Longe do Rio de Janeiro, é no interior de São Paulo que ela dedica boa parte da sua rotina ao sonho de se consolidar como uma amazona e disputar uma Olimpíada (a localização exata não foi citada a pedido dela).

A paixão pela montaria começou ainda na infância no contato com cavalos no haras da família, que entre outros negócios, trabalhava na criação dos animais. Com isso, Shanna desenvolveu boa técnica e venceu diversas competições juvenis de hipismo, participando, inclusive, da seletiva para os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007.

– Hoje sou amadora, acho que tenho que me dedicar e montar mais para voltar a ser profissional. Mas acho que estou no caminho – disse Shanna, que atendeu o ge por mais de duas horas na hípica onde treina diariamente.

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Com o passar do tempo, Shanna acabou se distanciando do esporte por seis anos, sem sequer ter contato com a montaria. Nos últimos anos, porém, o retorno ao hipismo passou a ser uma terapia para minimizar os problemas pessoais.

– Eu sempre montei cavalos, meu pai sempre comprou cavalos já experientes. Consegui fazer todas as categorias de base, toda essa questão de formação de cavaleiro. Realmente parei por uns seis, sete anos até por causa dos filhos, dos negócios, enfim. E voltei tem dois para três anos. É difícil entrar em forma de novo, é difícil.

– Como um esporte qualquer, você tem que ter toda a dedicação, tem que gostar. Hoje, graças a Deus, a gente tem toda a estrutura e já chega aqui com tudo pronto. Então isso acho que é um ponto positivo. Mas é igual a qualquer esporte, tem que ter dedicação, tem que gostar, tem que se dedicar – disse a amazona e empresária, de 38 anos.

Shanna é neta de Miro Garcia e filha de Waldomiro Paes Garcia, o Maninho – chamado de “Rei do Rio” e considerado um dos chefes lendários do Jogo do Bicho no passado –, que acabou assassinado em 2004 em crime motivado pelas disputas de pontos entre grupos distintos que controlavam o jogo. Ela ficou conhecida com a repercussão da série documental “Vale o Escrito”, lançada pelo globoplay em 2023 e que revelou os bastidores da contravenção no Rio de Janeiro.

Shanna viu, além do pai, o marido, em 2011, e o irmão, em 2017, serem assassinados em crimes associados ao Jogo do Bicho. Também em 2011, teve a prisão decretada após acusação de participar da morte do tio, em 2009 - ela seria excluída do processo pouco depois. Em 2019, foi vítima de um atentado, sendo baleada no pulso e tórax, mas conseguiu sobreviver.

Ela ainda tem uma irmã gêmea, Tamara Garcia, com quem não tem boa relação por causa de divergências relacionadas à herança deixada pelo pai. Ambas trocaram acusações em depoimentos dados a “Vale o Escrito”.

Shanna se destacou na série pelos relatos fortes e foi considerada protagonista, ganhando seguidores nas redes sociais e despertando o interesse das pessoas em torno da sua vida pessoal.

Longe da badalação de grandes cidades e da fama que tem no Rio de Janeiro, Shanna vive rotina pacata e discreta em uma cidade do interior paulista, de nome não revelado a pedido da própria. Diariamente, além de tarefas domésticas e de levar os filhos até a escola, ela ajuda a cuidar dos cavalos e aprimorar as técnicas para evoluir como atleta.

– Muita gente me pergunta como estou agora famosa. Não consigo enxergar assim, não consegui ver. Não vou dizer que nada mudou, mas o dia a dia está tudo igual. Estão me reconhecendo, na padaria, na hípica pedem para tirar foto, em shows que vou, na rua tem sempre alguém falando da história, que gostou e acho que o que mais ouço é que me acharam muito sincera e me viram ali com verdade. Essa foi a parte boa de ter contado a história, muita gente não tinha noção do que passei, a história da família e isso tudo.

A personalidade que ficou conhecida pela sinceridade em abordar temas polêmicos é a mesma para se autoavaliar como amazona.

Shanna tem investido em cavalos, mas muito aquém do necessário para se tornar uma amazona de elite. Cavalos de alta performance podem custar mais de R$ 2 milhões.

Shanna Garcia acredita que precisa se dedicar mais e ter uma preparação ainda maior para conseguir atingir os níveis desejados no hipismo. Na semana que antecedeu a reportagem, a amazona participou de uma competição na qual ficou em quinto e sexto lugares em dias distintos de disputas em provas de salto de 1,20m.

– Eu acho que preciso de um pouquinho mais de dedicação e montar mais cavalos por dia, porque querendo ou não, eu estou com um, dois cavalos aqui que monto, trabalho. Acho que para entrar em forma preciso saltar mais cavalos, montar mais, trabalhar, vir trabalhar sem estribo, trotar, galopar, acho que ainda falta um pouquinho dessa dedicação.

Atualmente, Shanna mantém quatro cavalos. Dois deles ficam em Minas Gerais e ainda são considerados jovens, sendo trabalhados desde o início para atingirem a maturidade necessária para poderem participar de competições.

Os outros dois são diariamente cuidados e treinados por Shanna e sua equipe, que é formada por dois cuidadores e outras pessoas que auxiliam no suporte aos animais. O custo mensal varia entre R$ 3,5 e R$ 5 mil por cavalo.

