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Por Rafael Lopes

Comentarista de automobilismo do Grupo Globo

Voando Baixo — Rio de Janeiro

Mark Thompson/Getty Images

A Fórmula 1 não é uma escola, mas o GP da França teve um clima de sala de aula neste domingo no Circuit Paul Ricard. Não entendeu? Eu explico. O que dizer da Ferrari, que está ensinando como perder as chances de disputar um campeonato em que tem claramente o melhor carro? E, por outro lado, como não exaltar Max Verstappen, que tem ministrado várias masterclasses de como ser consistente e se aproveitar das falhas alheias? A pequena cidade de Le Castellet assistiu a mais um período destas aulas. E pela sétima vez na temporada 2022, o holandês saiu de um fim de semana com uma vitória. Já são 63 pontos de vantagem sobre Charles Leclerc, que abandonou a corrida. O favoritismo de Verstappen e da Red Bull só aumenta. O bicampeonato parece ser apenas questão de tempo.

Rafael Lopes e Luciano Burti analisam o GP da França de Fórmula 1

Rafael Lopes e Luciano Burti analisam o GP da França de Fórmula 1

Tudo isso porque a Ferrari não dá a menor mostra de que irá reagir nesta temporada. Mesmo com o carro mais rápido do ano, a equipe italiana segue entregando pontos preciosos para os rivais. Neste domingo, tivemos algumas ocorrências graves no time de Mattia Binotto. E tudo começou na volta 17. Charles Leclerc liderava a corrida com folga, 10 segundos à frente de Lewis Hamilton e 27 à frente de Verstappen, que acabara de fazer seu pit stop. O monegasco forçava o ritmo para ter uma vantagem segura na hora de sua parada, quando escapou na curva Beausset, de raio longo, e bateu na barreira de pneus. Fim de prova e início da polêmica. Pelo rádio, Leclerc reclamou de um problema no acelerador, similar ao que teve há duas semanas em Spielberg. Nas entrevistas, admitiu o erro. E foi duro consigo mesmo, como é habitual.

O momento em que Charles Leclerc bateu seu carro na curva Beausset e abandonou o GP da França — Foto: Reprodução/Twitter

A polêmica foi exatamente este conflito de versões. No calor do momento, reclamou do acelerador. E Leclerc não costuma passar pano para seus próprios erros. Ao ouvir com atenção o áudio da câmera onboard do carro do monegasco, disponível na F1TV, dá para notar que o carro está levemente acelerado, com cara de falha eletrônica. Conhecendo a Ferrari, creio que houve aquela famosa orientação antes das entrevistas. Até porque um problema desse tipo no acelerador seria uma questão grave de segurança. Imagina um problema desses em um trecho de alta velocidade? Poderíamos ver um acidente realmente sério. Mas Leclerc assumiu a culpa. E esta é a versão oficial agora. E o jornalismo existe para questionarmos estas versões. Exatamente o que faço.

- Foi um erro. Não mereço vencer o campeonato fazendo isso
— Charles Leclerc, em entrevista à TV francesa Canal+.

Charles Leclerc bateu na curva Beausset e abandonou o GP da França, em Paul Ricard — Foto: Reprodução/Twitter

Verstappen e a Red Bull, que nada têm com isso, capitalizaram mais uma vez. O holandês fez uma corrida muito consistente, com um bom ritmo de corrida e assegurou mais 25 pontos. Para a equipe austríaca, entretanto, não dá para dizer que foi um domingo perfeito. Tudo porque o desempenho de Sergio Pérez foi abaixo da crítica. E tudo começou já na largada, quando perdeu a posição para Lewis Hamilton e, mesmo com um carro melhor, não conseguiu recuperá-la. Pelo contrário, foi amplamente superada pelo heptacampeão. Depois, já na parte final da corrida, comeu mosca no momento da relargada após o safety car virtual pelo abandono do chinês Zhou Guanyu, da Alfa Romeo. Ele quase perdeu a traseira antes da reta dos boxes e acabou superado por George Russell, o outro piloto da Mercedes. Um dia para o mexicano esquecer.

George Russell aproveitou um erro de Sergio Pérez e ganhou a terceira posição do GP da França — Foto: Peter J Fox/Getty Images

Como se não bastasse toda essa polêmica, ainda tivemos mais erros de estratégia com Carlos Sainz. Saindo de penúltimo após trocar vários componentes da unidade de potência, o espanhol fez uma corridaça dentro da pista. E que só foi atrapalhada pelas falhas da Ferrari. Primeiro, durante o período de safety car causado pelo acidente de Leclerc, a equipe italiana liberou o carro de Sainz de forma insegura, quase causando um acidente com Alexander Albon no pit lane. Punido com o acréscimo de cinco segundos, foi para o ataque e fez uma belíssima ultrapassagem sobre Sergio Pérez. Só que, durante a disputa, foi chamado aos boxes pela Ferrari. Timing completamente errado. E mais uma tática equivocada. Era caso de arriscar e tentar levar os pneus médios por mais dez voltas, até o fim da corrida. Uma potencial vaga no pódio para o espanhol se transformou em um decepcionante quinto lugar com a melhor volta. Mais pontos jogados na lata do lixo pela Ferrari.

O momento em que Carlos Sainz foi liberado de forma insegura após o primeiro pit stop na França — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Mercedes faz pódio duplo na França

No primeiro pódio juntos, Lewis Hamilton faz o "batismo" do companheiro George Russell na França — Foto: Dan Mullan/Getty Images

Se tem alguém que pode comemorar o resultado do GP da França é justamente a Mercedes. A equipe alemã conseguiu seu primeiro pódio duplo na temporada 2022. Lewis Hamilton foi o segundo - melhor posição do time no ano - e George Russell o terceiro. Mais importante: os problemas mais graves do W13, como o Efeito Golfinho e o bouncing, parecem ter ficado no passado. Os engenheiros agora, com 12 corridas de atraso, começam a fazer o refinamento aerodinâmico do modelo, que ainda sofre com o excesso de arrasto quando precisa usar asas maiores em circuitos com retas longas - caso de Paul Ricard. Mas o ritmo de corrida segue sendo o ponto forte. E em uma temporada recheada de quebras, a Mercedes só teve um abandono até agora: o acidente de Russell na largada de Silverstone. Confiabilidade em alta.

E para quem já dava Hamilton como "virtual aposentado", "superado", "fraude" e outras bobagens por aí, os últimos resultados têm sido uma bela de uma lição para os precipitados da internet. Já são quatro pódios seguidos: três terceiros lugares (Canadá, Inglaterra e Áustria) e o segundo lugar deste fim de semana. O heptacampeão foi parte essencial no trabalho de evolução do W13, quando se disponibilizou a testar peças diferentes durante as corridas para acelerar o processo de aquisição de dados para os engenheiros. A partir do momento em que teve um carro nas mesmas condições do companheiro Russell, Hamilton vem mostrando porque é o maior piloto da história da categoria. E reafirmando o porquê de a Mercedes tê-lo como líder. Está tirando o máximo de um carro que ainda não tem condições de lutar por vitórias.

Lewis Hamilton estabeleceu um ritmo forte e consistente, abrindo uma vantagem segura sobre Sergio Pérez — Foto: Dan Mullan/Getty Images

Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoria de Arte/GloboEsporte.com

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