+ Desistência do Salgueiro é ruim para o Sertão, diz Tarcísio da Buzina, torcedor símbolo do clube

Essa não é a primeira vez que o Salgueiro decide não participar de uma competição. Em 2021 e 2022, o clube abriu mão de jogar a Série D do Brasileiro, alegando, assim como agora, problemas financeiros.

Apesar da década de sucesso no futebol de Pernambuco, sendo a única equipe a participar das dez últimas semifinais do Estadual, sendo finalista em 2015, 2017 e 2020, quando foi campeão, o Salgueiro vem convivendo com a falta de dinheiro há algum tempo.

Em 2015, com o fim do programa do governo do estado, Todos Com a Nota (TCN), que permitia a troca de notas fiscais por ingresso, garantindo receita aos clubes, o Salgueiro sentiu o impacto. Na época, presidido pelo empresário Clebel Cordeiro, o tricolor sertanejo chegou a lançar um plano de sócio torcedor, mas a estratégia não deu certo.

No ano do fim do programa estadual, o Salgueiro, que havia conquistado seu primeiro vice-campeonato Pernambucano, jogava a Série C do Brasileiro. Alegando falta de dinheiro por causa do fim do TCN, o clube chegou a enviar uma carta para a Federação Pernambucana de Futebol (FPF) solicitando o afastamento da Série C daquele ano e do Pernambucano, Copa do Brasil e Copa do Nordeste de 2016. A situação foi contornada e o Salgueiro seguiu competindo.

Apesar das ameaças e da ausência do dinheiro do TCN, o que também impactou significativamente na queda de público no estádio Cornélio de Barros, o Salgueiro seguiu organizado fora das quatro linhas. Em março de 2016, Clebel Cordeiro deixou a presidência do clube para concorrer ao cargo de prefeito do município. No lugar, entrou o filho dele, Geraldo Neto, que era vice-presidente do clube.

A passagem de Neto na presidência durou pouco tempo. Em novembro, com o pai eleito prefeito, ele deixou o clube para cuidar dos negócios da família. É nesse momento que o atual presidente, José Guilherme da Luz, assume o comando do clube. Zé Guilherme era braço direito de Clebel Cordeiro e fez parte da profissionalização do Carcará. O ex-presidente e então prefeito, seguiu ajudando o clube como presidente de honra.

O resultado da final do Campeonato Pernambucano de 2017 ajuda a explicar a crise atual do Salgueiro. Revoltado com a anulação do gol de Álvaro, no segundo jogo da decisão contra o Sport, que poderia ter dado o título inédito ao Carcará, o presidente de honra e principal financiador do Salgueiro, Clebel Cordeiro, decidiu deixar o clube e abandonar o futebol de vez.

Em julho de 2017, após a final e o afastamento de Clebel, Zé Guilherme disse em entrevista ao ge que o clube precisava se organizar para saber de onde viria o dinheiro. Naquela época, houve uma nova ameaça de abandonar a Série C. Além do empresário, a prefeitura era o outro grande patrocinador do clube.

Com recursos cada vez mais escassos, o Salgueiro chegou em mais uma semifinal de Pernambucano, mas não conseguiu evitar a queda para a Série D em 2018. Em 2019, mais uma semifinal de Estadual e queda na segunda fase da última divisão do brasileiro.

2020 foi ano chave nessa crise do Salgueiro. Com a pandemia da Covid-19, o clube perdeu ainda mais receitas, incluindo da prefeitura. A partida contra o Corinthians, pela Copa do Brasil, que poderia render um bom dinheiro em bilheteria, teve que ser disputada com portões fechados. Mesmo com todas as dificuldades, o time fez história ganhando o Pernambucano. Na Série D, a equipe caiu na terceira fase.

A conquista do título não ajudou a mudar a situação financeira do Salgueiro. Em 2021, a diretoria fez mais uma ameaça de abandonar competições. Sem patrocínio da prefeitura, o clube protocolou na FPF um pedido para não participar das Copas do Brasil e do Nordeste, mas a situação foi revertida.

Embora tenha ficado nas Copas, dois meses depois o Salgueiro desistiu oficialmente de uma competição pela primeira vez. O Carcará ficou fora da Série D de 2021, o que se repetiu na temporada de 2022. As desistências fizeram com que o clube ficasse sem calendário no segundo semestre após mais de dez anos.