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Por Bárbara Mendonça e Bruna Rodrigues — São Paulo, SP


"A pergunta que não cala vai ficar calada". Aos risos, Gabriel Bortoleto reforçou que manterá sigilo sobre a ida para a Fórmula 2, apesar de prever um anúncio oficial até o fim de 2023. No entanto, o primeiro brasileiro campeão de Fórmula 3 pôde dar detalhes ao ge.globo no Autódromo de Interlagos, nesta quinta-feira, sobre o acerto com a McLaren; ele revelou, ainda, a influência do bicampeão Fernando Alonso, seu gestor, na negociação do contrato com o Programa de Jovens Pilotos do time.

Gabriel Bortoleto na hospitalidade da McLaren durante o GP de São Paulo de F1 2023 — Foto: Bruna Rodrigues/ge

- O Fernando teve conversas com o Zak Brown (CEO da McLaren) sobre meu contrato, como seriam a coisas daqui pra frente. Ele é um cara muito ativo na minha carreira e que me ajudou bastante a estar como estou hoje. (Na McLaren) está tudo bem encaminhado, depende de muitas coisas; tenho que andar bem ano que vem - disse Bortoleto ao ge.globo no Autódromo de Interlagos, nesta quinta-feira.

Veja a análise prévia do GP de São Paulo de Fórmula 1

Veja a análise prévia do GP de São Paulo de Fórmula 1

Em setembro, Bortoleto se tornou o primeiro brasileiro campeão da Fórmula 3, penúltimo degrau das categorias de base da Fórmula 1. O título quase foi antecipado na etapa de Spa-Francorchamps na Bélgica, mas a decisão acabou adiada por um ponto para a rodada final na Itália, em Monza.

De lá para cá, se passaram exatos dois meses e um dia. Neste meio tempo, o paulista completou seus 19 anos e ainda assinou com a McLaren. O presente de aniversário foi a realização de um sonho, revelou:

- Eu tive uma grande evolução esse ano tanto como piloto, quanto como pessoa. Vim crescendo na minha carreira, assinei com a McLaren que é um sonho de criança para qualquer piloto, acredito. Muitas coisas tem se realizado na minha vida e eu sou muito grato a Deus e todas as pessoas que me apoiam por estar chegando onde estou chegando.

Gabriel Bortoleto, campeão da F3 2023, posa ao lado da McLaren MP4/8 de Ayrton Senna na sede da equipe britânica — Foto: Divulgação

Alonso, veterano da Fórmula 1 com duas décadas na categoria, passou a assessorar a carreira de Bortoleto em 2022, quando o brasileiro ainda estava na Formula Regional Europeia (FRECA). A parceria se manteve com a ida de Gabriel para a F3 - e os conselhos foram úteis para a campanha do título.

- Quando ganhei minha corrida em Melbourne ele me deu algumas dicas, para manter a calma, a paciência, e usar bastante a cabeça porque nem sempre eu poderia ganhar corridas, mas o campeonato se ganha somando pontos e tendo resultados constantes. Essa foi uma dica que ficou muito na minha cabeça e eu consegui colocar ela em prática. Quando estamos juntos a gente se fala bastante. Não fico enchendo o saco mandando mensagens (risos). Mas se ele está a fim de jogar no simulador, eu vou e jogo com ele, a gente bate um papo. É super legal - detalhou Bortoleto.

O conselho de fato foi colocado em prática: Bortoleto só venceu duas corridas em 2023, metade do vice-campeão Zak O'Sullivan. Porém, deixou de pontuar apenas em duas provas: na corrida sprint do Bahrein, abertura da temporada, e na da Bélgica, que abandonou.

Gabriel Bortoleto abraça o mentor Fernando Alonso no Bahrein, na primeira etapa da F3 2023 — Foto: Joe Portlock - Formula 1/Formula Motorsport Limited via Getty Images

Como resultado, seu título veio ainda no sábado da etapa de Monza porque seus dois rivais Jose Maria Martí e Paul Aron perderam a chance da pole position. O campeonato veio, ainda, com 45 pontos de vantagem. Na visão de Bortoleto, os atributos que demonstrou na briga pela taça da F3 serão um reforço para seu ano de calouro na F2, em 2024.

