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Por amor: ex-jogador dedica meio século ao futebol amador de Petrolina

Moreta recusou propostas de times profissionais, como o Atlético Mineiro, e fez fama nos campos de várzea. A carreira terminou em 1983, após uma pancada de Beijoca

Por Petrolina

Moreta fez história no futebol amador de Petrolina  (Foto: Emerson Rocha)Moreta fez história no futebol amador de Petrolina (Foto: Emerson Rocha)

Aos 66 anos, José Moreno dos Santos tem uma vida dedicada ao futebol amador.  Sua história dentro dos campos de várzea de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, começou em 1963. No esporte, deixou de ser José e virou Moreta. Nas quatro linhas começou como centroavante e terminou como lateral. Com boas histórias, Moreta revive o tempo em que o futebol não gerava fortunas, como acontece hoje. Em sua época, o que importava era o amor ao esporte.  

Com 15 anos, Moreta deu os primeiros passos dentro do futebol. A carreira começou defendendo as cores do Náutico de Petrolina. Em 1964, jogando pelo América, uma das principais equipes do futebol amador na cidade, conquistou o primeiro título, um ano depois voltou ao Náutico, time com qual sempre teve boa relação e é torcedor. Desde então, atuou na maioria das equipes amadoras no município, conquistando vários títulos, até o fim da carreira em 1983. 

-Eu trabalhava, logo me casei, mas continuava a jogar futebol dentro de Petrolina. Joguei em todos os times grandes da cidade, se for dizer os anos, vou ter que dizer até 1983 quando eu vim parar.

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campeão dentro do arruda


Time campeão dentro do estádio do Arruda. Moreta é o  terceiro em pé, da esqueda para a direita  (Foto: Reprodução arquivo pessoal )Time campeão no Arruda. Moreta é o terceiro em pé, da esquerda para a direita (Foto: Reprodução)

Um dos fatos que mais orgulham o ex-jogador é o título conquistado com o seleção de futebol amador de Petrolina, o Azulão, no recém inaugurado estádio Eládio de Barros Carvalho, mais conhecido como Arruda, em Recife, no início da década de 1970. No estádio do Santa Cruz, Moreta e seus companheiros enfrentaram a seleção de Olinda, favorita ao título. 

A primeira partida da final do Campeonato Intermunicipal de Pernambuco aconteceu no campo da antiga Associação Rural de Petrolina, hoje conhecido como estádio Paulo de Souza Coelho. Com casa cheia, como recorda Moreta, o jogo terminou com o placar de 2 a 1 para os donos da casa.  A segunda partida estava marcada para o município de Olinda, mas uma ajuda extracampo mudou o palco da decisão. 

- Nós chegamos em Recife e teríamos que jogar em Olinda. O detalhe é que o campo estava sendo preparado por máquinas para o jogo de domingo seguinte e não dava tempo. Como naquela época o governador do Estado era Nilo de Souza Coelho, filho de Petrolina, ele disse: “Não, a minha seleção não joga nesse campo não. Meu time vai jogar no Arruda”. E todo mundo dizia que a gente só jogou no arruda porque Nilo Coelho influenciou a mudança enquanto governador – recorda Moreta.

Com o palco da final decidido, chegou o momento de trazer o título para Petrolina. 

- Eles começaram ganhando o jogo de 1 a 0 e nós viramos pra 4 a 1, isso no primeiro tempo. Nós tomamos o primeiro gol e eles em cima, nós viramos rapidinho e no segundo tempo eles começaram a dar pancada.  Foi logo um jogador expulso, até que eles ficaram com sete jogadores e o juiz terminou o jogo com 71 minutos. Se acovardaram e ficaram com medo de tomar uma goleada – provoca. 

A volta para Petrolina foi uma grande festa, com direito a desfile em carro aberto e o carinho do torcedor. 

- Onde a gente chegava, não precisava pagar nada – lembra Moreta.

