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Por Rodrigo Saviani — Londrina


Quando perguntam ao jornalista Ariel Palácios para qual time que ele torce, a resposta geralmente surpreende. Nada de River Plate ou Boca Juniors, como muitos pensam, por conta de ele morar na Argentina. O time de Ariel Palácios é o Londrina, e ele tem até o rosto estampado em uma bandeira no estádio.

Ariel Palácios detalha paixão pelo Londrina e vê de perto a homenagem feita pela torcida

Ariel Palácios detalha paixão pelo Londrina e vê de perto a homenagem feita pela torcida

Sou torcedor do Londrina Esporte Clube. É o clube da minha cidade. Não vejo lógica em torcer por outro.
— Ariel Palácios

— Ah, e não sou daqueles que torce pelo Londrina e por outro fora de Londrina. Não vejo o menor sentido disso. Sou torcedor do Tubarão, ponto final — disse Ariel, em entrevista ao ge durante passagem recente por Londrina.

Ariel Palácios é brasileiro, mas nasceu na Argentina. Cresceu em Londrina, no norte do Paraná, onde foi criado pelos pais e também se formou jornalista.

Ele mora atualmente em Buenos Aires, onde vive há quase 30 anos e é correspondente da Globo News e com presença frequente no Redação Sportv.

Ariel Palacios nasceu na Argentina e cultiva paixão pelo Londrina — Foto: Rodrigo Saviani

Diante deste cenário, principalmente por estar há tanto tempo em terras argentinas, Ariel geralmente tem que "justificar" o motivo de torcer pelo Londrina.

— No começo é engraçado. Depois começa certa insistência. Sempre tem a pergunta: você mora em Buenos Aires? Sim. Torce pra River ou Boca? Te outros times na Argentina, mas não torço para o River, nem para o Boca e nem para ninguém, torço só pelo Londrina. As pessoas não entendem — contou Ariel.

— Ah, o Londrina vai mal.... e daí? Eu sempre comento que às vezes a gente tem um tio que fracassou, o tio Eustáquio, por exemplo, que se deu mal nas finanças, com casamento, não sei mais o que, mas é o tio do nosso coração, a gente gosta dele. Ele vai bem ou mal, é o nosso tio querido. O Londrina é a mesma coisa. E daí que o time vai mal. Acontece. Não tem que torcer pelo time vencedor. É muito fácil torcer pelo time vencedor. Torcedor mesmo é aquele que mantém a sua lealdade ao clube, independentemente da situação do clube — prosseguiu Ariel.

Torcedor nasce do olhar curioso de criança

A relação do Ariel Palácios com o Londrina começou na metade da década ds 1970, do olhar curioso de criança, que viu de longe a construção do Estádio do Café da janela do apartamento de onde morava.

— Comecei a ficar fascinado pelo futebol a partir do momento que eu morava no nono andar do edifício Alasca. Londrina tinha poucos prédios no Centrão. Então eu via, olhando para o norte, um terreno vazio enorme, meio branco. Eu peguei o binóculo que ganhei do meu avô e vi que estavam construindo o Estádio do Café. Dia a dia fui vendo construir. Comecei a me interessar pelo clube, pelo futebol. Minha entrada no futebol não foi por outras vias a não ser justamente e unicamente pelo Londrina Esporte Clube — relembrou.

Ariel Palácios é presença frequente no Redação Sportv — Foto: reprodução/video

Após a construção do Estádio do Café, o Londrina viveu a maior fase na história do clube. O Tubarão foi uma das grandes surpresas do Campeonato Brasileiro de 1977, venceu Corinthians, Santos, Flamengo e Vasco e parou nas semifinais, eliminado pelo Atlético-MG. Em 1980, o LEC foi campeão da Taça de Prata - atualmente a Série B do Brasileiro.

— Foi uma época fantástica para o Londrina. Eu já senti uma simpatia ao ver o estádio sendo construído. Era como pegar carona em uma nova etapa — resumiu Ariel Palácios.

Bandeira para o torcedor ilustre

Por frequentemente falar de Londrina e também da torcida pelo Londrina EC, Ariel Palácios chamou a atenção dos Mandíbulas, uma torcida que tem várias pessoas da mesma família. Em 2018, surgiu a homenagem, e Ariel virou bandeira.

