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Por Marcel Merguizo — São Paulo


Cachorrão está com fome. Entre um prato de macarrão e outro, na Itália, o nadador Guilherme Costa se alimenta da pressão e da vontade de ser campeão mundial para ter um 2023 ainda melhor do que foi o ano passado.

O brasileiro de 24 anos começa no próximo dia 23 de julho a disputa das quatro provas que vai nadar no Mundial de Fukuoka, no Japão. E quer melhorar o resultado do Mundial de Budapeste 2022, quando foi medalhista de bronze nos 400 metros livre.

Guilherme Costa, o Cachorrão, nada no Troféu Brasil de Natação 2023 — Foto: Satiro Sodré/sspress

Nesta entrevista exclusiva para o ge, Cachorrão -- além de explicar o apelido -- conta como está a preparação final na altitude de 1.800 metros acima do nível do mar na cidade italiana de Livigno, mostra otimismo com a medalha de ouro em Fukuoka e diz que precisar comer, e muito, para suportar o treino e as provas que vão do revezamento 4x200 aos 1.500m livre neste Mundial.

Guilherme Costa, o Cachorrão, fala sobre expectativa para o Mundial de Esportes Aquáticos

Guilherme Costa, o Cachorrão, fala sobre expectativa para o Mundial de Esportes Aquáticos

O bronze no Mundial de 2022 faz você chegar de forma diferente no Mundial de 2023?
- Chego um pouquinho diferente. Fui medalhista ano passado, então, nesse agora eu quero mais, quero ser campeão mundial. E está chegando a hora, vai batendo um pouquinho de ansiedade, mas estou muito bem. Aqui na Itália, onde a gente escolheu para encerrar a preparação, está tudo perfeito, tem tudo o que eu preciso. O treinamento em altitude vai fazer diferença de novo.

Você vai nadar quatro provas. Em qual delas acredita que tem mais chances de ser campeão mundial, como deseja?
- A preferida é o 400 metros livre, é a prova onde tenho mais chances, mas acho que vou bem nos 800 metros e no revezamento 4x200 livre também, principalmente. Eu enxerguei que é uma prova na qual o Brasil tem chances de medalha nas Olimpíadas de Paris no ano que vem. Então quero ajudar nisso, quero estar no revezamento, quero torná-lo mais forte. É uma prova difícil para mim porque estou começando a nadá-la. Mas principalmente no ano que vem em Paris eu vou estar muito melhor nela. É uma prova que o Brasil tem chance de medalha em Paris, sim.

Sem Bruno Fratus, medalhistas olímpico, que se recupera fisicamente de lesão, depois cirurgia, e não vai ao Mundial, você é o principal nome da natação masculina do Brasil. Você sente essa pressão?
- Sempre busquei isso na minha carreira. Sempre quis chegar em um Mundial com essa pressão a mais. Eu gosto de sentir essa pressão a mais em mim. Sempre quis, a minha vida inteira, chegar nesse nível, e agora quero aumentar ainda mais isso, para que nas Olimpíadas eu chegue melhor ainda.

Guilherme Costa vence os 400m livre e conquista índice para o Mundial de Budapeste — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Por que está tão otimista com a possível medalha de ouro nos 400m?
- Ano passado eu fui bronze com um tempo muito forte (3min43s31). E sei que o tempo do ano passado foi muito próximo do primeiro (2seg11 atrás do campeão australiano Elijah Winnington). E sei que esse ano estou treinando melhor, me preparei melhor, estou me sentindo melhor também agora. Eu fiz tudo bastante melhor do que no ano passado. Estou fazendo o treinamento de altitude de novo, o ano passado deu certo. Tenho tudo para nadar melhor do que no ano passado.

O que o treinamento em altitude melhora em você?
- Eu sinto que eu ganho muito mais resistência quando eu desço. Por isso essas três semanas de treino aqui são muito importantes por que eu ganho mais resistência. E aí durante a competição aguento nadar todo dia, que é o que tenho que fazer. Consigo recuperar mais rápido de uma prova para outra também. Isso facilita muito para eu nadar uma boa quantidade de provas.

Como é se preparar para nadar provas que vão dos 200 aos 1.500 metros? E quantas vezes você deve nadar em Fukuoka?
- Chegando a todas as finais seriam oito quedas na água. E são provas longas, então desgasta bastante. No treino, eu foco mais nos 400m livre. Como eu venho dos 1.500m, eu rodei muitos quilômetros minha vida toda, então hoje consigo treinar com mais qualidade e menos volume. Mas ainda consigo nadar bem os 800m e 1.500m. Apesar de treinar um pouco diferente para os 400m, ainda tenho lastro muito grande. Acho que isso acaba ajudando nos 800m e 1.500m, pois fico mais rápido e consigo transferir isso muito bem para as duas. Ano passado foi bom e esse ano vai ser melhor ainda.

Guilherme Costa, o Cachorrão, no Troféu Brasil de Natação 2023 — Foto: Satiro Sodré/sspress

Você precisa se alimentar muito bem e descansar muito bem para aguentar esse ritmo de treinos e provas. Como é? O que você come, por exemplo?
- Tem que comer muito. E descansar bastante. A maior diferença eu sinto entre os 200m e os 1.500m, quando vou mais para um lado, eu sinto que tá faltando algo do outro. O mais difícil é dosar isso, então sempre fico ali no meio, nos 400m. Eu como bastante massa, e aqui na Itália é muito bom e facilita. Carne também. Sempre pós-treino como macarrão, no almoço e no jantar. E proteína, carne, frango. Quase todos os treinos como macarrão depois do treino. Treino um volume muito alto, então acho que é bom para repor.

Você está na Itália, um dos seus principais concorrentes nos 1.500m é o italiano Gregorio Paltrinieri, treinado por Fabrizio Antonelli, justamente o técnico que Ana Marcela Cunha escolheu para a acompanhar neste Mundial. Você aprova a escolha dela?
- Eu conheço bem o Fabrizio. Já vim para a Itália várias vezes. Já treinei com o Paltrinieri. É uma equipe muito forte, tem nadadores muito fortes nas piscinas e maratonas. Acho que é uma escolha boa. A Ana já estava muito bem com o Fernando Possenti. Ela conseguiu o título olímpico, o que já é incrível, e o Fabrizio é um grande técnico. De qualquer forma, ela vai estar bem. Eles estavam aqui até semana passada e já foram direto para o Japão.

Guilherme Costa, o Cachorrão, nada no Troféu Brasil de Natação 2023 — Foto: Satiro Sodré/sspress

Você pretende nadar a maratona aquática nos Jogos Olímpicos de Paris 2024?
- Pela seletiva, no Mundial de Doha 2024, não sei se consigo nadar, porque a maratona aquática deve ser antes da piscina. Mas se tiver algum jeito de classificar pela piscina, aí eu conseguiria nadar porque nas Olimpíadas a maratona é depois da piscina. Já estando lá pela piscina, se eu puder nadar a maratona, quero nadar, sim. Já depois das Olimpíadas, por ser um ano mais livre, posso testar nadar mais maratonas.

Para fechar, explica o porquê do apelido Cachorrão.
- Foi há bastante tempo, estava de férias em Angra com os amigos. Estávamos jogando bola na praia e a bola caiu perto de um cachorro. Eu fui pegar e o cachorro acabou me mordendo. Nós voltamos lá no outro dia, e o cachorro não estava. Aí eles ficaram falando que ele morreu. E o apelido ficou. Eu gosto.

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