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Por Nadja Mauad e Guilherme Moreira — Curitiba


Vitor Roque entre as maiores vendas? Estêvão ? Yuri Alberto? O reservado empresário André Cury abriu o jogo sobre negociações e a ação contra Atlético-MG, em entrevista exclusiva ao ge.

Com 52 anos, Cury é discreto e avesso a aparecer em público, mas fez uma exceção para conversar das tratativas de seus atletas e projetar o cenário do mercado da bola.

O empresário que, por mais de uma década atuou diretamente como representante do Barcelona, é um dos agentes mais influentes e poderosos do futebol brasileiro.

Nas últimas semanas, por exemplo, o atacante Vitor Roque, do Athletico, vem sendo destaque em capas de jornais na Espanha. No Palmeiras, Estêvão , de apenas 15 anos, já vem despertando o interesse de grandes clubes. Com 21 anos, Yuri Alberto, do Corinthians, fez um caminho diferente e existe uma expectativa para ser um dos grandes camisas 9 do país.

Além disso, o mercado brasileiro já consegue segurar e pagar altos salários para jogadores como Dudu e Raphael Veiga, do Verdão. O que todos esses nomes têm em comum? São agenciados por um dos maiores empresários do Brasil: André Cury.

Ele também já esteve envolvido nas maiores vendas do futebol mundial, como Neymar, Philippe Coutinho e Ronaldinho Gaúcho.

- É difícil de fazer. Tem que ter cabeça no lugar por outros motivos até para você não entrar em operação que não é sua. Durante esses anos, participamos da vinda do Ronaldinho Gaúcho, que mudou a história do Barcelona. Da terceira maior compra do futebol mundial que é o Coutinho, que são 160 milhões de euros, do Dembélé, que são 145 milhões e demorou um pouco para engrenar, mas hoje está jogando super bem. Do próprio Neymar, que é a maior venda do mundo por 202 milhões de euros. Me orgulho muito por ter trabalhado no Barcelona por uma década. Indiretamente e diretamente são quase 17 anos. Me orgulho por ter trabalhado nesse período de mudança do clube, que ganhou quase 40 títulos na Europa. De estar convivendo com Messi, Iniesta, Xavi, Neymar. Isso, para mim, foi uma honra, uma experiência única. Obviamente para ter esse processo no Barcelona também deixei algumas coisas. Mas isso é história, um brasileiro que esteve trabalhando no melhor clube do mundo por muito tempo. Agora, o Edu Gaspar está no Arsenal, já temos brasileiros trabalhando em outros clubes. Foi abrindo portas também pra outros diretores brasileiros.

André Cury, agente de jogadores e intermediário no futebol mundial — Foto: Reprodução

Vitor Roque, a joia

O atacante de 17 anos chegou ao Athletico em abril de 2022 e se tornou a contratação mais cara da história do Furacão, ao custo de R$ 24 milhões. Vitor Roque terminou a temporada concorrendo ao prêmio de melhor jogador da Libertadores e iniciou 2023 sendo campeão e artilheiro do Sul-Americano sub-20 com a seleção brasileira.

- O Vitor Roque é um menino que a gente começou a trabalhar nesse projeto cinco anos atrás. Ele estava no América-MG e foi feita uma negociação com o Cruzeiro. Esse ano que passou teve interesse do Athletico, inclusive de pagar a cláusula penal do jogador, e a gente conversou com ele de prontidão. Achou que era um projeto bom de primeira divisão e Libertadores, e o Cruzeiro estava na Série B. A gente acertou no projeto, o Vitor Roque chegou em abril e, em outubro, estava disputando para ser o melhor jogador da América do Sul na Libertadores. No final, acabou com vice-campeonato, classificou direto para a Libertadores 2023. Foi um ano muito bom. Nesse nível de poder estar aparecendo no Brasil e fora, no Sul-Americano, ele concretizou isso demonstrando que tem todas as características físicas, mentais e técnicas para estar atuando em um clube grande da Europa. Ele e o Yuri Alberto (Corinthians) são dois jogadores que trabalham muito fisicamente e aportam muito para o time e são jogadores modernos, coisas que estão em escassez. Os grandes números 9 da Europa têm idade avançada, como Benzema, Cavani, Lewandowski, e vai abrir essa lacuna para esses jogadores. Esses dois meninos do Brasil, Yuri Alberto e Vitor Roque, vão ter um futuro muito grande na Europa, principalmente pelo trabalho e mentalidade forte que eles têm. Nós vamos ter, inclusive, felicidade na seleção no futuro. O Gabriel Martinelli fui eu que ajudei a colocar no Arsenal, foi indicação minha, também é forte mentalmente, fisicamente. Nessa mudança do futebol, esses atletas vão sobressair.

