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Por Felipe Santos e Gleudo Fonseca, TV Integração e ge Triângulo — Patrocínio, MG


Patrocinense é goleado pelo São José pela Série D

Patrocinense é goleado pelo São José pela Série D

O empresário Anderson Ibrahim, responsável pela Air Golden - empresa que administrava o Patrocinense nas primeiras rodadas da Série D do Brasileirão - disse à TV Integração que está com a "consciência tranquila" sobre a investigação da Polícia Federal por suspeita de manipulação de resultado.

À reportagem, Ibrahim justificou a derrota por 3 a 0 para a Inter de Limeira, que motivou a operação da PF, pelo grande número de desfalques do CAP no jogo. A partida é investigada por conta do alto volume de apostas feitas sobre o resultado do primeiro tempo, em que o time mineiro sofreu três gols.

O empresário ainda levantou suspeita de fraude sobre outro jogo, quando a empresa não estava mais na administração do clube: a derrota para o São José por 6 a 0, pela 8ª rodada da Série D. Na ocasião, a equipe paulista ainda não tinha vencido na competição e era lanterna do grupo A7: "Acredito que seja necessário explicar". Veja os gols do jogo no vídeo acima.

Anderson Ibrahin responsável pela empresa que administrava do clube — Foto: Whashington Prates

Time desfalcado

A partida contra a Inter de Limeira, disputada no dia 1º de junho, no Estádio Major Levy Sobrinho, em Limeira, foi a última de Anderson Ibrahim no comando do futebol do CAP. No jogo, Lucas Café, duas vezes, e Richard Bala, contra, marcaram os três gols do time paulista ainda no primeiro tempo.

Inter de Limeira 3 x 0 Patrocinense: veja os gols

Inter de Limeira 3 x 0 Patrocinense: veja os gols

Segundo a Polícia Federal, um relatório da Sportradar apontou o registro de um alto volume de apostas para que o CAP sofresse dois ou mais gols na etapa inicial, o que levantou suspeitas. Em entrevista à TV Integração na quarta-feira, o presidente do Patrocinense, Roberto Avatar, afirmou que também foi alertado por pessoas próximas sobre a chance de manipulação nessa partida.

Sobre o jogo investigado, Anderson disse à reportagem que o Patrocinense viajou para Limeira para enfrentar a Inter com o elenco desfalcado por causa de decisões tomadas pela diretoria do clube. Segundo ele, a situação justifica o resultado negativo, sobretudo, por enfrentar o então líder da chave, invicto e fora de casa.

Inter de Limeira 3x0 Patrocinense é investigado por possível manipulação — Foto: TV Integração/Reprodução

— Viajamos com 21 atletas, porém, quatro eram para entrar no BID [Boletim Informativo Diário] na sexta-feira. Estava tudo organizado e não teríamos um time desorganizado como foi. A diretoria sabia que ficaríamos desfalcados devido à decisão deles. Fomos para o jogo com seis atletas no banco, sendo três com lesão e sem goleiro reserva. O professor Estevam [Soares] teve que improvisar de última hora, atacante na lateral direita, lateral-esquerdo de zagueiro, centroavante e extremo. O que, ao meu ponto de vista, enfraqueceu nossa equipe. Lembrando que estávamos enfrentando o líder e invicto na nessa chave até então.

"Acredito que muitos esperavam uma derrota elástica, o que não aconteceu, mediante a tantos problemas extracampo. Nós da empresa temos a consciência tranquila, e acreditamos que não houve essa prática enquanto estivemos por lá", explicou.

"Necessário explicar"

São José x Patrocinense - Brasileiro Série D — Foto: Tião Martins/FI

Anderson, no entanto, coloca outro jogo em suspeita também pelo Campeonato Brasileiro da Série D. Ele ressaltou que, mesmo com reforços, o Patrocinense foi goleado pelo São José, então lanterna do grupo A7, no dia 12 de junho. A partida ocorreu após o fim da parceria com a Air Golden, anunciada pelo Patrocinense no dia 2 de junho.

Nesse jogo, o São José, que não tinha vencido na competição, goleou por 6 a 0 e fez os primeiros três gols no primeiro tempo.

"O que eu acredito que seja necessário explicar, seria o placar de 6 a 0 que eles sofreram para a equipe do São José, até então último colocado sem nenhuma vitória. Já estavam com os 'reforços' que eles e novos parceiros que trouxeram ao CAP", disse.

