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Por Pedro Alves — João Pessoa


A crise institucional que o Campinense travessa atualmente é uma das mais graves da sua história. Isso porque o ambiente na Raposa é de total deriva. Renúncias de cargos de poder sistemáticas, ações na Justiça por conta das últimas eleições, reclamações públicas de funcionários e ex-jogadores. Tudo isso num cenário em que o clube não disputa nenhuma série do futebol brasileiro na atual temporada e, pelo menos, mais uma, a de 2025, já que não conseguiu vaga pelo estadual deste ano. O que faz do Campinense um clube com um futuro completamente incerto.

Estádio Renatão, sede do Campinense — Foto: Cisco Nobre / ge

O último episódio importante desta narrativa conturbada institucional foi a renúncia, que foi rechaçada inúmeras vezes em entrevistas anteriores, do presidente, agora ex, Lênin Corrêa. O desgaste interno, com muita gente pedindo a sua cabeça, no entanto, terminou mesmo em renúncia.

— Neste dia de hoje, vejo que o melhor para a instituição é o encerramento do trabalho que iniciei em novembro de 2023. Fico na torcida por dias melhores da gloriosa Raposa Feroz, por um melhor futuro ao Campeão do Nordeste — disse o ex-mandatário em sua carta-renúncia.

Vale lembrar que a permanência de Lênin Correia na presidência do Campinense acontecia por força de uma liminar judicial. A rigor, quem venceu o último pleito do clube foi Rômulo Leal, que assumiu o cargo por poucos dias, até uma liminar judicial garantir mais votos a Lênin, que acabou por vencer o pleito estendido.

Com a renúncia do mandatário, o comando executivo da Raposa passa para o vice-presidente do clube, Flávio Torreão. Meses da renúncia de Lênin, no entanto, houve renúncias de outros integrante do Conselho Diretor que foi eleito com Lênin e empossado por força de liminar, como as do Diretor Financeiro Salim Halule e do Diretor de Futebol, Daniel Maia.

Lênin Correia ao lado de Francisco Diá, treinador do Campinense neste ano no Paraibano — Foto: Samy Oliveira / Campinense

Ações na Justiça questionam eleições

Apesar da vitória na Justiça e ter ficado à frente do clube por alguns meses, incluindo durante o Campeonato Paraibano deste ano, há na Justiça duas outras tramitações. Rômulo Leal ainda tem ação corrente em que pede para voltar ao cargo. Além disso, há uma ação do conselheiro Éder Medeiros, em que ele busca uma anulação do pleito, que, segundo ele, foi repleto de irregularidades.

Éder pede que haja uma intervenção no Campinense, com uma nomeação judicial para que outra pessoa possa responder institucionalmente pelo clube. Ainda segundo a ação impetrada, o Campinense está sem condições de se movimentar oficialmente, inclusive de pagar despesas, que estão sendo custeadas por "vaquinhas" com a torcida.

Outra possibilidade de intervenção é via Federação Paraibana de Futebol. A entidade, aliás, tem permissão estatutária de, se comprovado um vácuo institucional de poder em um dos seus filiados, nomear um interventor para poder formatar novas eleições e fazer o que for necessário para que o clube volte a ter uma atividade institucional saudável. Pelo que apurou o ge, no entanto, não há nenhuma movimentação nesse sentido nem por parte da FPF, ainda, nem de alguém do clube buscando esse caminho.

Reclamações trabalhistas

Com dívida milionária na Justiça Trabalhista, o horizonte no Campinense deve ser de aumento desse passivo. Isso porque muitos atletas não saíram satisfeitos depois do Campeonato Paraibano. Houve demora nas rescisões e faltou alguns pagamentos a jogadores de parte do último salário, das multas rescisórias e também de proporcionais de férias e de 13º salário.

Além dos jogadores, vários funcionários também ficaram dias sem receber e podem acionar a Justiça do Trabalho. Houve alguns protestos dos funcionários durante o pós-Paraibano e, voltando aos atletas, alguns sequer tinham dinheiro para sair de Campina Grande.

Jogadores do Campinense criticam a diretoria — Foto: Reprodução

Ex-presidente promete ser candidato

No mês passado, na esteira dessa crise escancarada, um importante nome do clube voltou a dar as caras, pelo menos para a imprensa. E com uma grande novidade. William Simões, definiu que quer voltar à presidência do Campinense e disse que vai ser candidato.

Simões foi o presidente do principal título da história raposeira, a Copa do Nordeste. Também foi fiador ideológico das candidaturas de Felipe Cordeiro, Danylo Maia e Lênin Correia. Com o último, Simões se disse desapontado com a forma do atual presidente gerir o clube.

William Simões, ex-presidente do Campinense — Foto: Sandra Paula / TV Paraíba

Apesar das críticas à Lênin Corrêa, o presidente também não poupou análises negativas contra a oposição da Raposa, que, segundo William, ele não se enquadra.

— A questão não é um rompimento. A oposição, em vez de tentar ajudar, tem maculado a imagem do clube. Muita gente cai de paraquedas e por isso estão acabando a imagem do clube. Toda hora trazendo notícias falsas. Não há necessidade. Depois que eu saí, tiveram vários presidentes e eu nunca fiz oposição a nenhum. Eu entendo que temos que torcer para a instituição. A instituição precisa ser preservada — analisou.

William Simões era a principal liderança do Campinense de pelo menos 2011 até 2018. A queda veio apenas por decisão judicial. Suspeito de manipular resultados no Campeonato Paraibano de 2018, o dirigente foi alvo da Operação Cartola, que investigou o caso. Em setembro daquele ano, a Justiça acatou um pedido do Ministério Público para o afastamento de Simões e outros dirigentes do futebol paraibano.

William Simões foi indiciado por manipulação de resultados na Justiça Desportiva e na Justiça Comum. Na esfera desportiva, foi banido do futebol ainda em 2018, acusado de manipular resultados no Paraibano daquele ano. Na esfera criminal, o dirigente do Campinense foi absolvido das acusações em 2022.

Também em 2022, após a decisão da Justiça, o Superior Tribunal de Justiça Despotiva (STJD), que havia banido o dirigente do futebol, revisou a sua pena e lhe retirou o banimento. De modo o ex-presidente agora pode novamente assumir cargos diretivos no futebol paraibano.

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