Barcelona, Real Madrid, PSG e Chelsea já demonstraram interesse no jovem atleta do Furacão. O empresário revelou que já foi recusada uma proposta de 25 milhões de euros (R$ 138,8 milhões) pelo atleta e que espera que Vitor Roque seja uma das maiores vendas da história do futebol brasileiro.

Vitor Roque toca de primeira para fazer o primeiro gol do Brasil. O sexto dele no Sul-Americano — Foto: Rafael Ribeiro / CBF

- Proposta já teve, mas foi recusada. Teve clube inglês, não quero citar nomes, espanhol que já fez oferta, italiano. No Brasil, a gente fala de proposta quando é no papel. Quando está falando em clubes de alto nível, a gente já fala em números sem papel, já recusa uma oferta quando falam "pode pagar x?" Não, isso não aceita, tem que ser três vezes esse valor. Está tudo mais moderno, mais rápido. Chegou mais ou menos para nós um valor de 25 milhões de euros, e já negamos de pronto, porque entendo que o jogador tem um valor mais alto do que esse, até porque foram vendidos alguns jogadores no Brasil por 20 milhões de euros. A gente nem andou com essa conversa para frente. Então, a hora é quando chegar o clube certo, que tem um grande projeto, atingir o valor e todos saírem dessa negociação satisfeitos.

O Athletico e o staff do atleta trabalham com um valor mínimo de 45 milhões de euros (R$ 249,2 milhões) pelo atacante – mas óbvio que todos pedem ainda mais.

Ranking de vendas do futebol brasileiro

  1. Neymar (Santos-Barcelona em 2013 por 88,4 mi de euros)
  2. Endrick (Palmeiras-Real Madrid em 2022 por 72 mi de euros)
  3. Rodrygo (Santos-Real Madrid em 2017 por 45 mi de euros)
  4. Vini Jr. (Flamengo-Real Madrid em 2018 por 45 mi de euros)
  5. Lucas Moura (São Paulo-PSG em 2012 por 43 mi de euros)
  6. Lucas Paquetá (Flamengo-Milan em 2018 por 35 mi de euros)

Projeto para Yuri Alberto

Yuri Alberto comemora gol do Corinthians contra o Água Santa — Foto: Marcos Ribolli

- O Yuri Alberto, para mim, vai ser um dos grandes nomes da Europa no futuro do futebol mundial. Ele tem 21 anos, e a gente fez um movimento de ir para o Zenit da Rússia, que é um grande clube, tem um grande projeto, quase todos os anos participava da Champions League. Mas, com a guerra, ficou sem sentido, porque não está jogando mais competição europeia e fica sem visibilidade. E a gente sentiu esse baque da guerra, e estamos refazendo o projet. Graças a Deus, o Corinthians entrou como parceiro e tudo está indo muito bem. Acredito que, nas próximas convocações da seleção, pode ser lembrado. O projeto agora é seleção olímpica, principal. Ele tem muito tempo, especialmente nessa posição de camisa 9. Os grandes nomes hoje têm 36, 35 anos. Toda essa geração de 9 são jogadores com mais idade. O 9 acaba maturando mais para frente e o Yuri está no caminho certo. Vamos ver se esse ano ele consegue ganhar títulos pelo Corinthians.

