TIMES

Por Bruna Rodrigues — Rio de Janeiro


Com 11 temporadas disputadas na F1 desde sua estreia em 1984, até o GP em que sofreu seu acidente fatal em 1994 - na etapa de San Marino em Imola -, Ayrton Senna não teve uma carreira das mais longevas na categoria. Ainda assim, a passagem do tricampeão pela elite do automobilismo foi recheada de momentos marcantes do início ao fim; o ge separou algumas das mais especiais, abaixo. Confira as fotos!

Quem foi Ayrton Senna, último brasileiro tricampeão de F1

Quem foi Ayrton Senna, último brasileiro tricampeão de F1

1 - Primeiro pódio em Mônaco e show debaixo de chuva (1984)

O famoso GP de Mônaco de 1984, onde o lado político influenciou diretamente no resultado da prova — Foto: Mike Powell/Getty Images

O início de Ayrton Senna pela modesta Toleman com um abandono no GP do Brasil talvez tenha tornado ainda mais imprevisível o espetáculo que ele daria cinco corridas depois. Na época, o jovem de apenas 24 anos classificou-se apenas em 13º no grid de largada do GP de Mônaco.

Mas ele não parou aí: atravessou o grid sob fortíssima chuva, desafiando pesos-pesados da categoria como os campeões Keke Rosberg e Niki Lauda. Senna chegou perto do vencedor Alain Prost, em segundo lugar; depois de reduzir sua desvantagem de 34s para 7s, porém, o diretor de prova e ex-piloto Jacky Ickx encerrou a corrida mais cedo, na 31ª volta.

Ickx revelaria, posteriormente, que encerrou a prova por ordem de Jean-Marie Balestre, presidente da Federação Internacional do Esporte Automobilístico (Fisa). Além de francês - assim como Prost -, Balestre também era amigo próximo do piloto da McLaren, o que levantou suspeitas sobre sua motivação.

2 - Primeira celebração com bandeira do Brasil (1986)

Ayrton Senna ergue bandeira do Brasil após vencer GP de Detroit de 1986 — Foto: Acervo Instituto Ayrton Senna

Até quem conhece pouco de Fórmula 1 reconhece o piloto a bordo de um carro com a bandeira do Brasil. O icônico gesto imortalizado por Senna - homenageado, no GP de São Paulo de 2021, por Lewis Hamilton - surgiu no GP de Detroit de 1986, e por causa do futebol.

O Brasil foi eliminado da Copa do Mundo do México pela França nas quartas de final naquele fim de semana. E os franceses da F1 e especialmente os mecânicos da Lotus, nova equipe de Senna, não deixaram barato; até o projetista Gerard Ducarouge provocou o piloto que, depois de vencer a corrida, pediu a bandeira verde e amarela a um torcedor para "dar o troco" nos franceses.

O brasileiro, em sua segunda temporada pela Lotus e a terceira na F1, largou da pole; mas a vitória não foi fácil. Ele foi ultrapassado por Nigel Mansell, teve o pneu furado, perdeu posições e teve que recuperar uma a uma, até parar em segundo lugar. Contou com a sorte do novo líder, o compatriota Nelson Piquet, bater. Aí, bastou a Ayrton administrar a vantagem para garantir o triunfo.

3 - Foto clássica com rivais (1986)

Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet em foto clássica no GP de Portugal de 1986 — Foto: Divulgação

A temporada 1986 marcou outro momento histórico para Senna: a foto ao lado dos rivais Alain Prost (McLaren), Nigel Mansell (Ferrari) e Nelson Piquet (Williams). O clique foi feito em 21 de setembro, no Autódromo de Estoril durante o GP de Portugal.

O quarteto também protagonizava o campeonato: Mansell liderava, e Piquet era vice-líder. Prost ocupava o terceiro lugar e Senna, ainda na Lotus, era o quarto colocado. Abaixo deles estava Keke Rosberg, mas o finlandês tinha só 22 pontos na classificação de pilotos - menos da metade dos 48 de Senna e três vezes menos que o líder Mansell!

Quem teve a ideia do clique? Bernie Ecclestone, então presidente da Associação de Construtores da Fórmula 1 (Foca). A foto foi tirada em uma quinta-feira; a vitória no GP de Portugal, porém, ficaria com Mansell - embora Prost tenha levado o título daquele ano.

4 - Primeiro título, no Japão (1988)

Ayrton Senna comemora a vitória no GP do Japão de 1988 — Foto: Divulgação/McLaren

O ano de estreia de Senna na McLaren foi estelar: juntos, ele e seu novo colega, Prost, venceram 16 das 17 corridas. A dupla se revezava no topo do pódio em quase todas as provas; Ayrton, porém, engatou uma sequência de quatro triunfos na metade final da temporada. Ele empatou na tabela com o francês e, na Bélgica, assumiu a liderança do campeonato.

