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Por Marcello Neves — Rio de Janeiro


Mário Bittencout comenta sobre a renovação do contrato de Diniz 33 dias antes da demissão

Mário Bittencout comenta sobre a renovação do contrato de Diniz 33 dias antes da demissão

O presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, deu entrevista no CT do clube nesta terça-feira, um dia depois da demissão do treinador Fernando Diniz. A coletiva durou 2 horas e 17 minutos.

O dirigente explicou por que demitiu o técnico pouco mais de um mês depois de o Fluminense ter anunciado a renovação do contrato de Diniz até o fim de 2025. Mário citou a queda de rendimento do time em 2024 e revelou que negociou uma redução na multa que o clube terá que pagar ao treinador - inicialmente, o valor estava entre R$ 6 milhões e R$ 7 milhões.

- A extensão do contrato foi baseada na tentativa de dar longevidade ao trabalho dos treinadores do Fluminense. Prova disso é que o Fernando é o treinador mais longevo do Fluminense no século 21. Nessa renovação, eu fiz a extensão até o final do meu mandato, sendo que eu poderia estender até meados de 2026. Acreditávamos que retomaríamos a performance e os resultados. Porque não estávamos tendo a performance, já eram seis meses tentando, e conversávamos com o Fernando.

- A gente estava tentando encontrar o caminho, mas não há nada mais importante do que o Fluminense. Foi uma decisão consensual. Precisamos encontrar caminhos de voltar a vencer, para a torcida parar de sofrer. O rompimento foi doloroso, mas a vida é feita disso, e isso não significa que não vamos retomar a relação com o Fernando lá na frente. Deu certo, foram dois anos e dois meses de muito sucesso. Quando discutimos a saída, negociamos um acordo de redução e parcelamento da multa - disse Mário.

Mário Bittencourt comenta despedida de Diniz: "Uma das cenas mais bonitas que vi no futebol" -

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O presidente contou como foi a despedida de Diniz, para ele um dos momentos mais emocionantes que viveu no Fluminense nos últimos anos.

- A gente construiu essa relação. A gente deu o mesmo abraço que em 2019, talvez com outra carga emocional. Choramos muito. Resolvemos a parte burocrática que ficou boa para todo mundo e ele pediu para se despedir de todos.

- Eu participei e vi uma das cenas mais bonitas que vi no futebol, com jogadores renomados e os que estão começando chorando. O choro foi muito de que a gente sabe que deu muito certo, a gente queria, mas não estava dando. Foi um momento muito lindo. A partir de hoje, a gente tem que virar a página para voltar a ganhar jogo.

Mário lembrou também como foi a demissão do treinador em 2019, na primeira passagem pelo Tricolor, e contou uma cena inusitada que ocorreu no hotel onde os dois conversaram na ocasião.

- Em 2019, quando fui falar com ele no hotel, o Angioni se emocionou muito e foi para casa. Fernando e eu ficamos nos olhando, em algum momento ele falou para eu levantar e disse: "Você vai ter muito sucesso no Fluminense". A gente se abraçou e ficou uns 15 minutos abraçados, chorando, sem falar nada um para o outro. Depois ele me ligou e contou que naquele dia tinha uma senhora sentada no lobby do hotel: "Depois que você foi embora, ela me abraçou e disse que tinha achado aquela cena uma das mais bonitas que já tinha visto".

- Era uma mulher que trabalhava na ONU, muito respeitada profissionalmente, que trabalha com causas importantes pelo mundo. Disse que sentiu uma energia boa naquele abraço e que ele ia gerar coisas boas para o futuro. Falou para ele que tirou uma foto daquele momento e os dois ficaram amigos. Ela perguntou o que tinha acontecido e ele disse que tinha acabado de ser demitido por mim. Ela pediu para usar aquele exemplo nas palestras dela pelo mundo.

Mário Bittencourt revelou os planos para o comando do Fluminense sem Diniz. O presidente disse que pretende manter o auxiliar Marcão como técnico interino até o fim da temporada.

- Até o dia de hoje não pensamos em treinador, não conversamos com staff nenhum. A gente tem nossa filosofia de trabalho para deixar as pessoas aqui em paz. A tendência é que o Marcão siga até o final da temporada.