Estêvão: a nova joia do Palmeiras

Estêvão, do Palmeiras — Foto: Fabio Menotti / Palmeiras

O meia-atacante de 15 anos é um dos principais candidatos a nova joia do Palmeiras. Depois de Endrick, que foi vendido para o Real Madrid por 72 milhões de euros (cerca de R$ 409 milhões na cotação atual), Estêvão é visto internamente com grande potencial de retorno técnico e financeiro, tanto que o assédio já tem sido grande.

- O Estêvão é um menino que a gente trabalha há cinco anos, trabalhador, focado, família espetacular. Também saímos do Cruzeiro por problemas com o presidente Sérgio Rodrigues. Tínhamos um problema de comportamento do ex-presidente que estava lá. Ele veio para o Palmeiras durante a pandemia Covid-19, e esses meninos ficaram sem projeção. Agora, ele vem trabalhando, o João Paulo Sampaio (coordenador das categorias de base do clube desde 2015) faz um dos melhores trabalhos de base mundialmente. E ele está muito bem, muito conceituado e, também pelo mercado estar antecipando, tem muita conversa. Já teve uma proposta muito grande de um clube europeu, dos top-10 da Europa e não aconteceu. A gente está tranquilo, ele está na seleção sub-17, ganhou a Copinha e brevemente pode estar aparecendo no time principal do Palmeiras.

Disputa na Justiça com o Atlético-MG

O empresário entrou com uma ação judicial contra o Atlético-MG cobrando comissões não pagas em transferências de jogadores. Recentemente, a Justiça de São Paulo que a Multiplan deposite R$ 14,2 milhões da venda de shopping. O valor está dentro da negociação de compra de 24,95% do shopping Diamond Mall, na qual o Atlético-MG terá direito a receber R$ 170 milhões.

São mais de 20 ações do agente contra o Atlético, envolvendo atletas como Luan, Frickson Erazo, Rosinei, Mansur, Lucas Pratto, Maicosuel, Eduardo Vargas, Guilherme Arana, entre outros. Ao todo, o valor cobrado por Cury chega perto de R$ 65 milhões.

- Eu fiz 30 e poucas operações no Atlético-MG, e não sei se é a imprensa ou diretiva do clube que deixa de uma maneira desconfortável para o torcedor ficar bravo, mas isso aqui é negócio. Muitas deram muito lucro para o clube. Posso citar casos do Emerson Royal, do Lucas Pratto, do Douglas Santos, Maicosuel, Otero, que além de virem jogar no clube, foram vendidos depois. Então, na verdade, o que existe com o Atlético-MG é muito carinho, muitos serviços prestados, jogadores atuando lá. O que tem é uma inadimplência por parte deles e estamos cobrando aonde deve ser cobrado, que é na Justiça. Já me coloquei à disposição para fazer diversos acordos, para pagar em 60 vezes, para não cobrar juros, dar desconto, mas infelizmente o clube nunca consegue concretizar esses acordos.

Brasil x Europa

- Trabalho há 30 anos no futebol desde ced. Tenho 52 anos e, com 21, 22 anos, já tava nessa batalha. Sempre valorizando os jogadores que estão no Brasil porque, em nível de estrutura e profissionalismo, estamos no mesmo nível da Europa. Estamos investindo em centro de treinamento, estrutura, em pesquisa e análise. Existem grandes jogadores no Brasil que ganham salários nível europeu e aqui no Brasil, às vezes, a gente deixa de valorizar um grande jogador, que tem que ir para fora. O futebol brasileiro tem que ser bem mais valorizado do que é hoje. Em 2002, naquela seleção, se não me engano tinham 13 jogadores que atuaram no Brasil e, de lá para cá, foi esquecido isso. Cito aqui nessa última Copa. Jogadores como Dudu, Raphael Veiga, Gabigol são jogadores que não poderiam estar fora da Copa. Se estivessem atuando em equipes médias do futebol europeu, certamente estariam. Estão em grandes clubes do Brasil e não tem essa química, esse olhar para o futebol brasileiro.

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