O domingo estava ensolarado, sem nuvens no céu em Cascavel, no oeste do Paraná. Eles só queriam acelerar. No palco da corrida, a famosa "curva do bacião" movia os apaixonados por adrenalina. É disso que os 28 pilotos que estavam ao lado de André Veríssimo Cardoso e Érico Veríssimo da Rocha, na largada da prova do Moto1000GP, querem lembrar daquele dia 27 de agosto de 2023.
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Polícia investiga acidente em que dois pilotos morreram em Cascavel
Peri Cunha largou na mesma prova, da quinta posição. No momento do acidente, estava à frente de André. Na reta oposta, assumiu a segunda posição e logo viu a bandeira vermelha. Seguindo a orientação do protocolo, completou a volta para sair da pista e viu os colegas já sendo atendidos pela equipe médica.
Ele está nas pistas desde 2012 e participa de competições desde 2016, mas nunca tinha vivido algo parecido.
— Eu confio nos protocolos de segurança, porque são os mesmo utilizados pela Federação Internacional de Motovelocidade. A organização instalou diversas barreiras de proteção nas áreas de escape, e em todo final de semana de corrida temos reunião, onde falamos de segurança — disse Peri, em conversa com o ge.
Os pilotos que largaram junto com André e Érico planejam uma homenagem aos dois. A quinta etapa do Campeonato Brasileiro de Motovelocidade está prevista para 6 a 8 de outubro, no Circuito dos Cristais, em Curvelo, Minas Gerais.
— Vamos seguir em homenagem a eles. Eles amavam o que faziam, assim como nós — destacou Peri.
— Nós, pilotos, somos muito unidos. Hoje estamos triste com o que aconteceu, mas o esporte não acaba ali. Ele renasce. E mais forte. Sempre vamos lembrar das coisas boas que eles fizeram, e do que podemos fazer para os demais — disse o piloto Marcelo Miarelli, que também estava na largada, em entrevista ao ge.
Miarelli estava duas motos atrás de André na pista. Ele tentou sinalizar para os colegas quando viu o companheiro caído, mas não conseguiu evitar o acidente. Na motovelocidade desde 2018, o piloto não pensa em parar e destaca a importância da modalidade para quem compete.
— Eu sou piloto e instrutor em uma escola de pilotagem, não consigo contar quantas pessoas tirei das rodovias para andar nas pistas, e quantas pessoas, mesmo ainda andando nas rodovias, estão mais experientes porque passamos técnica e informação. É vida, é informação, e paixão. Minha felicidade é, no final de um "track", um piloto de rua falar que vai vender sua moto de rua e começar a andar nas pistas. Isso me deixa mais feliz do que ganhar uma corrida. O Peri mesmo, era um piloto de rodovia, de tanto encher a cabeça dele hoje está nas pistas e acelerando muito. O esporte é vida — comentou o piloto.
—Precisamos falar sobre o que o Moto1000GP tem feito para o esporte, a estrutura, a preocupação com a segurança, o trabalho que tem feito na categoria de base, para levar os jovens brasileiros para correrem no mundial — completou Miarelli.
O acidente
Logo após a largada da categoria, André caiu da moto na saída de uma curva do Autódromo Zilmar Beux e ficou no meio da pista. Ao se levantar, foi atingido por Érico, que não conseguiu desviar. Os dois receberam atendimento médico, mas não resistiram aos ferimentos.
Sobre o atendimento aos pilotos, a assessoria do Moto1000GP disse que o medical car chegou em 21 segundos ao ponto do acidente. A ambulância chegou 20 segundos depois, e o primeiro atendimento, com dois médicos, UTI e equipe especializada demorou 41 segundosm ainda conforme a assessoria.
O ge entrou em contato com o Consórcio de Saúde dos municípios do Oeste Paranaense (Consamu), mas o orgão não repassa relatórios de atendimento.
Segundo o diretor de prova do Moto1000GP, Marcus Vinícius Oliveira, o acidente não teve relação com o circuito do Autódromo de Cascavel. Para ele, o acidente que causou as mortes de Érico Veríssimo da Rocha e André Veríssimo Cardoso é o único tipo de acidente que os membros e comissários internacionais, homologados pelo braço latino-americano da Federação, não conseguem prevenção efetiva.
André Veríssimo Cardoso foi sepultado nesta terça-feira. Érico Veríssimo da Rocha será velado em Olinda, em Pernambuco, na quarta-feira.
A Polícia Civil do Paraná vai investigar o acidente. A corporação da cidade abriu um inquérito para apurar a causa da ocorrência
Largada da GP 1000 no sábado, véspera do acidente — Foto: Moto1000GP/ Grelak Comunicação
Motovelocidade no Brasil e busca por apoio
Competir na motovelocidade não é barato. Apesar dos brasileiros que estão ganhando espaço em competições de nível mundial, muitos deles viajam sem patrocínio e ainda é difícil conseguir apoio. Entre os relatos dos pilotos procurados pela nossa equipe, a necessidade de mais apoio é unânime.
— Quem está ali é por muito amor ao esporte, faz o impossível e abre mão de muita coisa. Deveria ser mais divulgado, para ser mais valorizado. Pratico esse esporte a mais de 10 anos, e ele me trouxe tudo. Ganhei amigos, saúde, e também é o "ganha pão" de muita gente. Somos muito unidos e todos se ajudam - defende Peri Cunha.
Eric Granado é um dos principais atletas da motovelocidade nacional atualmente. Tetracampeão do SuperBike Brasil, se recuperou de um edema cerebral neste ano e brilhou em GP da Itália. Ele é uma inspiração para os garotos, crias do Moto1000GP, que hoje elevam o Brasil internacionalmente no Campeonato Mundial de Motovelocidade.
Turquinho Júnior, Enzo Valentim, Diogo Moreira, Kevin Fontainha, Gustavo Manso, Humberto Maier, Ramiro Gôndola estão entre os nomes em alta no esporte. A base vem forte. O Moto1000GP tem um programa, idealizado pelo piloto Adan Douglas, pra levar pilotos jovens para correr na Europa.
Depois de oito anos de inatividade, o Moto1000GP passou a integrar o Campeonato Brasileiro de Motovelocidade neste ano. A Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM) planejou um calendário com seis etapas. A de Cascavel foi a quarta.
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