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Por Luiz Nascimento* — São Paulo


A torcida da Portuguesa matou a saudade de casa neste fim de semana. Depois de longos 112 dias, intervalo entre o fim do Paulistão e o início da Copa Paulista, a equipe enfim voltou a campo no Canindé. O jogo do regresso, porém, foi oposto à última partida em casa.

A heroica vitória por 1 a 0 sobre o Mirassol, na penúltima rodada da primeira fase do Paulistão, que garantiu ao clube a permanência na elite estadual e a vaga na Série D do Campeonato Brasileiro de 2025, havia sido a última disputa da Lusa no estádio.

Aquele turbilhão de emoções, provocado pelo gol salvador do atacante Maceió, em nada se pareceu com a volta à casa rubro-verde neste sábado (22). O jogo diante do Oeste, pela segunda rodada da Copa Paulista, foi marcado por um certo tédio, até uma certa sonolência.

Portuguesa x Oeste — Foto: Dorival Rosa / Portuguesa

O cenário projetado antes do apito inicial se confirmou. A equipe rubro-negra, que já foi de Itápolis e há alguns anos está sediada em Barueri, foi ao Canindé com uma postura clara: fechar-se na defesa, dar o mínimo espaço possível e, quem sabe, explorar o contragolpe.

A Portuguesa, portanto, encararia um panorama totalmente diferente daquele da estreia. O empate por 1 a 1 na Rua Javari aconteceu diante de um Juventus que, jogando sob os próprios domínios, tomou a iniciativa a todo momento, saiu de trás, tentou criar, arriscou a gol.

Como dito neste espaço de opinião na última semana, a partida diante do Oeste seria importante para a avaliação desse elenco, já que a Lusa seria submetida a um cenário totalmente diferente. E, no fim, o desempenho diante de uma retranca acabou sendo de muita dificuldade.

A escalação inicial reservava uma única mudança, mas que poderia ser favorável. O atacante Maceió, recuperado de lesão no tornozelo, conseguiria estrear na Copa Paulista. O camisa 19 aparecia na vaga do panamenho Kadir, que de última hora jogou contra o Juventus.

São dois atletas de características distintas. Kadir é centroavante de referência, trombador, fazedor de pivô, mais fixo. Maceió é atacante de velocidade e mobilidade, de buscar a bola, de carrega-la e entrar em diagonal, de voltar para marcar. Um ataque, portanto, mais dinâmico.

A Portuguesa foi a campo com Rafael Pascoal no gol, Talles na lateral direita e Pedro Henrique na lateral esquerda. Hudson e Denis formaram a dupla de volantes, com Guilherme Portuga vestindo a camisa 10. Na frente, ao lado de Maceió, estavam Leandro e Fabrício.

Os cinco primeiros minutos de jogo já davam a letra do que seria a partida. O que se via era um Oeste fechado, rifando bola, sem grande pretensão de explorar o contra-ataque, em alguns momentos quase sem deixar um único atacante mais avançado para uma descida a frente.

Portuguesa x Oeste — Foto: Dorival Rosa / Portuguesa

Do outro lado, uma Lusa que tinha ampla posse de bola e a rodava de pé em pé, mas sem encontrar espaços, sem conseguir quebrar as linhas de defesa. Tentava pelas beiradas, sem sucesso. Tentava pelo meio, sem sucesso. Tentava ligação direta, sem sucesso.

Faltava à Portuguesa mais velocidade e intensidade na troca de passes, movimentação dos homens de frente, alternâncias de posição mais rápidas. Até houve alternâncias entre Leandro, Fabrício, Maceió e Portuga. Este último, por exemplo, ora foi meia, ora foi atacante.

Talles e Pedro Henrique, em certa altura, apareciam quase como alas. Só que nada fazia a bola chegar à cara do gol. Raramente se chegava à área rubro-negra, na verdade. Os poucos momentos de perigo – se é que se pode usar essa expressão – foram em chutes a longa distância, pouco utilizados. Os poucos – também é preciso reconhecer – com quase nenhuma pontaria.