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fama no amador e não ao futebol profissional


Começando a jogar futebol como centroavante, Moreta virou ponta direita, passando, logo depois, a lateral direita. A mudança de posição veio graças a um ex-treinador. 

- Eu fui campeão com o Azulão e depois vim para o Palmeiras, aí o treinador me colocou como lateral direito. Ele me dizia: “você vai virar lateral direito, porque eu acho que você é um homem pra defender mais”. E me recuou.  Aí foi que eu peguei fama no futebol de Petrolina. 

Moreta na época de jogador  (Foto: Reprodução arquivo pessoal)Moreta na época de jogador (Foto: Reprodução arquivo pessoal)

Reconhecido em Petrolina e disputando jogos em outros municípios, Moreta começou a despertar o interesse de clubes profissionais, entre eles, o Atlético Mineiro, após um amistoso do time na cidade pernambucana.   

A resposta para o clube mineiro e para outras equipes profissionais que se interessaram pelo futebol de Moreta, foi o não. Com emprego de carteira assinada em uma empresa de Petrolina, Moreta não arriscaria a estabilidade financeira em uma época em que o futebol não rendia grandes fortunas.

Além da recusa aos times profissionais, Moreta também disse não a uma proposta de emprego, que veio através do futebol. 

- Eu pedi três meses de folga do trabalho para jogar no Botafogo de Juazeiro-BA, que era o time da polícia. Eles gostaram tanto do meu futebol que queriam me dar a farda da polícia. Eu disse não, vou voltar pro meu emprego. Hoje você tem que fazer concurso, mas antes, se fosse bom de bola, virava policial – conta Moreta, sem se arrepender da escolha. 

Moreta diz que o  dinheiro que ganhava com o futebol vinha através das premiações pagas após cada vitória. O bicho, como ainda hoje é chamada a premiação, era pago pelos torcedores. 

- Eu ganhava gratificação. Tinham os torcedores fanáticos em Petrolina que guardavam o dinheirinho e quando terminava o jogo eles davam o bicho. Aí um dava tanto, outro dava tanto, e você juntava aquele dinheiro. Era pouco, mas você juntava – explica Moreta, lembrando que o mimo dos torcedores não ia para todos os jogadores do time -  Só ia pra quem era bom – conta aos risos. 

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a pancada que pôs fim à carreira de moreta


Em uma partida amistosa, em 1979, entre o time amador do Caiano de Petrolina e o Esporte Clube Bahia, um lance seria fundamental para o término da carreira de Moreta.  O algoz do ex-lateral é, ainda hoje, um dos grandes ídolos do Tricolor baiano. 

- Em um lance Beijoca veio e desmantelou meu joelho. 

Desde então, o joelho esquerdo do ex-jogador nunca mais seria o mesmo.  Moreta ainda tentou jogar por mais quatro anos, porém, as fortes dores fizeram com que ele encerrasse a carreira em 1983. 

Sem poder jogar, Moreta ficou alguns anos como treinador. Hoje, atua no futebol incentivando times amadores de Petrolina. 

Moreta ao lado da esposa, Raimunda Sol Posto  (Foto: Emerson Rocha)Moreta ao lado da esposa, Raimunda Sol Posto (Foto: Emerson Rocha)

Com quase 50 anos dedicado ao esporte, o boleiro tem orgulho da sua trajetória e, entre os vários títulos que conseguiu, o que mais mexe com o ex-jogador é o reconhecimento nas ruas da cidade. 

- Onde passo as pessoas me conhecem por causa do futebol. Fiz muitos amigos. Eu não digo, o povo diz, que eu fui um dos melhores jogadores dentro de Petrolina. 

Viciado em uma bolinha, Moreta tem encontro inadiável todos os domingos, para desespero da esposa e companheira de quase meio século, Raimunda Sol Posto, com quem teve quatro filhos. 

- Você não me encontra dia de domingo em casa porque onde tem um baba, um jogo, eu vou. A mulher se dana, mas pode me procurar nos campos de futebol de Petrolina que eu estou lá.