- A paciência, você tem que usar a paciência, a inteligência. São momentos importantes. Temos que ver ano que vem. O que eu fiz bem esse ano foi ser bem constante; eu vou tentar fazer a mesma coisa ano que vem e tenho certeza que vai ser positivo - prometeu o jovem piloto.

Vida na McLaren

Como piloto de desenvolvimento da McLaren, Bortoleto é tutorado pelo ex-F1 e pentacampeão das 24h de Le Mans (2001, 2002, 2003, 2006 e 2007) Emanuele Pirro. Ele integra o grupo formado pelo piloto da Fórmula Indy Patricio O'Ward; o vice-campeão da Fórmula 4 italiana Ugo Ugochukwu e o japonês Ryo Hirakawa, do Mundial de Endurance (WEC).

- Tem sido uma rotina bem tranquila por enquanto. A McLaren deixa claro que o meu foco total é a F2 então eles não querem me colocar para fazer mil coisas. Vou fazer um treino de simulador ou outro com eles, uma área que eu gostaria de participar mais na pré-corrida, fazendo todos os testes do carro, mas é uma coisa ainda a ser conversada com eles. Ainda não temos expectativa sobre treinos na F1, depende de como as coisas se encaminharem ano que vem e a gente ter uma chance de estar lá - antecipou Gabriel.

Gabriel Bortoleto é novo membro do Programa de Desenvolvimento de Pilotos da McLaren — Foto: Divulgação

O destino do campeão na temporada 2024 do automobilismo ainda é um segredo guardado por ele: a única garantia é que ele estará no próximo grid da F2 - agora, contando com suporte da McLaren e também de Alonso:

- Eu não posso falar, preciso esperar o anúncio. Mas é coisa boa. A gente ainda não programou, estamos esperando talvez para Abu Dhabi, ou depois de Abu Dhabi. Mas será ainda esse ano.

Veja outros tópicos da entrevista com Bortoleto:

Contato com brasileiros veteranos: "Eu tenho contato mais com Felipe (Massa). Tony (Kanaan), conheço bem o Rubinho (Barrichello); não falo todo dia com ele. Tem outros brasileiros também, mas hoje em dia quando entro em contato com ele é mais um papo-cabeça com eles, eles me dão algumas dicas para manter o foco e chegar ao objetivo".

Estar na mesma equipe em que Ayrton Senna foi campeão: "É até difícil de explicar isso. Ele foi tão grande, mas tão grande. Parece que esse lugar é dele, o autódromo inteiro, tudo é dele. O Senna é um ídolo, o motivo de eu estar onde estou hoje, de ter começado no esporte, para mim é uma honra estar onde ele fez história e poder, se Deus quiser, realizar 1% do que ele fez na carreira dele".

Ausência de brasileiros no grid da F1: "É um esporte extremamente caro. Eu tenho recebido o apoio de grandes empresas e isso é uma coisa que talvez tenha faltado no passado, mas estão correndo atrás de consertar isso e apoiando não só a mim, mas outros brasileiros .Também não tivemos nenhum outro brasileiro campeão de Fórmula 2 ou Fórmula 3 antes do Felipe Drugovich) nos últimos seis anos, e isso impossibilita a entrada de algum piloto na Fórmula 1.

Apoio da torcida brasileira: "A visibilidade depende muito do resultado: se um brasileiro não está andando bem, não aparece muito. Se está, o brasileiro cria uma expectativa alta de você ter um futuro na Fórmula 1, acredito que esse foi um pouco do meu caso esse ano. Com outros brasileiros tendo bons resultados, está se criando uma fã-base pra gente e isso é extremamente importante. As empresas entendem que há um mercado para patrocinar os pilotos. É uma loucura, o brasileiro vai à loucura mas eu amo isso; dá uma motivação a mais pra gente.

F1 2023: infos e horários do GP de São Paulo, 20ª etapa do ano — Foto: Reprodução

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