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Por Bruna Rodrigues e Rafael Bizarelo — Montreal, Canadá


Pilotar no limite era comum para Gilles Villeneuve. Foi dessa forma que o canadense encantou 'il Commendatore' Enzo Ferrari, que o levou para a escuderia. O estilo de pilotagem foi o que transformou Gilles em ídolo da Fórmula 1 mesmo sem a conquista de um título. Para o bom e para o ruim, Villeneuve ficou marcado na história da categoria. Com fim trágico, justamente pela agressividade nas pistas, o piloto dá nome ao Grande Prêmio do Canadá, etapa deste final de semana da F1.

Gilles Villeneuve teve duelo com caça em 1981 — Foto: Reprodução

A intensidade da pilotagem de Joseph Gilles Henri Villeneuve começou em corridas, mas não em pistas como as de Fórmula 1. Antes de disputar a categoria, ele foi vitorioso no snowmobile, uma moto de neve. No Canadá, ele aproveitou o frio para começar a carreira na velocidade. A partir daí, Gilles passou para categorias do automobilismo.

Em 1976, Gilles impressionou ao derrotar James Hunt, campeão da F1 naquele ano, em uma prova da Formula Atlantic. O desempenho levou a McLaren a convidar o canadense para pilotar um terceiro carro da equipe no GP da Grã-Bretanha de 1977. A 11ª colocação na prova não rendeu outras chamadas do time britânico, mas impressionou um figurão da categoria.

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Enzo Ferrari ficou impressionado com o que Gilles fazia na pista. Com estilo agressivo, bravo e até mesmo imprudente, o canadense conseguiu uma vaga na Ferrari nas últimas duas provas de 1977. No ano seguinte, ele ficou longe de repetir o desempenho do companheiro de equipe, Carlos Reutemann, terceiro colocado no campeonato. Villeneuve só foi subir ao lugar mais alto do pódio na última corrida de 1978, e deixou o nome marcado até os dias atuais.

Reutemann, Villeneuve e Scheckter no pódio de Montreal, em 1978 — Foto: Reprodução

Vencer é bom, mas vencer em casa é melhor ainda. Na estreia em casa e na primeira corrida de Montreal na F1, Gilles conseguiu a terceira colocação de largada, algo ótimo para um piloto que só havia conquistado um pódio em 1978.

O Circuito da Ilha de Notre Dame viu o herói local superar Alan Jones (campeão em 1980) e Jody Schecketer (campeão em 1979) para ser o segundo colocado. Jean-Pierre Jarier, pole position, precisou abandonar 21 voltas antes do fim, e abriu caminho para o triunfo de Villeneuve.

Já adorado pelos fãs da F1, Gilles finalmente entrou para o hall de vencedores de GPs no fim da segunda temporada. Em 1979, o título escapou por pouco. A diferença para Jody Schecketer, companheiro da Ferrari, foi de apenas quatro pontos, e Villeneuve mostrou mais uma vez que não era um piloto qualquer.

Villeneuve e Arnoux tiveram disputa épica no GP da França de 1979 — Foto: Reprodução

No GP da França de 1979, Gilles Villeneuve e René Arnoux protagonizaram uma das maiores disputas por posição da história da Fórmula 1. Os pilotos brigavam pela segunda colocação, e trocavam de posição curva a curva em alta velocidade e com muitos toques. Ao fim, o canadense saiu vencedor, os dois se abraçaram após a corrida e Arnoux afirmou ter perdido "para o melhor piloto do mundo".

A Ferrari enfrentou muitos problemas em 1980, até hoje considerado como um dos piores anos da escuderia. Villeneuve e Schecketer, juntos, somaram apenas oito pontos e não conquistaram um pódio. A demissão do canadense, inclusive, foi pedida pela imprensa italiana, mas ele seguiu no cockpit.

Gilles voltou a vencer em 1981, agora com Didier Pironi como companheiro de equipe. Os dois construíram uma boa amizade fora da pistas, mas tudo acabou no ano seguinte, no Grande Prêmio de San Marino.

Didier Pironi e Gilles Villeneuve na chegada do GP de San Marino de 1982 — Foto: Reprodução

Sem as equipes inglesas, que protestavam contra a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (FISA), Imola tinha Ferrari e Renault como destaques. Villeneuve assumiu a ponta, e respeitou a ordem da equipe de diminuir o ritmo para evitar quebras na reta final da prova, e era seguido pelo companheiro.

Gilles e Pironi tinham um pacto de não-ultrapassagem, mas o francês pressionou o companheiro de equipe na última volta até assumir a liderança e conquistar a vitória. Villeneuve ficou indignado com a situação, a ponto de dizer que nunca mais falaria com Pironi na vida.

Duas semanas depois de Imola, a F1 chegou em Zolder, na Bélgica. Na classificação, Villeneuve tinha apenas o oitavo melhor tempo, e precisava de apenas 0s105 para superar Pironi, em sexto. Ele partiu para a volta rápida e encontrou Jochen Mass, da March, em ritmo mais lento. O alemão moveu o carro para a direita para deixar espaço, mas Gilles seguiu com muita velocidade para o mesmo lado. Os dois bateram, e o canadense voou para fora da Ferrari até bater direto no muro.

Carro de Villeneuve ficou destruído após acidente em Zolder, em 1982 — Foto: Getty Images

Gilles Villeneuve foi declarado morto no hospital, horas após a classificação. O canadense tinha 32 anos e deixou um filho, Jacques, que conquistou o título mundial da Fórmula 1 quinze anos depois da morte do pai, em 1997.

Didier Pironi, o maior rival de Gilles por uma corrida, sofreu um grave acidente do GP da Alemanha também em 1982, e não voltou mais para a Fórmula 1. Ele passou a disputar corridas de barcos, e morreu em 1987 ao virar em uma onda.

Após a morte de Gilles, o circuito de Montreal passou a receber o nome do herói canadense. O Grande Prêmio do Canadá será disputado neste final semana, e é valido como a nona etapa da temporada. Confira o calendário completo.

Infos e horários do GP do Canadá da F1 2024 — Foto: Infoesporte

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