— Tudo aconteceu num churrasco de família. Um dos meus irmãos começou a falar do Ariel Palácios, contou a história dele, que o único clube dele é o Londrina. Aí ele falou: esse merece uma bandeira. Só que eu acatei, levei a sério. Vamos fazer, sim. Já tinha feito a bandeira do Mandíbulas e imaginei do lado a bandeira do Ariel Palácios. Já que o Ariel Palácios não podia estar no Estádio do Café, está longe, vamos levar uma bandeira para representar a presença dele — relatou Avelino Mateus, um dos membros da torcida Mandíbulas.

Ariel Palacios nasceu na Argentina e cultiva paixão pelo Londrina — Foto: Paola Miriã/G10 Grupo de Apoio ao LEC

Justamente nesta entrevista ao ge, Ariel pôde conhecer de perto, pela primeira vez a bandeira com o próprio rosto, feita pela torcida Mandíbulas, além de ver alguns dos criadores pessoalmente.

É muito diferente ver meu rosto ali na bandeira. É positivamente surrealista, inesperado. Eu já tinha visto as fotos, mas ver assim pessoalmente e ver os criadores da bandeira é algo fenomenal, me emociona muito.
— Ariel Palácios

— É emocionante. A primeira vez alguém me falou, e eu achei que era uma brincadeira, um meme. Depois vi que era sério. Mas eu? É impressionante, emocionante. E uma grande responsabilidade pictórica, vamos dizer assim, também. É muito legal. É uma emoção muito grande, não tenho palavras para explicar — completou.

— A gente não imagina [que ia mostrar a bandeira pro Ariel]. Nos pegou de surpresa, tomar essa proporção. A gente ficou emocionado, de conhecer pessoalmente o Ariel Palácios. É uma alegria, um dia inesquecível — comemorou Avelino Mateus.

Ariel Palacios nasceu na Argentina e cultiva paixão pelo Londrina — Foto: Rodrigo Saviani

Por causa da rotina como correspondente, Ariel Palácios confessa que não tem conseguido acompanhar muito o Londrina, mas sempre que é possível recebe noticias. Nos dias que esteve em Londrina, o LEC jogou fora de casa, na estreia pela Série C do Brasileiro, mas o jornalista esteve presente em um treino do time. Mesmo de longe, a torcida continua viva e forte pelo Tubarão.

— É como os amigos. Passa anos e anos, mas quando você encontra, é como se tivesse conversado com a pessoa ontem — comentou.

Novo livro e a presença do futebol

Ariel Palácios esteve no Brasil nas últimas semanas para o lançamento do seu novo livro "América Latina Lado B", publicado pela Globo Livros. A publicação narra histórias de líderes dos países do continente, principalmente as mais peculiares. O futebol também aparece em duas situações pontuais.

Uma delas é sobre a "Guerra do futebol " entre Honduras e El Salvador.

— Tudo começa em 69 com uma rivalidade que já existia, nacional, por questões sócio econômicas, mas cujo estopim para guerra e o efeito dominó que isso tem são os jogos das Eliminatórias para a Copa do México, de 70, entre as seleções de Honduras e El Salvador. Começam a matar torcedores.

— A tensão cresce, manifestações, o fanatismo futebolístico se transforma em um nacionalismo frenético. Isso leva os dois países a guerra, com bombardeios de cidades, os salvadorenhos conseguem invadir Honduras, chegam perto da capital e depois tem que retroceder.

Bandeira de Ariel Palácios estendida no Estádio do Café — Foto: Gustavo Oliveira/Londrina EC

Há ainda um capítulo sobre o Papa Francisco, que é torcedor fanático do San Lorenzo, da Argentina e, por conta de uma promessa, não assiste jogos pela TV.

— Quando era bispo, cardeal, ele continua indo ao estádio, não à paisana, mas de batina. Até que em 90 ou 91, há uma menininha muito doente, ele faz uma promessa pela saúde dela, e a promessa é nunca mais ver um jogo de futebol pela TV. Ela fica curada. Sobravam rádio e ir ao estádio, só que em 2013 ele é eleito Papa, não volta mais para a Argentina, não tem mais possibilidade de ir ao estádio.

— Para solucionar isso, a Guarda Suíça, de proteção do Vaticano e do Papa, pela primeira vez tem uma função diferente. Um dos oficiais fica responsável pelo resumo dos jogos que o Papa quer saber, e um resumo detalhadíssimo. Quem chutou, machucou, detalhes específicos. O Papa reconstrói o jogo em sua mente, como um holograma. Vale dizer que o Papa nunca viu Messi jogando. Já o recebeu, o abraçou, mas nunca o viu jogando.

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