Conforme o tempo foi passando, sobretudo com a chegada do segundo tempo, começaram a surgir tentativas isoladas e individuais de resolver. Foram vários os exemplos de jogadores que carregavam demais, não passavam a um adversário livre, tentavam chutar em vez de tocar.

O coletivo foi dando lugar à individualidade, mas no sentido negativo da palavra. Se pela ansiedade ou pela ambição de mostrar futebol, não ajudou. Nem mesmo as substituições feitas pelo técnico Alan Dotti interromperam os bocejos da torcida na arquibancada.

Portuguesa abre as portas do Canindé para o Globo Esporte

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Diogo Crispim no lugar de Denis. Kadir no lugar de Leandro. Renan Nunes no lugar de Portuga. Sciencia no lugar de Talles. Deivid no lugar de Fabrício. Quase todas mudanças nas mesmas posições, sem alterar o esquema tático. Até porque há pouca opção no banco de reservas.

Vale lembrar que a Lusa promoveu praticamente todo o elenco titular do sub-20 do ano passado e tem como suplentes destaques do atual sub-20. São raras as exceções, como o goleiro Rafael Pascoal, o zagueiro Marco, o volante Hudson e o único reforço a jogar até aqui, Portuga.

Apesar de ter a bola durante os 90 e poucos minutos e buscar o gol muito mais do que o Oeste, o empate por 0 a 0 não foi injusto. A equipe de Barueri, no segundo tempo, até se soltou um pouco mais. Mas nada demais. Quem viu a partida custa a lembrar de chances de gol.

Se compararmos as reações da torcida ao sair da Rua Javari e ao sair do Canindé teremos dois exemplos totalmente distintos. Na primeira, uma esperança de um elenco mais competitivo do que se imaginava. Na segunda, um temor de que não seja suficiente para brigar de fato.

Há, claro, aqueles que saíram eufóricos de um e revoltados de outro. Sempre há. Mas é preciso ter pés no chão e cabeça no lugar. Qualquer análise tem de considerar o contexto. Essa é uma Copa Paulista disputada já com a vaga na Série D garantida, com grana curta e base sub-20.

Estádio do Canindé, da Portuguesa — Foto: Dorival Rosa/Portuguesa

Quantos atletas de um elenco sub-20 costumam de fato se firmar no profissional? Não é nenhum espanto isso acontecer, infelizmente. Ainda assim, algumas análises são precipitadas. São jovens, precisam de tempo e casca, e essa competição é ideal para essa lapidação.

Vai dando a impressão de que, pelas características desse elenco, a Lusa tende a jogar melhor fora de casa, diante de equipes mais propositivas, do que no Canindé, diante de adversários fechados. E fica evidente algo já previsto: faltam peças de reposição, se não mais qualificadas, que sejam capazes de mudar o panorama do jogo. Alterar a forma de a equipe atuar.

A chegada de reforços não é algo que se espera tanto no atual contexto. A ideia de gastar o mínimo possível neste restante de 2024 para focar tudo e mais um pouco em 2025 é correta. Rasgar dinheiro agora seria irresponsável. A próxima temporada tem de ser o real foco.

Mas, mesmo diante dessa realidade financeira desafiadora, será que uma boa análise de mercado não é capaz de trazer ao menos uma peça diferente para o setor ofensivo? Poderia fazer a diferença. De todo modo, foram apenas duas rodadas e ainda há margem de crescimento. Há pontos, nesse grupo atual, a serem corrigidos, trabalhados, aprimorados. Dotti sabe disso.

Trabalhar base é assim. Contudo, mesmo o mais ponderado e consciente lusitano esperava mais bola. Muitos saíram do Canindé na certeza de que, sem companhia para conversar, seria difícil conter o cochilo. Aliás, dessa vez o que valeu mesmo foi matar a saudade: dos amigos, do clube, do estádio, de casa. A saudade da bola e da rede balançando, porém, continua.

*Luiz Nascimento, 31, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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