Mais declarações de Mário:

Torcida

- Sei que o torcedor está sangrando, que está pedindo promoção (de ingressos). Para o jogo de quinta, eu não consigo. Mas estou prometendo para o jogo contra o Inter. O time está precisando de ajuda, de carinho. Eles estão se dedicando demais. O nosso choro ontem não foi só porque a gente se despediu, mas porque sabemos que não estamos entregando o que o torcedor merece.

Estilo do time e elenco

- A gente monta elenco de acordo com o treinador. Por isso, a gente tenta manter o maior tempo possível. A maioria dos jogadores termina contrato no final de 24 ou 25. Nenhuma decisão é tomada assim: "Eu quero esse jogador". O time foi montado com a indicação ou a aceitação do treinador. Agora não adianta olhar a sequência de derrotas e achar que o trabalho não foi bem feito. Ganhamos uma Libertadores e a Recopa. Nenhum time é vitalício. Uma das ideias de manter o Marcão são as peças que ele já conhece. Se ele quiser jogar de outra forma, ele conhece as outras peças. Não significa que vai dar certo sempre, mas a gente tem que minimizar as chances de dar errado. Tem um cara (Marcão) aqui dentro que conhece os 35 jogadores.

Desfalques

- A dificuldade que estamos passando faz parte de um conjunto. Não é um fator que fez o Fluminense jogar mal. Estamos há seis meses procurando o que está nos atrapalhando. Tivemos um mês a menos, lesões. Do Cano, do André. A maioria saiu por problemas que não foram musculares, foram de impacto. Só reclama de calendário quem está nas grandes competições. Nesse momento, temos um jogador importante na seleção da Colômbia, o André machucado, o Thiago só vem quando abrir a janela. O time nunca teve força total nos últimos seis meses. Mas a gente acha que poderia estar melhor mesmo com todas essas dificuldades.

Mário diz não ter ofertas por André e Arias, mas não descarta saídas no Fluminense

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Reforços

- A gente está olhando o mercado. Hoje, não temos propostas por André e Arias. Às vezes, a proposta vem por três dias. Ano passado, o Arias recebeu uma proposta de um clube russo boa para o Fluminense, e o jogador não quis ir. Se chegar outra proposta que ele tenha o desejo de ir, o desejo do jogador normalmente prevalece. Vamos olhar a janela. Vai depender muito e, se não tivermos proposta por Arias e André, vamos ter o time da Libertadores com o Thiago Silva. Estamos atentos para procurar jogadores imaginando uma possível saída. É monitoramento. Mas a gente precisa esperar o baralho mexer. Este ano a tendência é que a gente venda o André. Conseguiríamos no mercado um substituto à altura? Talvez teria que gastar o mesmo valor, e isso não vamos fazer.

Queda de desempenho

- Todo ano após conquista é muito difícil para todos os clubes. É um dos fatores que fazem termos dificuldade para ir ao mercado. Quando o clube teve o maior investimento da história, brigou contra o rebaixamento. Há um relaxamento natural. Na estreia do Brasileiro, não tivemos muito público. Normal. As pessoas falam que 2023 acabou. A gente está tentando reencontrar o futebol. Isso trouxe uma pressão. Mais que ganhar, a gente precisa encantar. Mas a gente não precisa encantar, precisa ganhar. O que fez a diferença em 2013, 2019? A torcida. Por que a gente mexeu agora? Porque tem muito campeonato. A gente entendia que precisava mudar essa energia. A gente precisa ganhar jogo para voltar a 2023. Pode até ser este ano na Libertadores. Isso já aconteceu na história do clube há 20 anos.

Erros

- Não são erros propositais. São métodos que adotamos no início do ano. Não temos nada identificado. O fato de não ter tido pré-temporada não é que tenha sido um erro. Poderíamos ter esperado e não estreado contra o Bangu. A gente podia antes de tentar resgatar o jogo ter sido mais pragmático. As escolhas foram afetadas pelas contusões. Não é porque teve intransigência para aplicar método. A gente vinha tentando jogar como 2023 sem as condições de 2023. Aconteceram coisas que a gente poderia ter tomado decisões diferentes, pela fisiologia, comissão técnica, diretoria. Quando não ganha, isso afeta o ambiente. Jogador chora no vestiário. O Cano não vem fazendo gols, eu falo para minha filha que ano passado ele acertaria. Não é sorte. Mas tem um desgaste emocional. A gente entendeu que precisava de uma modificação no comando.

