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Por Alessandro Jodar e Bruno Diniz — São Paulo


Esporte Espetacular investiga o motivo de tantos Riquelmes no futebol do Brasil

Esporte Espetacular investiga o motivo de tantos Riquelmes no futebol do Brasil

Já imaginou um jogo de futebol podendo ter em campo um time formado só por Riquelmes? Nem o mais otimista dos amantes do futebol imaginaria uma cena dessa.

De fato, jogadores como Juan Román Riquelme, camisa 10 clássico, dono de lances mágicos, considerado pelos argentinos o maior jogador da história do Boca Juniors, não nascem todo dia.

É por causa de ídolos assim que certos nomes acabam sendo eternizados e se tornam uma forma de homenagem. Vimos isso na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2020.

Entre os 127 times que começaram a competição, pudemos encontrar 12 garotos que foram batizados com o sobrenome do craque argentino.

– Tem bastante Gabriel, Mateus, mas o meu nome é difícil achar e nessa Copinha apareceram 11 ou 12. Fiquei surpreso! – disse Rikelmi, atacante do Juventus.

A idolatria veio depois que muitos times brasileiros sofreram nos pés do meia argentino, principalmente o Palmeiras, sua maior vítima. Riquelme, o original, foi campeão da Libertadores em 2000 contra os palmeirenses e entrou de vez no imaginário do torcedor brasileiro em 2001, no antigo estádio Palestra Itália, quando fez uma das partidas mais fantásticas de sua carreira e voltou a castigar o time alviverde na semifinal da competição continental.

Torcedores do Boca com máscaras do Riquelme original — Foto: getty images

Na época, o Riquelme veio jogar no Brasil contra o Palmeiras e deu um show. Eu, como sou corintiano, decidi dar esse nome para o meu filho, só que coloquei o K no lugar do Q - disse José Agostinho dos Santos, pai do Rikelmi, atacante do Juventus.

– Uma coincidência boa e sinal de que o Riquelme jogava muito. Foi um baita jogador e merece receber essa homenagem com os nomes desses garotos - disse Célio Lúcio, técnico do Cruzeiro sub-20.

Célio Lúcio foi zagueiro nos anos 90 e ganhou a Libertadores pelo Cruzeiro em 1997. Ele teve a sorte de nunca encontrar Juan Román Riquelme pela frente. Em compensação, hoje, como técnico das categorias de base do Cruzeiro, tem dois garotos inscritos na Copinha com o nome inspirado no argentino: Riquelmo e Riquelmy. Em Belo Horizonte, ainda ficaram outros três. Ao todo, o clube tem cinco Riquelmes sendo formados.

– As pessoas falam que não adianta só ter o nome. Tem que jogar igual (ao Riquelme) – disse Riquelmy, volante do Cruzeiro.

Rikelmi, do Juventus, em entrevista para o Esporte Espetacular — Foto: Bruno Diniz

O Cruzeiro é apenas parte de um fenômeno nacional. Segundo dados do Censo 2010 do IBGE, são 14.037 Riquelmes pelo Brasil. Se forem levadas em conta as grafias criativas, como a desses garotos da Copinha, o número ultrapassa os 20 mil. Antes dos anos 2000, o IBGE registrou apenas 228 referências ao nome no país.

– Muito provavelmente está relacionado ao desempenho do jogador argentino, que se refletiu nos pais e mães que acabaram batizando seus filhos em homenagem a esse esportista – disse Carmen Danielle Macedo, coordenadora de marketing do IBGE.

É o que acontece historicamente. Foi assim com o nome Romário, que saltou de 10.511 registros nos anos 80 para 39.740 nos anos 90, quando o Brasil ganhou o tetra e o Baixinho foi o grande destaque.

Mesmo com tantos Riquelmes por aí, é difícil que surja outro como ele. Depois da primeira fase da Copa São Paulo, poucos ainda sonham com o título e o nome na história, caso dos garotos do Cruzeiro. Muitos outros já foram eliminados, como o Rikelmi do Juventus e agora resta acompanhar a competição na torcida pelos xarás.

– Fomos eliminados, mas desejo sorte pra eles, pra que eles possam representar nosso nome da melhor forma possível. Vai, Riquelme! – disse Rikelmi, atacante do Juventus.

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