Em nota enviada após a operação, a diretoria do Patrocinense negou envolvimento de qualquer membro atual da instituição com a possível manipulação de resultados, seja atleta ou diretor.

— Prontamente a nossa instituição atendeu todas as demandas solicitadas pelos agentes da Polícia Federal, no intuito de contribuir com as investigações. O Clube Atlético Patrocinense informa a todos que nenhum integrante da atual diretoria, da comissão técnica atual e nenhum atleta pertencente ao atual elenco do clube possui qualquer envolvimento com o processo citado acima, tendo todos os seus vínculos profissionais preservados com a instituição.

Parceria rompida

A parceria do Patrocinense com a Air Golden começou em abril e previa ceder a gestão do futebol à empresa para a disputa da Série D. O acordo ocorreu após o CAP desistir da repescagem do Campeonato Mineiro alegando problemas financeiros.

Entre os nomes levados para o clube por Ibrahim, estavam o atacante Thiago Ribeiro, ex-Cruzeiro, e o técnico Estevam Soares, ex-Palmeiras e Botafogo. Soares está entre os investigados da operação e se disse "surpreso" com a ação da PF.

Roberto Avatar, presidente do Patrocinense — Foto: TV Integração/Reprodução

Um dia depois da derrota para a Inter, que manteve o Patrocinense na lanterna do Grupo A7 da Série D, o Patrocinense encerrou a parceria com a Air Golden e disse que Anderson Ibrahin não respondia mais pelo clube. No mesmo dia, Estevam Soares foi demitido, e alguns jogadores foram desligados.

Na época, o clube informou que a decisão foi tomada pelo "mal desempenho da equipe no Campeonato Brasileiro da Série D". O time também tinha problemas com salários atrasados, e alguns jogadores entraram em greve nos dias anteriores à partida.

Sobre o fim da parceria, Anderson afirmou que ficou surpreso com a decisão do clube e afirmou que acionaria o clube na Justiça por quebra de contato.

— Tivemos várias reuniões, buscamos alinhar ideias, mas pedimos que o CAP também cumprisse com suas obrigações contratuais, o que não vinha acontecendo. No dia 31 de maio, a empresa notificou o clube de forma extrajudicial pedindo que colocassem em ordem as devidas obrigações e que respeitassem as cláusulas do contrato.

"Porém, a atual diretoria vinha barrando decisões, interferindo em escalações e travando regularização de reforços, o que nos fez ter um time desfalcado para o confronto diante da Inter de Limeira", explicou.

Operação na sede

Segundo a Polícia Federal, a investigação teve início por meio de ofício da CBF, que encaminhou à PF um relatório da Sportradar, empresa especializada na detecção de fraudes relacionadas a apostas e identificação de manipulação de resultados esportivo.

O documento reportou que os apostadores detinham conhecimento prévio de que determinada equipe viria a perder o primeiro tempo da partida por ao menos dois gols. De acordo com a empresa, 99% da tentativa da rotatividade no mercado de “totais de gols do primeiro tempo” nesta partida foi para tal resultado.

Na quarta-feira, a PF deflagrou a operação "Jogo Limpo" e cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça do Estado de São Paulo, nas cidades de Patrocínio, São José do Rio Preto-SP, São Paulo, Rio de Janeiro, Tanguá-RJ e Nova Friburgo-RJ.

A sede do Patrocinense foi um dos locais investigados. Os policiais apreenderam uma cópia do antigo contrato firmado pelo CAP com a empresa Air Golden e outro documento que notificava a empresa sobre o fim da parceria, enviado um dia após a partida contra a Inter de Limeira.

Polícia Federal investiga jogo do Patrocinense por manipulação de resultados — Foto: Polícia Federal/Divulgação

À TV Integração, o diretor de futebol do Patrocinense, Tiago Luiz Pires, que assumiu o cargo após o término da parceria com a Air Golden, afirmou que o clube colabora com as investigações.

— A gente nunca quer passar por um cenário como esse, que é desagradável, desconfortante. Mas prontamente atendemos a Polícia Federal. Apresentamos os documentos solicitados e fomos ouvidos pelo delegado. Vamos conduzir da melhor forma possível para ajudar com a investigação.

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