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Por Flavio Dilascio e Winne Fernandes — Pequim, China


No Brasil é impossível falar de bobsled e não citar o nome dele: Edson Bindilatti. Isso porque o baiano criado em São Paulo esteve presente em todas as cinco participações olímpicas do Brasil na modalidade. Neste domingo, o embaixador dos esportes de gelo no país oficializou sua aposentadoria aos 42 anos. A retirada acontece no mesmo dia em que o Brasil conquista o melhor resultado da história da seleção em Olimpíadas com a primeira classificação para as finais do bobsled, em Pequim 2022.

- Sonho é uma coisa, mas realizar é ainda melhor. É incrível quando a gente atinge um objetivo de tantos anos. Quando eu comecei no atletismo, eu jamais imaginei que chegaria nos Jogos Olímpicos no bobsled. E você chegar tão longe e conseguir construir uma nova modalidade de inverno num país tropical não é fácil. Hoje eu tenho muito orgulho de tudo que eu fiz e passei. Eu vivi para o esporte - disse Edson.

Edson Bindilatti e a equipe 4-man do Brasil — Foto: Getty Images

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A estreia de Bindilatti nos Jogos aconteceu em 2002 nos Jogos de Salt Lake City, há 20 anos. De lá pra cá, ele esteve em Torino 2006, bateu na trave em Vancouver 2010, mas depois engatou uma sequência com Sochi 2014 e Pyeongchang 2018. Até 2022 o melhor resultado do Brasil era a 23ª posição na Coreia do Sul. O país, no entanto, nunca tinha se classificado para a quarta descida, que vale medalha, onde só os melhores 20 trenós participam.

- Saio com o sentimento de dever cumprido, esse 20º lugar aqui em Pequim é histórico. Foi bom enquanto durou (risos). Não caiu a ficha ainda. Ver o crescimento, a evolução dessa equipe não tem preço. Começamos e sabíamos muito pouco, hoje somos respeitados, somos vistos de uma forma totalmente diferente e isso só me enche de orgulho - disse.

Edson Bindilatti — Foto: Getty Images

Edson relaciona a realização profissional ao grande momento vivido também em sua vida pessoal. Filho adotivo, o baiano nascido em Camamu conheceu sua família biológica em 2016. Na ocasião, pôde conhecer não só os pais como os irmãos. Bindilatti é também pai de dois filhos.

- Minha mãe nunca me escondeu que eu era adotivo. Sempre quis conhecer minha família, mas com a vida corrida ainda não tinha conseguido me organizar para viver esse momento. Até que finalmente aconteceu e foi essencial. É difícil saber pra onde ir se a gente não sabe de onde veio. Agora só falta eu escrever um livro e plantar uma árvore - brincou, aos risos.

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Quem não era da família de Bindilatti mas era como um irmão para ele é Odirlei Pessoni, integrante da equipe do 4-man (quatro homens) nos Jogos de Sochi e Pyeongchang. Mecânico e também líder da seleção, Odirlei faleceu fatalmente em 2021 após acidente de moto.

Odirlei na parte interna do trenó brasileiro — Foto: Alexandre Castello Branco/COB

- Esse resultado não foi só nosso, foi dele e para ele. Odirlei era peça fundamental na nossa equipe, ele era o cara que cobrava, ele vivia o bobsled e queria muito estar aqui. Fizemos questão de trazer a imagem dele com a gente. Primeiro tentamos no trenó, a organização tirou. Depois tentamos no capacete, a organização tirou. Mas ele sem dúvida de alguma forma esteve presente aqui com a gente. Não temos dúvidas - disse Edson.

Coletividade. União. Estas palavras são de fato parte da história construída por Edson junto da equipe do bobsled. Por isso, fica o apelo do capitão Bindilatti para um episódio que ganhou força no país após um vídeo viralizar na internet. Nele, Edson Martins, companheiro do veterano no 2-man (dois homens) aparece caindo na largada de um treino preparatório em Pequim.

- O respeito tem que estar acima de tudo. Porque às vezes uma brincadeira pode virar uma coisa muito grande. Porque sozinho a gente não vai a lugar nenhum. O meu companheiro me mostrou que ele não me deixava na mão de jeito nenhum, ele não me largou de forma alguma. Se fosse qualquer outro, pulava fora, deixava o piloto sozinho. Depois eu passava a linha de chegada e freava. Mas ele me mostrou que ele estava comigo até o fim. E eu não esperava menos dele. Então esse é o recado - falou Edson.

Após confirmar a aposentadoria com o fim das Olimpíadas de Pequim, Edson garantiu também permanecer próximo do esporte, movimentando e orientando a nova geração que chega para dar sequência em seu trabalho. A ideia dele é seguir junto da equipe nos bastidores.

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