Pagamentos dos jogadores

- Salários e direitos de imagem estão em dia. Premiações da Libertadores, Brasileiro e Mundial estão pagas e da Recopa está paga a primeira parcela. Não é isso que faça diferença. Se tivesse três meses de salário atrasado, não é que o jogador esteja fazendo de propósito, mas ninguém gosta de jogar com salário atrasado. Várias coisas podem afetar a performance. Não tenho dúvida de que não tem sacanagem, ninguém está fazendo corpo mole.

Marlon e Marcelo

- A gente tem até dia 30 para decidir (se renova com Marlon). A gente está avaliando e vamos conversar com o novo momento. Com relação ao Marcelo, ele é um jogador especial. A gente tem uma cláusula de performance de renovação para que a gente possa avaliar. Ele pode não atingir a performance e a gente decidir que ele pode renovar. A tendência é que ele e o Thiago Silva encerrem a carreira aqui. O Marcelo diz que está melhor fisicamente hoje do que quando chegou. O campo está mostrando, como o Fábio também. Todos esses jogadores a gente não tem pressa de que saiam daqui. O Cruzeiro procurou o Fábio para ganhar mais, mas ele optou por ficar aqui. Tem uma história aqui.

Mario Bittencourt em entrevista coletiva nesta terça-feira — Foto: Reprodução: YouTube

Situação psicológica

- O clube tem um departamento que trabalha todos os dias. Falo dos jogadores para que olhem para eles como humanos. Temos jogadores passando por problemas com filho, com mãe, irmão, de saúde. Eles têm problemas como nós todos. Mas precisam entrar em campo e performar. Então além das partes técnicas e físicas, a gente achou que precisava de uma mexida. O Fernando tem uma maneira de comandar e o Marcão também tem um estilo de comandar também. São mudanças que a gente precisa fazer para tentar retomar a confiança.

Jogadores com idade avançada

- Não acho que é o fator principal. Os melhores jogadores estão ali entre 23 e 29 anos. Se você tiver dinheiro, vai comprar jogadores formados. Os que estão abaixo têm qualidade, mas sem experiências. Os mais velhos são experientes, mas podem ter problemas físicos. A gente sempre tem um terço da base no elenco profissional e com jogadores mais experientes. No fim do ano a gente vai fazer uma avaliação. A outra possibilidade são jogadores sem custos, mas vêm como apostas. Hoje nós temos qualidade, experiência e talvez não tenhamos tanta força. Em 21, a gente chegou à conclusão de que precisava de jogadores vencedores, como Fábio, Felipe Melo... Talvez ao fim da temporada e próximo do ano que vem a gente vá pensar que precisa trazer jogadores mais jovens.

Possibilidade de o Odair voltar

- Tem muitos treinadores de qualidade no Brasil. Os clubes funcionam como empresas, mesmo os que não são, e precisamos fazer mudanças para além de questões esportivas. Trabalhei com o Odair e acho que ele é muito bom. Foi auxiliar da Seleção, trabalha no mundo árabe com um dos maiores salários do mundo. É excelente como o Renato, como o Cuca, o Tite, o Vanderlei, o Mano. Todos em algum momento não conseguiram implementar o trabalho e saíram. É o ambiente do futebol brasileiro. Muita gente que estava criticando há seis meses ontem questionou a saída. É a cultura do futebol, se o time vai mal, há uma pressão gigantesca. Como não dá para tocar os jogadores, aí não tem jeito. O trabalho aqui é igual há cinco anos. A vida é igual quando perde e quando ganha. Na sexta passada saí com as minhas filhas e fui hostilizado. Não estou me vitimizando.

Decisão difícil

- A gente toma muitas decisões difíceis na vida. Quando a gente vende um jogador, não é uma decisão nossa. A gente sofre quando vê um menino formado aqui ir embora. Não é fácil demitir o treinador que ganhou a Libertadores, como torcedor. Não está tendo resultado, como gestor tenho que tomar decisão. A gente não toma decisão no vestiário. Me irrito como torcedor e aprendi a me controlar. Eu tenho que tomar decisões racionais. A minha noite foi muito ruim porque eu teria que tirar o treinador que me deu o título. O mais difícil não foi porque ele é meu amigo, foi porque eu ia mandar embora o treinador que deu o maior título. A gente sabe reconhecer. O Fluminense está acima de todos nós. Só no final do ano vamos saber se a gente acertou. Mas as decisões precisam ser tomadas.

