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Por Lucas Espogeiro — Rio de Janeiro


Em janeiro de 2024, Zion Bethonico escreveu seu nome na história do esporte brasileiro. O catarinense, agora com 18 anos, ainda tinha 17 quando conquistou a primeira medalha do Brasil em Olimpíadas de Inverno. Foi bronze no snowboard cross dos Jogos da Juventude de Gangwon, na Coreia do Sul. Uma conquista que teve participação ativa da família do atleta e foi exaltada pelo Comitê Olímpico Brasileiro.

Zion posa com medalha de bronze e colete usado nas Olimpíadas de Inverno da Juventude — Foto: Rafael Bello/COB

Na última terça-feira (30), Zion esteve no Centro de Treinamento do COB, no Rio de Janeiro. Conheceu melhor as instalações, entregou colete usado em Gangwon para o acervo do Comitê e, com a medalha de bronze no peito, falou sobre o feito que alcançou.

– É uma honra (ter subido ao pódio olímpico). Eu não sabia que a primeira medalha em esportes de inverno era algo tão grande para o Brasil. Mas cheguei à competição com expectativa de conquistar algo. Fiquei muito feliz, cheio de emoções com a experiência que tive – contou, em entrevista ao ge.

Pedro Barros e Zion Bethonico mostram as diferenças e semelhanças do skate e do snowboard

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E não é apenas força de expressão dizer que a conquista nas Olimpíadas de Inverno da Juventude teve participação de familiares de Zion. O irmão do atleta, Noah, também compete no snowboard cross. Em 2023, durante o Mundial Júnior, Noah e Zion terminaram, respectivamente, na 25ª e 26ª posições. A soma dos resultados deu ao Brasil uma vaga nos Jogos de Gangwon.

Como Noah, aos 20 anos, já tinha estourado a idade para disputar as Olimpíadas da Juventude, Zion foi o escolhido para participar e teve o irmão como companheiro durante todas as provas na Coreia do Sul.

Zion com a mãe, Camila, e o irmão, Noah — Foto: Reprodução

– Depois da conquista do bronze, o Noah estava chorando de alegria por mim. Ele realmente queria o meu bem, e deu certo. Relação entre irmãos é complicada. Existe uma rivalidade muito grande, mas isso é o que mais me empurra para a frente, para tentar ser melhor no esporte. A gente vai se ajudando a crescer – disse Zion.

Eleito melhor atleta de esportes de neve no Prêmio Brasil Olímpico de 2023, Noah também já competiu em Olimpíadas da Juventude. Em Lausanne 2020, terminou em 11º no snowboard cross. O resultado era o melhor do país em modalidades de neve nos Jogos, até ser superado pela medalha de Zion.

O responsável por apresentar o snowboard cross a Zion e Noah foi o pai da dupla, Rangel.

Zion com o irmão, Noah, e o pai, Rangel — Foto: Marina Ziehe/COB

– Meu pai sempre gostou muito de esportes de neve e me levou aos Estados Unidos para treinar no Colorado, onde eu comecei a praticar. Treinei por muitos anos até entrar para o mundo profissional – relatou Zion, que estava acompanhado da mãe, Camila, na visita ao CT do COB.

Vida dividida entre o Brasil e o exterior

Natural de Florianópolis, Zion continua muito apegado à cidade. Tanto que, mesmo competindo em um esporte de neve, ainda passa metade do ano na capital catarinense. O período no Brasil é de dedicação total à preparação física, com idas frequentes à academia.

No exterior, Zion não tem uma base fixa. Durante a conversa com o ge, ele explicou que se desloca de acordo com o calendário de competições:

Zion e o irmão, Noah, em período no exterior — Foto: Reprodução

– De outubro até dezembro, fico na Europa. Do fim de janeiro até meio de abril, me estabeleço no Canadá e nos Estados Unidos. Durante uma parte do nosso inverno no hemisfério sul, eu acabo indo ao Chile, para fazer treinos e participar de competições sul-americanas.

A rotina de treinamentos não vai mudar após a conquista do bronze nos Jogos de Inverno da Juventude. Zion já tem em mente um outro objetivo na carreira: chegar à próxima edição das Olimpíadas adultas, que acontecerá em Milão e Cortina d'Ampezzo, na Itália, em 2026. Quando perguntado sobre a possibilidade de uma medalha daqui a dois anos, o atleta brasileiro preferiu ser econômico nas palavras:

– Vamos ver.

Reconhecimento no Brasil

Na visita ao Centro de Treinamento do Comitê Olímpico Brasileiro, Zion doou um dos coletes usados em Gangwon. A peça ficará no acervo do COB, junto com outros equipamentos históricos, como a prancha de Ítalo Ferreira que quebrou nos Jogos de Tóquio, em 2021.

Presidente do Comitê, Paulo Wanderley falou ao ge sobre a importância da conquista de Zion e da manutenção da memória do esporte brasileiro.

Zion posa com a mãe, Paulo Wanderley (à direita) e Carlos Eduardo Barros, vice da Confederação Brasileira de Desportos na Neve — Foto: Rafael Bello/COB

– Sem memória, você não vai a lugar nenhum. O acervo está crescendo, é a memória viva, a materialização daquilo que pode ser feito. O impossível é impossível até que alguém faça. A prova está no acervo, inclusive com o colete do Zion. (A medalha dele) Impacta o esporte brasileiro de forma geral. Esse exemplo vai levar mais gente ao desporto de inverno.

Jaqueline Mourão também exaltou o bronze de Zion. E essas palavras têm peso grande, uma vez que a mineira é recordista brasileira de participações em Olimpíadas, com três idas aos Jogos de Verão e outras cinco aos Jogos de Inverno. Ela já competiu em três modalidades diferentes: mountain bike, esqui cross-country e biatlo.

Hoje integrante da Comissão de Atletas do COB, Jaqueline disse que chorou ao saber da conquista de Zion:

Zion encontra Jaqueline Mourão — Foto: Rafael Bello/COB

– Nós, os atletas mais velhos, pioneiros brasileiros, fomos muito estigmatizados. Quando íamos competir nos esportes de inverno, só falavam em Carnaval e praia. Agora, o Brasil mostra que pode competir e vencer os países acostumados à neve. É uma emoção muito grande.

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