Antes de Suzuka, os dois candidatos ao título sofreram quebras e resultados mais inconstantes. No Japão, o brasileiro ainda sofreu com uma pane na largada, que o obrigou a fazer uma corrida de recuperação, partindo do fundo do grid até assumir a liderança de Prost na 28ª volta. Confirmado estava o primeiro título de Senna.

5 - Batida com Alain Prost em Suzuka (1989)

Senna e Prost após o acidente em Suzuka, em 1989 — Foto: Getty Images

No ano seguinte, porém, a rivalidade da dupla transbordou. Mesmo tendo começado a temporada de 1989 com um 11º lugar no Brasil, Ayrton venceu as três provas seguintes. No entanto, sofreu com uma sequência de quatro abandonos chegando a 20 pontos de diferença para Prost, líder do campeonato. Ao longo da temporada, Senna quebrou na Itália e foi atingido por Nigel Mansell em Portugal.

Uma vitória na Espanha, porém, trouxe o brasileiro de volta para a disputa; agora com apenas quatro pontos a menos que Prost, ele garantiu a pole position do GP do Japão. Sua vantagem, porém, durou pouco: o francês passou à frente e seguiu na liderança.

Senna conseguiu chegar a menos de um segundo do rival na 41ª volta; seis giros depois, aproveitou uma brecha dada pelo rival, freou mais tarde na chicane e passou com as duas rodas na faixa dos boxes. Tendo Prost ao seu lado, na parte de dentro, o brasileiro acabou espremido pelo colega da McLaren.

O abandono daria o título antecipadamente a Prost. Por isso, Senna passou por curvas sinalizadas com cones na área de escape para voltar à pista. Consertou sua asa quebrada e passou o novo líder Alessandro Nannini. Porém, o brasileiro foi acusado de ter cortado caminho fora do traçado, depois de Prost conversar com o presidente da Fia, Balestre.

A dupla se reuniu com Ayrton e Ron Dennis, mas a decisão de desclassificar o brasileiro foi mantida. Para voltar à F1 em 1990, Senna teve que se desculpar pelo episódio, o que relutou em fazer mas acabou cedendo posteriormente.

6 - Segunda batida com Prost (1990)

Senna bate em Prost após a largada do GP do Japão de 1990, em Suzuka — Foto: Getty Images

Pela sufocante rivalidade com Senna, Prost decidiu ir para a Ferrari em 1990, mas continuou a ter o brasileiro como seu inimigo dentro das pistas. Ayrton começou a temporada com três vitórias nas primeiras cinco corridas contra um triunfo do francês que saiu líder da Inglaterra, na metade do campeonato.

A dupla chegou em Suzuka, penúltima etapa do ano, sabendo que a vitória aproximaria o Professor do título. Foram justamente eles a largar na primeira fila, com Senna na pole; porém, a corrida dos dois durou só 9s28: o brasileiro, por dentro, não tirou o pé e ambos acabaram na caixa de brita.

A direção de prova não recomeçou a prova, mantendo-os fora do restante da disputa e confirmando o bicampeonato de Senna.

7 - A carona mais famosa da história da F1 (1991)

Após vencer na Inglaterra em 1991, Nigel Mansell dá carona para Ayrton Senna — Foto: Pascal Rondeau/Allsport

Protagonistas da temporada de 1991, Senna e Mansell chegaram ao GP da Inglaterra com 25 pontos separando o brasileiro, líder, do rival da Williams. Mansell conseguiu a vantagem da pole, só para Ayrton superá-lo na largada.

No entanto, a potência do FW14 do britânico falou mais alto e ele disparou na ponta; para o brasileiro, restou defender a vice-liderança da corrida, mas uma pane seca o tirou da prova na volta final. Mansell parou para dar uma carona a Senna e o registro entrou para a história.

8 - Primeira vitória em casa, no Brasil (1991)

Até vencer pela primeira vez no Brasil, Senna encarou três abandonos, uma quebra que o deixou fora da zona de pontuação, uma desclassificação e apenas dois pódios. O triunfo, enfim, veio em 1991 no Autódromo de Interlagos em São Paulo - com contornos cinematográficos.

