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Por Emerson Rocha — Petrolina, PE


Neste sábado, às 16 horas, a histórica rivalidade futebolística entre as cidades de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, e Juazeiro, no Norte da Bahia, vai ganhar um novo capítulo. Pela primeira vez, equipes dos dois municípios, unidos pelo Rio São Francisco, vão se enfrentar em uma partida oficial. O confronto entre Petrolina e Juazeirense é válido pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro da Série D.

Time do Palmeiras de Petrolina, campeão do BAPE em 1978 — Foto: Ziinha / Arquivo pessoal

Em uma época onde o futebol profissional nem sonhava em existir no Vale do São Francisco, quem dava as cartas e levava multidões para o Estádio Adauto Moraes, em Juazeiro, e a Associação Rural, hoje Paulo Coelho, em Petrolina, era o futebol amador. Até o craque Garrincha ficou no meio da disputa entre as duas cidades.

Criado no início da década de 1970, pelas Ligas Desportivas Petrolinense (LDP) e Juazeirense (LDJ), o extinto Torneio Bahia-Pernambuco, o BAPE, reuniu por cerca de duas décadas as principais equipes amadoras dos municípios vizinhos.

Do lado petrolinense, times como América, Caiano, Ferroviária e Palmeiras dividiam a preferência entre os torcedores. Em Juazeiro, Olaria, Veneza, Carrancas e Barro Vermelho eram os grandes da época.

Nas quatro primeiras edições, incluindo a de 1965, quando o BAPE se chamava Joalina, junção dos nomes das duas cidades, Juazeiro levou a melhor, com quatro títulos: Olaria em 65 (Joalina) e 72, Carrancas, em 73, e Veneza, em 1974.

Times do Olaria, campeão do BAPE de 1972 — Foto: Ziinha / Arquivo pessoal

A reação de Petrolina veio após um período de pausa no torneio, por causa de desentendimento entre a LDJ e LDP. O Palmeiras foi campeão em 78, Caiano ganhou em 79, América levou a melhor em 80 e Ferroviária foi o grande campeão de 1981. No total, são oito títulos juazeirenses contra sete do lado petrolinense.

Ex-jogador e atual presidente da LDP, Paulo Pereira da Silva Filho, conhecido como Paulinho da Embrapa, lembra como os encontros entre as equipes das duas cidades, promovidos pelo BAPE, mexiam com a região.

Paulinho da Embrapa, presidente da LDP — Foto: Divulgação

– A rivalidade eu vou comparar com Vasco e Flamengo, Corinthians e Palmeiras. Era um campeonato muito interessante porque tanto a torcida de Petrolina fazia volume indo assistir os jogos em Juazeiro, como a torcida de Juazeiro ia para Petrolina.

Quem também coleciona histórias do BAPE é o narrador, Carlos Bahia. Responsável por transmitir as emoções dos confrontos amadores nas ondas do rádio, no sábado ele vai narrar a partida inédita do Campeonato Brasileiro Série D. Bahia recorda que o torneio era fonte de grandes jogadores.

Carlos Bahia, narrador esportivo — Foto: Emerson Rocha / ge Petrolina

– O América de 1988 foi melhor time que vi jogar. Tinha goleiros como Bertinho, Railson, que depois se tornou goleiro profissional, saiu porque passou em teste no Atlético Mineiro. Muitos jogadores se tornaram profissionais. Lopeu, que jogou pelo Náutico, assim como Bira. Tinha muito jogador bom.

O time do América de Petrolina em 1988 — Foto: Acervo América de Petrolina

Outros nomes entraram no imaginário dos torcedores de Petrolina e Juazeiro, como Caboclinho, Sinésio, Eneíldo, Moreta, Baé, Zé Furina, Fumanchu, Gilmar Santos. O desempenho dos jogadores dentro de campo era recompensado, mas não da maneira que estamos acostumados hoje.

– Os caras ganhavam terrenos, geladeira, fogões, bicicletas, motos – recorda Bahia.

Tanto Bahia como Paulinho destacam que o futebol amador, assim como BAPE, foi enfraquecido com a chegada do futebol profissional nas duas cidades. Rivais neste sábado, Petrolina e Juazeirense foram as últimas equipes criadas. A Fera é de 1998 e o Cancão de Fogo nasceu em 2006. Em 1995, o Juazeiro Social Clube surgiu da junção dos times amadores da cidade. No mesmo ano, o 1º de Maio, que foi campeão amador do centenário de Petrolina, migrou para o profissionalismo.

– Eu narrei muito futebol amador e eu via aqueles jogadores com a esperança de que um dia chegasse o futebol profissional, mas muitos diziam e poucos acreditavam que a vinda do futebol profissional para uma cidade acaba com o amador. Os pseudointelectuais achavam que só vinha para engrandecer, para que os jogadores do amador servissem de laboratório para o profissional, coisa que não acontece – diz o narrador.

Para os dois, os campeonatos amadores ainda podem servir como fonte de talento para os times profissionais.

– Nós devemos investir na base. Petrolina sempre teve jogadores muito bons formados aqui – destaca Paulinho.

– Os campeonatos amadores devem restringir as idades, ou seja, em vez de ter veteranos, dar oportunidades que tenham no máximo 18 anos. Aí eles vão servir de laboratório para o Juazeiro, Juazeirense, Petrolina, 1º de Maio – completa Bahia.

Amistosos entre Petrolina e Juazeirense

Por serem vizinhos, os times de Petrolina e Juazeirense costumam se enfrentar em amistosos durante as pré-temporadas para os Campeonatos Pernambucano e Baiano. No final do ano passado, as equipes ficaram no empate.

Jogo-treino entre Petrolina e Juazeirense termina em briga

Jogo-treino entre Petrolina e Juazeirense termina em briga

Cenário atual

Petrolina venceu as duas últimas partidas — Foto: Bruno Lopes

Petrolina e Juazeirense estão no Grupo A4 da Série D. Enquanto a Fera Sertaneja vem se recuperando na competição, após conquistar duas vitórias seguidas, o Cancão de Fogo ainda não venceu. O Petrolina é quinto colocado com sete pontos, e a Juazeirense é o lanterna, com apenas dois pontos conquistados.

Juazeirense empatou com o ASA — Foto: Sant Fotografia

A reação do Petrolina começou com a chegada do técnico Alyson Dantas, que assumiu no lugar de William Lima. A Juazeirense também está com técnico novo. Contratado no lugar de Evandro Guimarães, João Carlos Ângelo estreou no último sábado, empatando em casa com o ASA.

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