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Por Luiz Nascimento* — São Paulo


A Portuguesa se livrou de mais um leilão que colocava em risco o estádio do Canindé. Nesta quinta-feira, terminou sem lances um pregão que estava aberto desde o dia 15 de abril. Não houve interessados em arrematar a área, localizada na Zona Norte de São Paulo.

O terreno que pertence à Lusa, e que abriga tanto o clube social quanto o estádio, tem 42 mil metros quadrados. O valor inicial do leilão era de R$ 163 milhões. Como não surgiram lances na primeira rodada, o valor chegou a ser derrubado para R$ 98 milhões.

Há ao menos três motivos para que esse terceiro leilão tenha terminado sem comprador. Um deles é que metade do estádio do Canindé está construída nesse terreno, que pertence à Portuguesa, mas a outra metade está em um terreno que é concessão da prefeitura.

Estádio do Canindé, em São Paulo — Foto: Cristiano Fukuyama

Ou seja, quem arrematasse a área só poderia demolir metade do estádio. A não ser que o comprador fizesse um acordo com a prefeitura de São Paulo para a compra da faixa de terreno que é pública. Isso exige uma negociação ampla e burocrática.

Na época em que o estádio foi construído, entre as décadas de 1960 e 1970, falava-se no clube que a tática era erguer as arquibancadas nos dois terrenos para evitar que a prefeitura de São Paulo reivindicasse a área concedida no futuro. Hoje, a tática salvou de um risco diferente.

Outro fator foi o pedido de tombamento do estádio como patrimônio histórico. A torcida já fez a solicitação tanto ao Condephaat, que é o órgão de preservação do governo estadual, quanto ao Conpresp, que é o órgão de preservação ligado à prefeitura.

Caso um desses órgãos aceite estudar o tombamento, tudo que está construído na área fica preservado e não pode ser modificado até que o processo termine. Essa preservação impediria que uma construtora, por exemplo, começasse um empreendimento no local.

E um terceiro motivo foi uma ação da própria diretoria da Portuguesa pedindo a anulação do leilão, justamente alegando que o estádio é alvo de um pedido de tombamento. Esse motivo, no entanto, é mais frágil. Afinal, Conpresp e Condephaat ainda não abriram o estudo.

Fato é que a Portuguesa se livrou pela terceira vez de perder o terreno. Uma delas numa ação trabalhista com ex-atletas, outra com ex-dirigentes que se declaram credores e agora a um ex-gerente de futebol que reivindica participação na negociação de um jogador.

Estádio do Canindé, em São Paulo — Foto: Reprodução

O clube, porém, continua refém. Afinal, não tem conseguido pagar dívidas em condenações judiciais e muito menos impedir que os leilões aconteçam. A Lusa tem mesmo é contado com fatores externos, e com a sorte, para não perder o clube social e o estádio.

Há o risco de o Canindé ser alvo de mais leilões em breve. Todas as iniciativas têm sido paliativas e a única que realmente tem intimidado é o fato de parte do terreno ser uma concessão da prefeitura. Ou seja, a torcida continua a ser para que nenhum interessado feche acordo com a administração municipal. Mais um leilão se foi, mas o medo continua.

*Luiz Nascimento, 26, é jornalista, chefe de reportagem da Rádio CBN, editor/diretor do Acervo da Bola e blogueiro da Portuguesa por 10 anos, quatro deles no GloboEsporte.com. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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