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Por Rafael Lopes

Comentarista de automobilismo do Grupo Globo

Voando Baixo — Rio de Janeiro

Qian Jun/MB Media/Getty Images

É fato que a semana de notícias da Fórmula 1 foi mais movimentada que o normal. Já fiz, aqui no Voando Baixo, a primeira análise do regulamento técnico da categoria para 2026. Mas outro fato importante chamou a atenção: na última terça-feira, a RBR anunciou a renovação com Sergio Pérez por mais duas temporadas. A novidade gerou muito barulho entre os fãs da categoria, principalmente porque o mexicano tem andado abaixo do esperado desde 2022. Nos últimos dois anos, foi amplamente superado por Max Verstappen, seu companheiro de equipe, mesmo com um carro com desempenho muito acima da concorrência. A realidade se repete em 2023, quando a equipe austríaca já não tem mais a mesma hegemonia dos anos anteriores. Em 2024, a situação é ainda pior: após oito GPs, Pérez é apenas o quinto no campeonato, 62 pontos atrás de Verstappen.

Sergio Pérez volta aos boxes depois do acidente na primeira volta do GP de Mônaco de 2024 — Foto: Emmanuele Ciancaglini/Ciancaphoto Studio/Getty Images

Por tudo isso, a renovação de Sergio Pérez por dois anos com a equipe austríaca, que dominou as duas últimas temporadas da Fórmula 1, surpreendeu muita gente. Principalmente pela duração do novo compromisso, já que, num primeiro momento, a RBR ofereceu apenas um ano. O mexicano queria dois. No fim, acabou prevalecendo a vontade do piloto de 34 anos. Só que, nestes casos, temos sempre que olhar as entrelinhas. Pérez traz patrocinadores importantes para o time, com a empresa de telefonia América Móvil (com as marcas Telcel e Claro) e a seguradora Inter.MX. Isso sem falar nos parceiros pessoais do piloto, como o banco Banorte, a gigante do ramo alimentício Nestlé e a Secretaria de Turismo do estado onde nasceu: Jalisco, no México.

Em termos comerciais, não é só isso. Pérez traz impactos ainda maiores no lado financeiro para a RBR. O México é o destino de quase 65% de todas as vendas de mercadorias online no site oficial da equipe austríaca. Além disso, o país da América do Norte está entre os dez maiores mercados mundiais da marca de energéticos dona da equipe de Fórmula 1, a Red Bull. E os números estão em franco crescimento. Para completar, Pérez também impactou as vendas da bebida nos Estados Unidos, país com uma enorme população latina, com origem principalmente no México. Os motivos comerciais são extremamente plausíveis para a permanência do piloto mexicano na equipe. Mas não é só isso.

Na Fórmula 1, Sergio Pérez é um dos maiores ídolos do esporte mexicano na atualidade — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Pensando no futuro da RBR, a permanência de Pérez indica mais coisas. O novo contrato do mexicano será válido até o fim de 2026, primeiro ano do novo regulamento técnico da categoria. Estabilidade é importante para uma estrutura tão grande quanto a da equipe austríaca. Por isso, ter ao menos um piloto com experiência e conhecimento do time será importante na transição para as novas regras da Fórmula 1. Ainda mais com a chegada de um novo fornecedor de motores: a gigante americana Ford, que batizará a primeira unidade de potência inteiramente concebida pela Red Bull Powertrains. Uma parceria extremamente promissora, mas que pode ter percalços normais nas primeiras temporadas.

Só que a permanência de Pérez por dois anos pode significar uma saída muito importante. Luciano Burti e eu conversamos sobre esse tema na edição desta semana do podcast #NaPontadosDedos. A busca pela estabilidade do mexicano deve significar a saída do holandês Max Verstappen no fim de 2025. Tudo porque a crise política do início de 2024 causada pela denúncia do caso de assédio cometido pelo chefe Christian Horner ainda traz consequências pesadas para o ambiente da RBR.

NA PONTA DOS DEDOS: Rafael Lopes, Luciano Burti fazem a prévia do GP do Canadá

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O tricampeão e seu staff não ficaram felizes com o desenrolar do imbróglio e começaram a procurar uma nova equipe. Como não há uma vaga competitiva disponível para 2025 e o holandês não quer ficar cumprindo tabela na próxima temporada, a mudança vai ficar para 2026. E a Mercedes está na pole position para contar com os serviços de Max Verstappen, corrigindo assim o erro histórico do chefe Toto Wolff, que não quis apostar no piloto quando ele foi oferecido ao time alemão ainda nas categorias de base. Algo que atormenta o dirigente austríaco até hoje.

Por último, principalmente para quem chegou na Fórmula 1 recentemente, as decisões das equipes em relação ao futuro não envolvem apenas uma negociação ou a confirmação da dupla de pilotos que correrá por ela em uma temporada. Decisões comerciais são tomadas todos os dias, sobretudo com informações que ainda não são conhecidas publicamente. Em quase 100% do tempo, as entrelinhas são mais importantes do que os pontos que estão aparentes. É assim que a maior categoria do automobilismo funciona desde sua criação, nos anos 1950. O caso de Sergio Pérez é apenas mais um na história da F1.

Sergio Pérez acena para as arquibancadas lotadas no Autódromo Hermanos Rodríguez em 2023 — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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