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Por Martín Fernandez — Rio de Janeiro


Quatro anos atrás uma reportagem publicada pelo ge revelou que o CBC (Comitê Brasileiro de Clubes), entidade responsável por distribuir recursos públicos destinados ao esporte, dificultava a chegada do dinheiro a clubes paralímpicos.

O CBC exigia o pagamento de uma mensalidade para permitir que os clubes apresentassem projetos, o que contrariava a lei vigente na época e, na prática, impedia pequenos clubes paralímpicos de receber recursos.

Diante da repercussão, a solução encontrada para o problema foi a criação do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos (CBCP), que passou a receber uma parte destes recursos que até então ficavam concentrados no CBC.

Mas a nova entidade tem sido alvo de críticas semelhantes: represar valores e dificultar a distribuição de dinheiro para os clubes paralímpicos. As reclamações partem tanto de clubes filiados quanto de não filiados ao CBCP.

Neste final de semana, ocorre em Campinas (SP) a Assembleia Geral do comitê, em que esta e outras questões serão discutidas. Por telefone, ao ge, o presidente do CBCP, João Batista Carvalho e Silva, rebateu as críticas e explicou os planos para a entidade.

– Tenho que ser responsável. Muita gente gostaria que eu pegasse o dinheiro que tem em caixa no CBCP e distribuísse de qualquer maneira. "Quem quer dinheiro", como Silvio Santos fazia. Mas não posso. Se o dinheiro acabar hoje, amanhã como fica?

João Batista Carvalho, presidente do CBCP — Foto: Divulgação CBCP

Recursos para poucos

Em fevereiro de 2022, uma lei federal determinou que o CBCP passaria a receber uma parte dos recursos das loterias federais, cerca de R$ 12 milhões por ano. Além disso, naquele ano a entidade recebeu um aporte do CBC no valor de quase R$ 22 milhões – como compensação pelo fato de o CBC não repassar recursos para o esporte paralímpico, como revelou o ge em 2020.

No balanço de 2023 publicado em seu site, a o CBCP informa ter R$ 47,5 milhões em aplicações financeiras em bancos. Em 2022, esse valor era de R$ 34,6 milhões. Estes números contrastam com os valores distribuídos pela entidade para seus filiados, os clubes.

O CBCP, tal qual o CBC, é obrigado a repassar recursos para os clubes por meio de editais. Os interessados devem apresentar projetos que, se forem aprovados, vão resultar no recebimento de dinheiro que será transformado em remuneração de profissionais, compra de equipamentos e participação de atletas em competições.

Lance em torneio de basquete organizado com recurso do CBCP — Foto: Divulgação CBCP

Em 2022, primeiro ano em que o CBCP teve recursos para distribuir, não houve nem sequer a publicação de um edital. Representantes de clubes paralímpicos ouvidos em condição de anonimato porque não querem se indispor publicamente com o Comitê reclamam que houve pouca transparência.

No site do CBCP estão listados os seis projetos (em geral organização de torneio de modalidades paralímpicas) que receberam dinheiro. O total distribuído foi de R$ 639.085,90. Apenas uma fração do que a entidade tem em caixa. João Batista Carvalho Silva, presidente do CBCP, justificou da seguinte maneira:

– Naquele ano nós fizemos um teste. Todo mundo que se apresentou, que pediu, recebeu. Nós tínhamos uma equipe muito pequena e não tínhamos condição de organizar algo maior. Em 2023 lançamos o primeiro edital, agora vamos publicar outro, maior.

Em 24 de maio de 2023 foi publicado o primeiro edital do Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos para Recebimento de Apoio Financeiro para Participação em Competições e Recebimento de Material e/ou Equipamento.

O valor anunciado foi de R$ 2,5 milhões para serem usados em 2023 e outros R$ 2,5 milhões para 2024. Mas só puderam participar do edital as dez entidades que fundaram o Comitê. E cada uma delas só poderia receber no máximo R$ 250 mil por ano.

Mesmo assim, o total executado até o fim do ano passado foi de apenas R$ 189 mil, distribuídos entre sete projetos apresentados por entidades. O que não for gasto, afirmou João Batista, volta para o caixa do CBCP e deve ser investido em aplicações financeiras.

Segundo o balanço de 2023 publicado nesta semana no site do CBCP, a entidade gastou R$ 3,37 milhões com as atividades-meio (ou seja, administrativas) e R$ 2,23 milhões com as atividades-fim (recursos diretamente aplicados no esporte).

Gastos da "Área meio" do CBCP em 2023 — Foto: Divulgação CBCP

Gastos "área fim" do CBCP em 2023 — Foto: Divulgação CBCP

Próximo edital: R$ 9,5 milhões

O próximo edital a ser lançado pelo CBCP vai distribuir R$ 9,5 milhões. O CBCP encerrou o ano passado com 121 filiados – e só estes poderão apresentar projetos para serem analisados.

De acordo com João Batista Carvalho Vieira, presidente da entidade, só uma pequena parte desses filiados têm as certificações necessárias para poder receber os recursos.

Por isso, a prioridade de sua gestão até aqui tem sido promover workshops e eventos em diversas regiões do Brasil – para capacitar os dirigentes desses clubes.

– Quanto mais gente capacitada houver, mais clubes vão poder participar dos editais e mais dinheiro vai chegar até a ponta. Se não, daqui a pouco nós vamos nos transformar num outro CBC (Comitê Brasileiro de Clubes), acumulando dinheiro sem fazer o recurso chegar até onde precisa chegar – diz.

É precisamente esse o risco que seus críticos apontam.

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