Ayrton Senna levanta o troféu de sua primeira vitória no GP do Brasil, em Interlagos, 1991 — Foto: Pascal Rondeau/ALLSPORT

Vindo de vitória nos Estados Unidos, abertura da temporada, o brasileiro conquistou a pole position e sofreu com a pressão do rival Mansell, da forte Williams daquela época. O rival rodou na volta 60, mas os problemas não pararam.

Começou a chover forte, e o câmbio da McLaren de Senna travou. Ele perdeu a terceira, quarta e quinta marchas nas voltas seguintes; nas seis últimas, estava travado na sexta enquanto Riccardo Patrese, remanescente da Williams, o perseguia.

Apesar do susto, Ayrton recebeu a bandeirada em primeiro lugar, pouco antes de seu motor apagar. Exausto, o brasileiro precisou ser atendido ainda na pista antes de seguir para o pódio, mas o cansaço não afetou a festa.

9 - Tricampeonato mundial (1991)

McLaren conquistou o tetra de construtores em 1991, e Senna, o tri de pilotos — Foto: Getty Images

O tri de Senna teve como co-protagonista Nigel Mansell, de uma fortalecida Williams - cujo carro ganharia o título do ano seguinte. Em 1991, Ayrton começou o ano com uma sequência de quatro vitórias, até a equipe rival despontar de vez na França, sétima etapa da temporada.

Os problemas de confiabilidade do rival e a evolução da McLaren, porém, falaram mais alto: Senna chegou no Japão, penúltima etapa, precisando apenas de um segundo lugar. Mansell facilitou a vida do brasileiro ao abandonar o GP na décima volta. Com o rival fora, na última volta, Ayrton ainda deu passagem para que seu companheiro de equipe e amigo, Gerhard Berger, o ultrapassasse e vencesse a corrida. Era o terceiro título da carreira de Senna.

10 - Última vitória no Brasil (1993)

Ayrton Senna chega aos boxes com a bandeira do Brasil após vencer o GP da Austrália de 1993 em Adelaide — Foto: Reprodução/Twitter

No primeiro ano da McLaren com motor Ford, Senna conquistou o vice-campeonato e fechou o ano com cinco triunfos, incluindo em Interlagos. Lá, o algoz do brasileiro foi seu antigo colega de equipe, Prost, agora na Williams. Ayrton largou em terceiro lugar e passou Damon Hill para assumir a vice-liderança; na 11ª volta, foi a vez de Prost.

O triunfo de Senna foi ameaçado com uma punição de stop and go (passagem pelo pit lane): ele ultrapassou um retardatário, Eric Comas, sob bandeira amarela. A desvantagem, porém, foi amenizada com a chegada da chuva.

Na volta 27, o piloto da McLaren antecipou a adoção dos pneus de pista molhada enquanto Prost, com os de pista seca, bateu em Christian Fittipaldi. Quando a chuva parou, Ayrton tinha recuperado a vice-liderança e passou o novo líder, Damon Hill, para vencer pela última vez em casa.

11 - Acidente fatal em Imola (1994)

O acidente de Ayrton Senna na Curva Tamburello no GP de San Marino de 1994 — Foto: Alberto Pizzoli/Sygma via Getty Images

Visando mais oportunidades com a Williams, Senna migrou para a equipe em 1994. No entanto, o brasileiro foi surpreendido com a mudança no regulamento técnico da F1, que baniu recursos eletrônicos do carro e resgatou o reabastecimento, prejudicando o projeto do time britânico.

Ele chegou a conquistar três poles no início do campeonato mas não pontuou em nenhuma vez, sofrendo acidentes nas únicas três corridas que disputou. Depois do Brasil e Pacífico, no Japão, chegou a vez de Imola. Lá, Senna também não completaria a corrida, mas o desfecho seria trágico.

Antes de seu acidente fatal, porém, a F1 lamentou as graves batidas que feriram o novato Rubens Barrichello e mataram o austríaco Roland Ratzenberger na sexta-feira e no sábado, respectivamente. No domingo, a corrida começou com uma batida entre JJ Lehto e Pedro Lamy cujos destroços voaram e feriram nove torcedores nas arquibancadas.

Acidente ayrton senna ímola — Foto: Agência AP

Quando a disputa foi retomada, bastaram sete voltas para que Ayrton batesse no muro da curva Tamburello. Com o impacto, a barra de suspensão de seu carro se rompeu e atravessou o capacete, atingindo-o mortalmente na testa.

Senna foi atendido ainda na pista e, apesar de ter sido levado de helicóptero para o Hospital Maggiore de Bolonha, foi declarado morto às 18h40 (13h40 no horário de Brasília) na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), aos 34 anos, provocando imediata comoção mundial que perdura até hoje.

Veja também

Mais do ge