Metas esportivas e projeções financeiras

- O orçamento é feito com projeções dos últimos anos. O investidor que compra um clube faz com base num histórico recente. Temos 2020, 21, 22 e 23 entre os sete melhores do Brasileiro. A projeção da Libertadores: fomos campeões ano passado, somos cabeças de chave, fizemos mais pontos do que ano passado, estamos nas oitavas e colocamos projeção na semi. Na Copa do Brasil, colocamos nas quartas. No Brasileiro, se ficarmos muito abaixo, pode trazer uma deficiência que terá de ser compensada com outras situações. Ano passado fizemos escolha de manter o André. Se não tivéssemos ganhado, nos daríamos mal duas vezes. Mas vencemos e o prêmio, mais sócio e outras receitas que cresceram compensaram o André. Esse ano, por exemplo, temos um patrocínio máximo três vezes maior. Se por acaso sentirmos que vai desorganizar, talvez a gente tenha que fazer mais uma venda.

Técnicos estrangeiros

- Eu tenho colombiano, argentino aqui. O que acho sobre treinador, vale a pena contratar se conhece o tipo de trabalho que ele fez. Você vai saber isso olhando o trabalho dele. O Botafogo tem um gestor de fora do Brasil e conhece o trabalho dos treinadores. Trouxe o Luis Castro que é um excelente treinador. O Vasco tirou um treinador com quatro rodadas e depois fiquei sabendo que ele começou em 2020. Treinador pouco experimentado. A outra coisa é que acho que o estrangeiro precisa de tempo porque pode ter choque com a cultura brasileira. Muitos deram certo e outros errado. Se um dia o Abel Ferreira não estiver no Palmeiras, gostaria dele aqui no Fluminense, é um treinador que pude avaliar. Como Vojvoda, Luis Castro... Conheço como lidam com o grupo. Tudo isso conta. As escolhas são pensadas num todo, no que a gente acha mais fácil de dar certo.

Mundial de 2025

- O que a gente pensava desde o início do ano era fazer um grande 2024. Neste momento, a missão é fazer o time ganhar no Brasileiro. Nossa missão é livrar o time da situação em que está e chegar forte no mata-mata, depois pensar no Mundial. A gente precisa salvar o momento. Voltar a ganhar, com a torcida no estádio e quem sabe chegar encorpado no mata-mata. Se a gente chegar lá em condições melhores no Brasileiro, com tudo confluindo, a gente começa a pensar em 2025.

Possibilidade de o Fluminense virar SAF

- Já falei algumas vezes que a gente tem um trabalho bem desenvolvido pelo BTG. Não era campanha, é um trabalho que leva tempo para fazer uma boa escolha. Estamos há um ano e meio nesse processo de buscar um investidor. Seguimos com o projeto. Deve acontecer ainda em 2024. Fazer uma boa gestão não é o modelo, é a gestão. Se for uma condição para o investidor que a gente tenha um modelo de SAF no qual ele possa ter garantias melhores de investir, a gente fará sem a venda do controle. Enquanto estiver aqui, a gente não tem interesse em vender o controle. Vasco, Botafogo e Cruzeiro venderam o controle. É uma fórmula. Se houver uma SAF aqui, é sem controle. O Fortaleza tem uma SAF que não vendeu o controle. A gente não acredita que vender o controle é o melhor modelo. Se for isso, vão ter grupos gerindo durante o período de investimento.

Mais sobre SAF e dívidas

- Vai ter sempre um prazo para começar e acabar. Pode ser renovado se quem estiver aqui quiser. Pode trocar o investidor, mas sem a venda do controle. Não existe solução para o pagamento da dívida. Hoje, a dívida está equacionada. Se fizermos o que estamos fazendo até daqui a 20 anos, um dia ela vai zerar. Eu disse que ia levar nove anos para se recuperar, depois disse sete. Tudo isso está acontecendo. A gente paga tudo em dia. Eu paguei R$ 200 milhões em cinco anos e a dívida continua no mesmo patamar. A gente equacionou o clube, equilibrou e conseguiu fazer um futebol de alto nível. Como a gente faz para tirar a dívida da frente? Trazendo um investidor. Na semana passada paguei acordos de jogadores que estiveram aqui em 2009. Todas as multas de treinadores que estiveram aqui, nós pagamos. O que precisamos fazer no futuro é que a gente mate a dívida.

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