– Como um esporte qualquer, você tem que ter toda a dedicação, você tem que gostar. Hoje, graças a Deus, a gente tem toda a estrutura e já chega aqui com tudo pronto. Então isso acho que é um ponto positivo.

Aos 38 anos, Shanna Garcia admite que realizar o sonho de disputar uma Olimpíada representando o Brasil no hipismo é uma missão que vai muito além do seu próprio esforço: o esporte elitizado pelo alto custo que envolve a compra e manutenção de bons cavalos restringe a revelação de novos talentos.

– Todos os cavaleiros que estão fazendo parte da equipe olímpica estão radicados na Europa, montando na Europa. Possuem condições, patrocinadores... hoje acho que o sonho de qualquer atleta é saltar uma Olimpíada, mas hoje não tenho um cavalo desse nível, não tenho condições de ir para a Europa, ficar uma temporada fazendo prova na Europa, e acho que o principal é o cavalo, né? Não tenho esse cavalo hoje, não sei se de repente amanhã vai aparecer ou o meu mesmo que estou fazendo pode chegar nesse nível aí, mas acho que ainda é um plano mais para frente – disse.

Shanna Garcia almeja ter patrocinadores ou criadores de cavalos dispostos a lhe cederem animais de maior competitividade.

Quando Shanna menciona que não possui um cavalo de nível para buscar uma vaga olímpica, ela tem razão. Em média, cavalos de alta performance e que poderiam levar um atleta para as Olimpíadas podem custar até mais de R$ 5 milhões. Com um investimento alto, mas bem menor do que isso, o sonho de Shanna esbarra na falta de patrocinadores.

– Hoje em dia esses cavaleiros também contam, não só com sucesso, com a performance, com a dedicação deles, mas eles também contam com patrocinadores, e eu acho que isso é muito importante para o nosso esporte.

Mas, afinal, quais as chances de Shanna Garcia representar o Brasil nos Jogos Olímpicos?

Atualmente, Shanna compete em provas de salto entre 1,20m e 1,40m. As provas de percurso que credenciam atletas para as Olimpíadas começam em barreiras de 1,60m. Por isso, neste momento, ela teria de aumentar o desempenho para figurar entre os principais concorrentes e um dia poder participar de competições de alto nível, como Jogos Pan-Americanos e Olímpicos, por exemplo.

– Para melhorar bastante não basta só ela treinar. Ela precisa ter cavalos muito bons. E cavalos muito bons são cavalos muito caros. Claro que aqui no Brasil a gente tem algumas montarias boas, proprietários que querem mostrar as suas montarias para os outros. Então às vezes contratam amazonas e cavaleiros, então é uma possibilidade também. Mas a verdade é que atualmente, a seleção brasileira praticamente inteira é composta por atletas que moram fora, na Europa ou nos Estados Unidos, porque lá que estão as competições, lá que estão os melhores cavalos.

– Não vou descartar a Shanna na Olimpíada, claro que não, ela tem muita capacidade. Mas para conseguir, no próximo ciclo, ou ela tem que ir para fora ou melhorar muito o cavalo dela, porque o nível é muito mais acima do que saltar 1,20m e 1,30m. Mas na habilidade está tudo certo, eu acho que dá para sonhar em ir para a Olimpíada, ela tem uma experiência no hipismo, ela sabe montar. Mas o degrau é muito alto – disse Guilherme Costa, repórter do ge especialista em esportes olímpicos.

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Ainda criança, Shanna teve grande desempenho em competições importantes no circuito brasileiro. Entre os principais resultados, ela foi uma das representantes brasileiras no Mundial Mirim, além de vice-campeã brasileira por equipes, vice-campeã estadual mirim, além de um terceiro lugar no estadual de amazonas e no Brasileiro infantil.

Os principais cavaleiros e amazonas brasileiros vivem na Europa. Shanna não descarta mudar de país.

Shanna também foi campeã amadora da série Amazonas e Internacional da Juventude, ambos em saltos de 1,20m, além de ter obtido resultados importantes no Campeonato Brasileiro de Amazonas e em concursos de salto da Sociedade Hípica Paulista.

Shanna Garcia fez uma revelação inusitada: assistiu aos dois primeiros episódios de “Vale o Escrito”, chorou muito e nunca mais conseguiu retomar a série, que tem sete episódios em sua primeira temporada.

– Não terminei de assistir, confesso que assisti ao primeiro e segundo capítulos, chorei muito, me emocionei muito, aí parei, fiquei uma semana sem ver e aí eu voltei a assistir. Mas não consegui terminar ainda.

A visita ao passado de dramas familiares, inúmeras perdas e um momento conturbado na vida pessoal foram os motivos para que Shanna optasse em não ver mais boa parte da história contada por meio de depoimentos e imagens da época.

– Desde que sentei aqui na pista pra dar entrevista, não imaginei que fosse ter uma repercussão, graças a Deus, que boa. Acho que muita gente acreditou muito na minha sinceridade, a questão do esporte também ajudou bastante.

– Às vezes quando sou reconhecida em algum lugar, muita gente pede pra tirar foto. As pessoas ainda não acreditam que me encontram em algum lugar, ficam meio surpresas, mas tá sendo positivo – finalizou Shanna Garcia, que se despediu da reportagem e rapidamente voltou para a hípica, para cuidar dos seus cavalos e manter o sonho de fazer mais sucesso, agora no esporte.