesta temporada, ele repetiu a dose contra a Argentina desta vez pelo Sulamericano Sub-20 vencido com o Brasil.

Mycael repetiu os feitos de Weverton e Santos, que no período que jogavam no Athletico também pegaram cobranças de pênalti na campanha pela seleção brasileira.

Em setembro, Mycael chegou a soma de 46 convocações na carreira, sendo 45 delas na base e uma na seleção principal.

Os números impressionam e registram um recorde: Mycael é o jogador com mais convocações nas categorias de base da Seleção Brasileira. E, recentemente, foi chamado para a última bateria de testes com o Brasil antes do pré-olímpico da Venezuela.

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